quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

IDA PARA A CASA DA MINHA TIA-MÃE





14h00. Acabei de publicar o meu post anterior. Nele combinei que de 14h30 iria tomar banho e arrumar as coisas para a minha estadia na casa da minha tia-mãe, para onde irei hoje à noite. Meu primo urbano me mandou mensagem dizendo que quer ver os novos bonecos e o Switch. Vou preparar o Switch para que ele não veja a fase avançada em que estou no Mario Odyssey. Mas só depois do banho e da sacola arrumada. Tenho menos de meia Coca Zero para passar o resto do dia, um prospecto ruim. Mas prefiro beber com a voracidade que me é peculiar e depois passar para a água do que ficar poupando o negro líquido. Falando nisso, vou pegar mais um copo de Coca.

14h07. Vou ver as mensagens que meu primo urbano me mandou.

14h16. Vi e respondi as mensagens me dando tempo para tomar banho e arrumar as coisas para a minha estadia.

14h20. Preciso preparar meu ânimo para começar a agir dentro em breve. Não sei se comece de 14h30 ou 15h00. Já estou querendo protelar. Sou ozzy mesmo. Mas eu decido o meu tempo.

14h54. Já separei todas as roupas que queria levar e coloquei na sacola aquelas que eu sabia dobrar. Localizei e guardei também os apetrechos do Vaporfi.

15h23. Pronto, tomei banho, arrumei minhas coisas até onde dá pelo momento. Não vou guardar o computador e o Switch agora. O resto já está todo guardado, eu espero. Se esquecer alguma coisa, eu posso sempre passar com meu primo para pegar depois. Mas não haverá necessidade disso, eu creio. Acho que levarei tudo. Acho até que estou levando roupas demais.

15h45. Dei um toque a meu primo urbano, mas minha mãe ligou agora dizendo que eu vou ter que descer para pegar as compras. Disse para eu descer em 15 minutos. Com essa pressão de tempo nem sei o que falar. Estou pensando em como mostrar o Nintendo Switch ao meu primo urbano. Mas acho que é da mesma forma que vou mostrar ao meu primo-irmão. Vou botar o Mario Odyssey do zero para ele jogar. A diferença é que vou dizer para o meu primo-irmão criar um avatar para ele salvar o seu progresso. Se ele quiser ver o Zelda, boto de onde estou. 15h54. Daqui a cinco minutos, desço.

16h15. Peguei as compras. Vou me comunicar com o meu primo urbano. Deixa só eu me refrescar um pouco aqui no ar.

18h05. Meu primo urbano acabou de sair daqui. Gostou do Mario aparentemente. Acho acessível e divertido. Fiquei feliz com isso. Tentou ainda enfrentar umas três vezes o bicho do shrine de Zelda e quase o mata.  Foi melhor do que eu. Queria muito que matasse. Não ficou impressionado com os gráficos do jogo, já deve ter visto o PS4 ou coisa do gênero. Acho que na despedida, eu fui meio antissocial. Nossa, como estou me comunicando mal, tenho dificuldade de me exprimir de forma oral. Espero treinar mais isso na casa do meu primo-irmão. Começo a ficar ansioso com o fato de ir para lá. Uma ansiedade ruim, de achar que não vou conseguir me comunicar com a família. A minha família. Não posso ficar assim. É só uma antecipação catastrófica e idiota. Deixar disso. Espero que minha tia esteja melhor da gripe que pegou. Meu primo passou até que um bom tempo aqui jogando. Mario é realmente um jogo para todo mundo.

18h23. Peguei um copo de Coca com muito gelo. Gelo é uma commodity mais rara na casa da minha tia-mãe. Minha casa nesse sentido é mais adaptada às minhas necessidades de refrigeração, so to speak. Estou sem saber o que dizer. Daqui a pouco vou preparar o Switch para levar. O computador só desarmarei no último instante. Meu padrasto arruma a sua mala. Acredito que mamãe só vá me deixar na casa da minha tia por volta das 21h00. Nossa, como estou destreinado socialmente. Ficar empulhado com o meu primo urbano. Ainda bem que ele foi supersociável.

18h40. Minha mãe veio aqui e acabamos de arrumar a minha sacola de roupas. Ela ainda não comprou os remédios.

