sábado, 5 de maio de 2018

CARTA À GAROTA DA NOITE


3h09. Cheguei de uma noite ótima, com amigos e amigas queridos e debatemos muito sobre relacionamentos e sobre como seduzir uma garota. E como pôr tudo a perder. Isso me inspirou a escrever para você. É um passatempo divertido que me faz esquecer um pouco dos meus dilemas existenciais, que é sobre o que mais escrevo. É bom dar uma variada. Sobre como botar tudo a perder, entendi que tudo o que lhe enviei até agora foi perda de tempo. Não que isto também não seja. Mas como disse, passatempo. E escrever é o grande barato da minha vida. Empatado com amar (e ser amado, obviamente). Obviamente também não poderíamos estar mais distantes disso. Sou um sonhador realista. Hahaha. Talvez você me tenha por algum tipo de weirdo, o que não está muito distante da verdade. Um cara que passa os dias escrevendo e tendo extremo prazer com isso é algo sui generis. Mais sui generis ainda um cara que mal conhece você, ficar se dando ao trabalho de lhe escrever asneiras, quando já ficou claro que você, embora leia, não dê o mínimo valor ou ache ridículo e até estranho. Para tornar-me ainda mais weirdo, eu tenho um histórico de abuso de drogas. De toda forma, creio que poucos homens na sua vida se dispuseram a tanto recebendo em troca tão pouco. Como disse, me diverte escrever para uma pessoa que acho encantadora e que eu acredito que tenha algo na cabeça. Não é apenas um patricinha desmiolada. Mas uma coisa eu aprendi hoje, e que foi muito ressaltada, é que não devo colocar você – ou mulher nenhuma por quem venha me interessar – em um pedestal. Você come, anda e caga como eu. E pensa, apesar de aparentemente bem diferente de mim. De toda sorte, somos dois seres humanos adultos, logo bastante semelhantes. Estranho seria eu me encantar por uma mariposa, o que de fato aconteceu hoje no final do dia, pensando que ela não possuía as neuroses dos homens e ainda podia voar. É um ser interessante. E seres interessantes, bem, me interessam. Considero você um ser interessante. Acho um espécime belo de homo sapiens e tenho muita curiosidade em saber o que se passa na sua cabeça. Se há pontos de interesse semelhantes, quais as suas expectativas, seus sonhos, seus desejos, seus erros, até seus defeitos me interessam. Tenho curiosidade que não sei bem como surgiu, acho que foi de lhe olhar existindo num show de Os Caetanos. Aquilo me pareceu superiormente interessante e, desde então, periodicamente, quando me dá no tino, weirdo que sou, escrevo para você. Não vejo possibilidade de você me encarar com seriedade e mesmo assim é um gostoso passatempo lhe passar algumas palavras. Porque desejo você, mas acho desejo muito pouco, é algo meramente estético e sexual. Que aparentemente é o que você procura no lidar com os homens. Não critico, cada um tem seus gostos. Eu gosto de intimidade, acho uma commodity rara nos dias de hoje e, para mim, weirdo, uma das mais preciosas. Gostaria de construir intimidade com você, já me reparti bastante contigo, então você já possui certa intimidade comigo. A recíproca não é verdadeira nem nunca será provavelmente, tendo em vista o nosso histórico, que aponta para você não querer coabitar o mesmo espaço que eu, que dirá bater um papo. Não me resta alternativa, que novamente digo ser muito divertida, senão fazer monólogos e enviar os links para você. É um desperdício de palavras, mas tenho palavras de sobra para gastar, não me farão falta. Você teria gostado do encontro de hoje, a maioria era de psicólogos(as). É sempre curioso e informativo debater com eles sobre a natureza humana. Outra coisa que disseram é para não ser muito pegajoso, o que acho que você deve achar que eu sou. Mas está redondamente enganada. Eu gosto da minha privacidade e gosto de ter meu tempo só para mim. Prezo isso tanto quando arrumar uma companheira legal para construir uma relação. Eu – e isso admito – tenho dificuldade de largar o osso. Eu já deveria ter mandado você à merda e partido para outra. Fato é que não vi presença feminina mais interessante que a sua. E o fato de praticamente fazermos parte do mesmo círculo social, é uma coisa que tem um sabor de infundada esperança de que possamos interagir algum dia desse, nalguma night dessas em que nossos destinos resolverem se cruzar. Ah, outra coisa que aprendi hoje sobre jogos de sedução é que se a garota rejeita dois convites, é melhor dispensá-la. Eu só fiz um e acho que não farei o próximo. Nossa, como me acho ridículo escrevendo isso para você. A palavra “babaca” solapa a minha consciência. Que seja babaca, faço porque quero. Ninguém está me obrigando a escrever para você. Eu o faço de livre e espontânea vontade, por mais que saiba que não tirarei proveito disso a não ser o prazer da escrita em si. Que seja. Mas até pensei no seu presente de aniversário, que não sei quando é, mas o Facebook me alertará. E quando ele o fizer eu desfarei a nossa amizade na dita rede social, lhe livrando de mim de uma vez por todas. Para que não fique ciberneticamente chato para você, eu mesmo faço, não se preocupe, sei que lhe trará alívio. Você deixará de ser um divertido passatempo para virar passado. Mais uma lição da noite de hoje foi descobrir que eu sou um homem interessante, diferenciado. Mas de nada adianta para olhos que não querem ver. Ou ver além do estético. Sei que nessa parte fico devendo ao meu amigo cervejeiro e ao meu amigo bonitão, mas não se pode ter tudo, não é? Pelo menos não tenho nenhuma deformidade e algumas vezes posso ser formidável. Há mais uma lição que aprendi, que mulher não gosta de homem romântico num primeiro momento. Gosta depois. Eu que nada entendo de relacionamentos, aceitei a regra como uma revelação divina e, por isso, o tom deste texto. Para falar a verdade, pouco se me dá a sua reação a ele. Sei que ele não mudará em nada a postura distante e evitativa que você tem em relação a mim. Que me ignore, que me evite, que fuja de qualquer lugar onde estejamos. Não me incomoda. Você é um passatempo. Poderia ser muito mais que isso. Mas não depende de mim. Eu já botei as minhas cartas todas na mesa. Não há muito mais que possa fazer. Você sabe do meu interesse, sabe da minha vida. Ah, há uma novidade, escrevi um livro. Só não tenho certeza de que vou publicá-lo. Há várias pessoas interessadas em lê-lo, o que não deixa de ser surpreendente. Já está sendo revisado. Não sei se darei o grande passo de publicá-lo. Se for, lhe convido. Será o meu último convite. Chama-se “Diário do Manicômio”, um título que eu acho bastante autoexplicativo. É isso. Que você tenha uma vida, boa, honesta, próspera e feliz.  

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