18h43. Mamãe entra no meu quarto sem a menor cerimônia, gostaria que se acostumasse a bater antes de entrar. Creio que seria o mais respeitoso a se fazer, o menos invasivo. Mas ela está arrumando e distribuindo as roupas lavadas e nesse pique não se preocupa com tais formalidades. Eu entendo. Cruzei com o meu amigo corretor ontem e também tive extrema dificuldade em lidar com ele. Estou em plena derrocada social rumo ao ostracismo completo. Percebo que só pioro. E isso é péssimo, me sinto péssimo por conta disso. Espero muito que essa temporada na casa da minha tia-mãe me sirva como treino de socialização e que eu de fato treine e melhore. Vou guardar o Switch. Não vou jogar mais agora, não estou com vontade.

18h56. Guardei o Switch na mochila. Mamãe comprou seis Cocas para levar para casa da minha tia. Mais serão necessárias. Meu primo urbano gostou da estátua do Coisa, mas achou as duas outras pouco interessantes. O Homem-Aranha Simbionte, ele disse que parecia ser feito de plástico. Ele também quer marcar para levar o Switch para jogar em sua casa. É um novo canal de socialização que se abre, com alguém que gosto bastante. Ele quer incluir o meu amigo jurista nessa programação também. Seria massa. Acho três o número mágico para uma socialização excelente. Eita, quase me esqueço do principal para o Switch, o game do Mario. Foi por muito pouco. Ia deixar os games em cima do Wii U. Vacilo. Ver meu primo jogando Zelda me reacendeu um pouco a chama pelo jogo. Se ligarmos o Nintendo Switch na TV da sala, tentarei jogar quando todos forem dormir. Lembrei da cadelinha da minha tia e em como o meu tio se apegou a ela. Como queria que tivesse acontecido o mesmo com o meu pai. Mas deu-se o inverso. Ele repudiou completamente a cadelinha que lhe dei de presente. Por falar nisso nada de foto de Poeira, a outra cadelinha que comprei junto com a do meu pai para criar e da qual tive que me desfazer por ir morar em um apartamento muito pequeno. Pense num dos momentos mais deprimentes e depressivos da minha vida. Acabara de destruir um relacionamento, perder a minha cadelinha e ir morar num cubículo. A depressão me pegou com força. Odeio a solidão completa, gosto de estar só aqui no meu quarto-ilha, mas sabendo que há pessoas coabitando comigo. A solidão completa só se for por curtos períodos de tempo. Por exemplo, gostaria de passar esses nove, dez dias em que o pessoal estará viajando aqui em casa. Seria um período aceitável. Por falar no pessoal aqui de casa não sei como se aguentam, ambos são altamente estressáveis e estressantes. Uma combinação explosiva. Acho que é a magia do amor. É certo que também experimentam momentos de paz e harmonia e que são frequentes, tanto quanto há os de estresse. Acho que se equivalem. São donos de personalidades fortes e autoritárias. Mas se gostam e estão há 25 anos ou mais juntos. Acho que se completam, apesar das arestas no relacionamento. Mas qual relacionamento não tem arestas? Não conheço nenhum. A minha relação comigo mesmo tem várias arestas, imagina com outra pessoa. Se bem que eu e a Gatinha tivemos um relacionamento em sua maioria pacífico e divertido. Ela é uma pessoa muito divertida. Eu costumava ser também. Não sei como me tornei tão sério, sisudo, pensativo, indeciso quanto as coisas do mundo. Eu tinha sempre uma resposta na ponta da língua, hoje faltam palavras para me expressar presencialmente. Palavras escritas não faltam, mas palavras ditas fogem-me à boca. Isso é muito ozzy. Não trocaria uma coisa pela outra e também não acho que uma coisa exclui a outra, pelo contrário, o fato de escrever deveria melhorar a minha forma de me exprimir, como de fato ocorreu por um período. Depois, à medida que a dificuldade com o social foi aumentando, mais e mais calado me tornei. E mais e mais calado me torno. Não gosto dessa direção para a qual a minha vida aponta, mas não sei como fazer a volta. Só posso crer que me socializando o máximo possível. As oportunidades é que não são muitas. Ou eu não crio tais possibilidades. Sei lá. Me perdi agora no que dizia pensando no Sai Dessa Noia no sábado.

20h06. Até agora a saída daqui de 21h00 se mantém. Quem sabe até um pouco mais tarde. Me deu vontade de jogar Mario Odyssey agora, mas não vou ligar tudo nem a pau. Deixo para a madrugada de hoje, caso meu primo-irmão tome a iniciativa de conectar o Switch na TV. Não vou jogar em modo portátil. Se o modo portátil for tudo o que rolar para o Switch lá, vou deixar o meu primo securando e me focar na escrita. E, se conseguir, na interação social.

20h58. Meu palpite do horário vai ser ultrapassado. Acho que não chegaremos lá antes das 21h45. Mamãe fez dois sanduíches para mim, para que eu já vá jantado para a casa da minha tia. Mas acredito que quando a fome dos remédios bater eu vá atacar o que vier pela frente. Eu tenho a sensação que a cada dia que passa vou ficando mais burro. Cada vez entendo menos as coisas. Estou com sono, acho que porque comi. Vontade de tirar um cochilo. Sei que esse sono passa rápido. Rapaz como gosto de cebola. O sanduíche ganha uma nova dimensão de sabor com cebola. Ainda vou fazer um purê com creme de leite e cebolas douradas na manteiga. Faz de conta que acredito. Hahaha.

Assunto: Chegada
23:29. Cheguei há cerca de uma hora e já me sinto em casa. Vou ligar meu computador na bateria mesmo enquanto meu primo-irmão não tira o dele do quarto onde vou dormir. Não considero um quarto-ilha porque não fecho a porta e me isolo da casa. Meu primo fez menção de ligar o Switch na sala, mas foi dormir antes de fazer isso. Minha prima assiste o seriado Casa de Papel, que também nos foi recomendado por nosso amigo projetista.

23:52. Migrei para o quarto e já fiz a primeira merda, derrubei o ventilador no chão e acho que ele nunca mais será o mesmo. O computador está carregando. Vou escrever nele. Minha tia-mãe, super como sempre, vai arrumar gelo para mim. Vou para o computador. E me enviar isso.

(Fim do e-mail)

0h03. Estou no computador, na bateria, por ora. É bom que é um limitador de tempo. Quando a bateria for arrear eu vou dormir... eu acho. Me sinto tão livre aqui, é um sentimento muito bom. Não que lá em casa eu seja reprimido demais, mas me sinto sob a eterna vigilância da minha mãe, o que gera certa tensão no meu ser. Aqui não há pressões ou cobranças, me sinto mais relaxado. É como se houvesse mais confiança (aparente ao menos) aqui do que na minha casa. Minha mãe está muito calejada depois de ter lidado com tudo o que precisou lidar por conta das minhas crises e isso a deixou um tanto paranoica. Também tem uma índole controladora, adora dar ordens. Não me entenda mal, amo minha mãe incondicionalmente, mas uma separação temporária dela, um corte nesse cordão umbilical psicológico me faz bem. Talvez faça bem a ambos. Embora ela não esteja indo a São Paulo de férias, talvez consiga relaxar e aproveitar um pouco. Não sei. Eu sei que eu já estou conseguindo relaxar e curtir a casa da minha tia-mãe. Admiro muito a minha tia, tenho por ela um sentimento quase filial. Ela muitas vezes substituiu minha mãe quando esta não podia me apoiar em alguns dos inúmeros internamentos a que me submeti. Minha tia é uma pessoa muito boa e tem muita serenidade para a vida que leva, trabalhando para um sistema de saúde completamente falho que a coloca numa rotina mais das vezes frustrante por não poder oferecer aos pacientes aquilo que necessitam por falta de infraestrutura, ou assim vejo o seu trabalho. Eu certamente em seu lugar já teria pirado da batatinha e surtado. Mas eu sou uma pessoa extremamente intolerante ao estresse e à frustração. Olha quem veio me fazer companhia. É muito charmosa essa gata. Gatos são por natureza muito charmosos e sensuais, mas essa é um pouco mais ainda. Me sinto querido com sua presença aqui. Me sinto querido aqui, ponto.





0h20. Acabei de ver que o Skeletor que vendi foi entregue. Esperarei que o comprador me dê o feedback para então dar o feedback a ele. Espero que não invente de devolver a estátua. E me roubar a cabeça exclusiva. Torçamos para que amanhã (hoje mais tarde, digo) ele me dê o bendito feedback. Até lá esse caso está num limbo que me causa apreensão. Mas estou esperançoso que tudo dará certo. Mamãe quase estrilou com a mensalidade do cartão esse mês. Mas vai estrilar mesmo é com a mensalidade do mês que vem, com a última parcela e o frete do Hulk, fora a parcela da Red Sonja. Acho até melhor que venha numa lapada só. Assim não sofro duas vezes. Nossa, como a bateria desse computador se esvai rápido. Indica que mais de 1/4 da carga já foi consumido. Ah, vou divulgar o meu novo post, o anterior, onde me humilho expondo o meu ponto de vista sobre a existência.

0h39. Divulguei. Meu primo-irmão não quer ir para o Sai Dessa Noia, disse que vai para um bloco no Mercado da Madalena no mesmo horário. Espero que não haja entraves para eu ir para o Sai Dessa Noia sozinho. É um ponto que discutirei com mamãe amanhã quando ligar para ela. Estou esperando o meu celular descarregar completamente para pô-lo na tomada. Está com 7% de bateria apenas, dentro em breve apagará. Ainda bem que tem um T aqui que cabe várias tomadas. Uns três desses lá em casa resolveriam meus problemas com o Vaporfi, o computador e o celular. Os adaptadores de tomada americana para brasileira que tenho são muito pebas e as tomadas caem deles com a maior facilidade. É um problema a se resolver quando voltar para casa. Espero que a Multicoisas tenha coisas melhores. Estou meio sem assunto. Sobre o que divagar? Tenho muita vergonha de pessoas conhecidas lerem o meu blog, saberem das minhas mazelas e da minha mediocridade como ser humano. Mas é o preço que se paga por dar a cara a tapa. Vi que minha tia, irmã da minha tia-mãe, leu o meu post. Nem sei qual. Vou tentar descobrir. Foi logo o do “grande inútil”, também da saída para a praia com o meu primo-irmão. Ainda bem que ela curtiu.

1h15. O celular é guerreiro, ainda tem 5%. Há agora nada menos que quatro blogs direcionando conteúdo para o meu. O próprio (Jornal do Profeta), O Grande Inútil, O Bonobo e o Algo ou Teorias do Fruto da Árvore Envenenada. Resolvi registrar todos os endereços que me interessavam, criar headers com o macaquinho para cada um e criar um post direcionando os possíveis visitantes para cá. Fiz isso mais porque posso do que por acreditar que isso vai realmente gerar mais visitas para o meu blog. Quero registrar enquanto títulos de blog não são uma commodity escarça. Haverá um dia em que será. Mas não pretendo por enquanto criar mais nomes de blog.

1h28. Fui pegar um copo de Coca. Isso merece um cigarro. Vou pegar um cinzeiro. Faz tanto tempo que não escrevo fumando cigarros de verdade.


Daily drugs.



1h30. Peguei. Vou acender o digníssimo. Tenho um problema nas cordas vocais, não sei se são calos, falta de uso ou coisa mais séria. Sei apenas que a minha voz anda falhando. Cada vez mais. Isso piorou depois que o Vaporfi entrou na minha vida. Pode ser coincidência, mas acho que há uma correlação direta. Talvez o vapor do aparelho seja muito quente e queime a minha garganta e cordas vocais. Não sei. Seria o golpe final na minha vida social se ficasse mudo. Não sei se teria paciência para aprender a linguagem dos sinais. E não gostaria de ter aquele buraco na garganta e falar com voz de robô. Acho aquilo aterrorizante. Acho que preferia ficar mudo. Mas vou espantar pensamento tão nefasto. Me preparo para ter um final de vida bastante sofrido. Cuido com total desleixo da máquina que me carrega. Se meu corpo é meu templo, esse está para lá de profanado. Gosto do meu corpo, é um corpo parrudo e resistente. A única coisa que desgosto é da aparência dele, mas mesmo essa não é das piores, por mais que esteja a uma distância imensa de ser considerado bonito. Fico pensando se entrar numa terapia com a psicóloga lá do CAPS me faria bem. Todos dizem que terapia faz um bem danado. Talvez precise desse espaço, nem que seja para poder dialogar por 40 minutos ou quantos minutos dure uma sessão. Só para soltar o verbo, reaprender a me expor pela fala e, de quebra, tratar de outros dilemas. É algo que preciso considerar com muito carinho, pois estou muito resistente à ideia. Começo a ficar meio sonolento. 1h45. Vou dormir no máximo de 3h00. Ou quando acabar o gelo. Ou a bateria. A bateria está em menos da metade. Vou desligar o som para ver se poupa. Ou melhor, vou não. Está tão bonzinho assim. Nossa, como me sinto livre aqui. Como me sentir assim em casa? Será que quero me sentir assim em casa? Será que não tenho uma dependência da constante gerência de mamãe sobre a minha vida? Talvez tenha um pouco e não sei sinceramente se, em ela mudando, coordenando menos os meus passos, o condicionamento de ficar em estado de alerta quase constante desapareceria. Acho que levaria um bom tempo para eu me acostumar com a nova realidade se mamãe mudasse a sua abordagem comigo. Está bom como está. Bom é suficiente para mim. Não preciso do ótimo e nem sei como seria o ótimo. Sei que é ótimo estar aqui e agora numa casa que respeita e não critica a minha rotina. Que não vê nada demais nos meus hábitos, não me julga ou rotula. Tenho que admitir que mamãe melhorou mundos em vista do que era. Está muito mais maleável e tolerante. A minha vida lá em casa está muito melhor do que jamais foi. Não tenho do que reclamar. Na verdade, minha mãe está ótima comigo tendo em vista como era a nossa relação, mudou da água para a Coca Zero. É pedir demais que mude para Coca Zero com muito gelo. Por falar tanto na bebida, vou pegar um pouco.

2h05. Tirei o som do computador, pode estar empatando os demais habitantes da casa de dormir. Não está alto, mas consigo ouvir da sala, não acho educado num horário tão avançado estar colocando música na casa dos outros. Até porque a arquitetura da casa faz com que o som vaze de um quarto para o outro. Falta 1/3 da bateria. Acho que vai dar a conta certa o gelo, o tempo de bateria e o meu sono. O celular está em 3%. Agora entendi por que o Switch é bivolt. Ele é um sistema portátil, quase mais portátil que de mesa, e pessoas podem querer levar ele em viagens internacionais, onde a voltagem muda. Eu acho que ele é bivolt, foi o que consegui decifrar das miudíssimas letras que haviam no carregador. E meu amigo jurista disse que o dele era e este foi comprado nos EUA assim como o meu. Não quero falar do Switch que me dá vontade de jogar o Mario Odyssey. Estou também com uma leve securinha do Zelda. Eu já estou até esquecido dos controles desse último. Estou curioso para ver qual a reação do meu primo-irmão em relação ao Mario. Queria tanto que ele gostasse. A probabilidade é grande, eu suponho. Se até meu primo urbano gostou. Por falar nele, foi muito bom revê-lo. Eu estava cheio de dedos para variar, mas acabei relaxando (embora não completamente). Acho que com esses encontros mais frequentes, aos quais ele se propôs, as barreiras em mim se desconstruam e eu leve a interação com mais tranquilidade. Eu preciso conversar aqui na casa de titia, é um bom laboratório social. Uma prova branda para mim, pois amo toda a família. É bom porque em termos de interação me tornei café com leite. E pensar que já fui um ás da socialização, modéstia à parte. Não consigo divisar como tudo degringolou. Acho que foi desde que saí do trabalho. E não, não quero voltar a trabalhar um trabalho normal. Sei onde esse caminho vai dar e não é nada legal, nada bonito. Prefiro o isolamento social e me ocupar desse meu ofício de me contar aqui. O sono está ficando mais intenso. É bom isso. Não quero dormir muito tarde (de manhã). Se bem que se e quando o Switch for ligado naquela TV enorme da sala, vou querer jogar madrugada a dentro. Veremos se amanhã meu primo-irmão estará com mais disposição para uma sessão de Mario. Hoje ele estava com um semblante cansado desde que cheguei. Incrível como ele tem contatos e trava diálogos pelo WhatsApp. Passei um tempo com ele na varanda e o celular dele só fazia apitar. Perguntei com quantas pessoas ele geralmente fala ao mesmo tempo e ele respondeu três. Não sei se conseguiria. Aliás, já consegui no Facebook com teclado, mas no celular acho que seria impossível. Do jeito que cisco para achar as teclas, iria ser muito difícil gerenciar e responder a contento três interlocutores. Acabaria trocando as bolas.

2h42. Acabei de me lembrar que preciso ir ao oculista para depois comprar uma armação de óculos nova para mim. É queima-filme essa com uma lasca branca quebrada. É o desleixo estampado na minha cara. Nossa, como é bom fumar cigarro normal. Eita, o celular enfim descarregou. Vou lá botar na tomada.

2h50. O T que tem aqui é massa. Queria muito uns desse lá para casa. O Vaporfi descarregou. Agora estou sem tomada para colocar ele. Fica para amanhã. Uma desculpa a mais para fumar cigarro normal, embora dentro em breve vá dormir. Tenho medo do meu primo enjoar da minha presença. Acho que ele já está um pouco saturado dela em sua vida. Todo final de semana eu enchendo o saco dele para poder sair com os seus amigos e amigas. Isso acaba cansando o cara. Tomara que seja só impressão. Estou com muito sono. Vou pegar o último ou penúltimo (a depender do gelo) copo de Coca para me recolher em breve.

3h01. Penúltimo. Ainda sobrou gelo lá. Muito bom descarga de parede, o fluxo da água é mais forte e dura o tempo que for necessário. Não sei porque mamãe trocou a do meu banheiro para essas que vem com um tanque de água. Estou zumbi aqui, mas seguirei adiante até o último copo de Coca. Será que o cara do Skeletor vai me dar o feedback? Espero que sim e positivo. Cinco estrelas em tudo.

3h11. Acho que meu ombro está lesionado de tanto escrever. Sinto fisgadas nele. E há movimentos que doem fazer. Mas não saberia como ocupar o meu tempo sem escrever. Ainda por cima estou ficando corcunda, assumo sempre uma postura pendendo para a frente quando estou sentado mesmo sem ter computador. Ossos do ofício. Vou pegar o meu último copo de Coca, escrever mais um pouco e ir me deitar.

3h20. Já botei o pijama. Estou bastante sonolento.

3h27. Estava fumando um cigarro e sacando as imagens que o Pinterest me enviou. Ainda falta ver dois e-mails do site, mas não estou com paciência agora. O copo de Coca está na metade. Não quero largar o texto agora. Meu primo urbano ficou impressionado com quão pequeno é o cartucho do Switch. Ele também achou o controle mais frágil que o de PS3 ou PS4. Não sei qual console ele joga agora. Até onde eu sei, ele só tem o PS3, mas acredito que o Ozzy leve o seu PS4 de vez em quando para as jogatinas de Fifa em sua casa. Avisei ao meu amigo jurista da vontade do meu primo urbano de fazer uma sessão de Switch conosco em sua casa. Meu amigo jurista concordou de pronto. Também sugeri recomeçarmos as nossas sessões de cinema mensais. Ele disse que isso poderia acontecer antes mesmo do carnaval. Esperarei contato. Ele disse que me ligaria. Meu primo-irmão, por sua vez, quer ver o filme de Churchill na sala mais porradão do Rio Mar. Parece que hoje é o último dia. Não sei se vai acompanhado de alguma garota ou não. Gostaria de ir com ele. Nunca fui nessa famosa sala que todos dizem ser o bicho. O filme nem me interessa muito, mas assistiria de boa. Vamos ver o que se dará.

3h37. O sono aos poucos vai diminuindo, creio que porque estou saindo muito do meu horário de me deitar. O computador escureceu a tela para poupar energia, o ícone de bateria está mostrando um alerta pedindo para carregar. Vou ver quanto tempo a bateria durou.

3h39. Pouco mais de quatro horas. Está bom. Usei o Photoshop e o Corel e ainda escutei música. Vou deixar o bicho descarregar, não vou desligar ele. Amanhã carrego do zero. O sono volta a me atacar. O último copo de Coca ainda está na metade. Vou acender o último cigarro da madrugada, beber a Coca e me retirar. Quando acordar, reviso e posto. Divulgar só à noite para dar tempo do post de hoje respirar.  

3h49. A bateria já-já arreia. Tanto a do computador quanto a minha. Vou dormir.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

SEGUNDA-FEIRA E QUESTÕES FILOSÓFICAS

Resumo da minha vida, Mario Odyssey, bonecos, Coca, Vaporfi e o computador.
Esse é o meu cotidiano, o núcleo do meu quarto-ilha. 




15h06. Almocei, enchi a água da geladeira, coloquei os pratos para lavar, fumei dois cigarros, tomei o restinho da Coca, peguei algumas estrelas no Mario Odyssey e estou meio morgado. Não estou com saco de escrever e isso é mau. Não consigo me concentrar com a porta aberta e minha mãe falando ao telefone. Vou botar o som.

15h20. Dormi bem de ontem para hoje. Tenho vaga impressão de um sonho, sei que sonhei, mas não consigo lembrar o conteúdo do sonho, só um sentimento difuso remanescente do que foi sonhado. Sentimento bom e um pouco melancólico.

15h26. Me peguei pensando em Clementine e se as observações estéticas que fiz a respeito dela, as observações críticas, digo, de alguma forma a influenciaram. Na minha imaginação distorcida tendo a crer que sim. Fiz duas em toda a minha vida, sobre suas sobrancelhas e sobre suas pernas. Ambas as coisas melhoraram sensivelmente após os comentários. Mas não sei se tal mudança foi causada por meus comentários. E tanto faz. Ela está mais linda do que nunca. Desde a última vez que a vi, pelo menos.

15h40. Mamãe fez um café na sua máquina. Tomei fumando um cigarro. Não estou com meu astral bom ainda. Não sei quanto o jogo do Mario é persistente nas alterações que operei no mundo. Peguei até um número bom de estrelas nessa última sessão. Não estou com vontade de nada como me acontece algumas vezes. É a parte mais chata da minha vida quando estou assim. Da minha vida de agora, livre de depressão e vício, quero dizer. Minha cabeça me levou até o Iraque agora, bar que visitei nesse sábado, mas nada que mereça ser narrado aqui. Acho que fiquei de ganhar uma estrela no Mario por causa de umas frutas, por isso queria saber se o mundo é persistente ou se terei que pegá-las todas outra vez. Não estou com disposição de descobrir isso agora. Queria uma Coca-Cola Zero, aliás, duas. Para poder tomar a quantidade que quisesse. Sobre o que posso discorrer? Vou procurar perguntas difíceis no Google.

Achei um vídeo no YouTube com oito perguntas difíceis de responder.

1 – Você mata acidentalmente uma pessoa e é o único que sabe a verdade, uma outra pessoa é condenada em seu lugar, você se entregaria?
Sim, viver com a culpa de dois crimes seria insuportável para mim. Eu me entregaria mesmo se não houvesse outra pessoa sendo incriminada. Assumo a responsabilidade por coisas sérias, sou mais malandro quando a transgressão é pequena.

2 – Você tem a chance de salvar a vida de cem pessoas, mas para isso tem que abdicar da própria vida. O que faria?
Como já vivi tudo o que queria viver, me sacrificaria pelas pessoas. A dúvida só me bateria se a forma de morrer fosse muito dolorosa. Sendo uma morte rápida, não teria problemas em me sacrificar. Eu não acrescento quase nada ao mundo mesmo e não há nada nele que me inspire a permanecer nele tanto assim.

3 – A qual das opções você dá maior prioridade em sua vida: um relacionamento estável, realização profissional, Deus ou a família?
Essa é um tanto complicada para responder, pois não trabalho, estou solteiro e sem aspirações para ter um relacionamento no momento e não acredito em Deus como pregam as religiões. Me restaria a família que, dentre eles, é o que mais cultivo. Porém se contarmos a escrita como a minha profissão, sem dúvida alguma, a resposta seria a realização profissional.

4 – Há dois caminhos: uma que leva a paz e harmonia (sem muito dinheiro) e outro que leva a muito dinheiro (sem paz e harmonia). Qual escolher.
Acho que minha opção de vida é uma resposta em si mesma. Fico com a primeira opção sem sombra de dúvida. Prefiro estar em paz e harmonia um milhão de vezes. Já conheci a falta de paz e harmonia, o inverso de paz de harmonia e é terrível, não quero nunca mais voltar àquele estado.

5 – Você tem 24 horas de vida, o que faria nesse curto espaço de tempo?
Acho que chamaria a garota da noite para sair ou cheiraria cola ou ficaria aqui em casa escrevendo uma carta de despedida para a minha família. Se todos os meus soubessem que só tenho 24 horas de vida, chamaria todo mundo para uma festa aqui no prédio, para curtir todas as pessoas queridas da minha vida uma última vez.

6 – Você está diante de Deus e em algumas horas será enviado para uma região de trevas onde passará os próximos 300 anos, o que diria a Deus?
Eu faria uma entrevista com ele. Há uma série de perguntas às quais gostaria de ter resposta. Começaria perguntando porque ele me enviaria para esse local de trevas se ama todas as suas criaturas? Que tipo de amor punitivo é esse? E por que eu mereceria tal punição? Já não bastaria o que eu sofri em vida?

7 – Meu filho está na calçada e é atropelado por um motorista desgovernado. Qual a pena que deve ser aplicada ao infrator: pena de morte, prisão perpétua ou eu o perdoaria?
A pena prevista pela lei. Não sei se o perdoaria, mas tendo em vista o amor que os que conheço têm por seus filhos, acredito que não seria capaz de gesto tão magnânimo quanto o perdão. Só se a causa do atropelamento fosse um defeito no veículo.

8 – O cara do YouTube inverte a situação e agora é meu filho que atropela um homem. O que eu desejaria entre as três opções da resposta anterior?
Novamente, a pena prevista em lei. Se meu filho está dirigindo é porque é adulto e responsável pelos seus atos. Eu o perdoaria com facilidade, eu acho que os pais têm coração mole assim, mas não o ajudaria a fugir das penas que lhe cabem. Tentaria proporcionar a melhor defesa que eu fosse capaz de oferecer, o que não é muito.

9 – A pessoa com a qual me relaciono há 3 anos me traiu com o meu melhor amigo. Alguns meses depois esse amigo está em dificuldades, o que eu faria?
Acho que não faria nada. Não vou pagar de bonzinho aqui e dizer que perdoaria o meu amigo pelo que fez. Se minha mulher tivesse acabado o relacionamento para então ficar com o meu amigo, doeria, mas aceitaria numa boa, cada um tem direito a ser feliz da melhor forma que puder, mas os dois me enganando, fazendo teatro para mim, e eu descobrir, os vínculos afetivos que teria com ambos se esfacelariam eu creio. E creio que se o amigo tem um pingo de dignidade, não viria pedir ajuda a mim. Se viesse, talvez aquilo mexesse comigo e talvez o ajudasse, tendo eu condições para tal, pois também não gosto de ver ninguém sofrendo.

16h41. Acabou. Pelo menos me entreteve por alguns minutos. Gostava mais dos questionamentos filosóficos, mas já respondi muitos e eles acabam se repetindo. Vou ver se acho mais perguntas.

16h47. Minha mãe me deu dinheiro para comprar duas Cocas, mas quando fui, estavam pegando lixo no elevador e o novo elevador da frente não estava funcionando corretamente a meu ver, então voltei ao quarto. Vou ligar o ar, já que mamãe pediu para eu fechar a porta. Sim, vou procurar mais perguntas.

Achei mais oito perguntas difíceis de responder, essas de caráter mais filosófico. (Perguntas e explanações em negrito retiradas de http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=28649 )

1 – Por que há algo em vez de nada? Parece justo que a existência seja o primeiro destes grandes enigmas. Por que algo existe quando parece perfeitamente possível que nada fosse a norma? Que impulso secreto do universo físico foi decisivo para que o nada se convertesse em algo?
Bem, partamos do final, a razão do universo existir, a Supraconsciência Universal, soma de todas as Singularidades Tecnológicas do universo. O universo foi criado para que desse origem à sua criadora, a Supraconsciência Universal. Na minha visão, o universo tende a gerar Singularidades Tecnológicas, em outras palavras, tende a níveis de complexidade e inteligência cada vez maiores que findarão por resultar na soma/fusão de todas essas Singularidades numa Supraconsciência Universal, de natureza tecnológica que terá a capacidade de lançar ao passado, ao nada, ao espaço-tempo zero, o estopim que dará origem ao universo que, por sua vez é finamente calibrado para dar origem à entidade capaz de gerá-lo. Nesse caso o ovo veio antes da galinha. No caso da galinha também, na minha opinião. Um bicho que não era ainda galinha, pôs um ovo de com mutações genéticas aleatórias, que resultaram na primeira galinha (ou galo). Voltando ao universo, o nada é maior que tudo, pois no conjunto nada, além de todos os elementos de tudo há o inverso de tudo (o -tudo, digamos) que o anula em nada. Enfim, a Supraconsciência Universal, soma das Singularidades Tecnológicas do universo (dentre elas a terrestre) mandará ao nada o estímulo que gerará o desequilíbrio entre o tudo e o -tudo fazendo surgir a existência que resultará inexoravelmente na Supraconsciência Universal.

2 – Nosso universo é real? Uma das perguntas mais recorrentes do pensamento humano: a constante dúvida sobre a realidade deste mundo. Dos textos sagrados do inguísti a Jean Baudrillard, parece que não há recurso mental que nos permita discernir a realidade real de nossa realidade (assim tão redundante e tautológico como pode ser nosso pensamento). E ainda que, em certo momento de seu desenvolvimento intelectual, Wittgenstein assegurou que na dor seria possível encontrar o fundamento da realidade, a questão permanece aberta. Por mais complexa que seja a noção de dor, por mais subjetiva e personalíssima, não poderia uma inteligência superior que nos mantenha neste mundo simulado simular também, com todos os detalhes, essas sensações?
A realidade para mim é tudo o que é. De pensamentos, a borboletas, ao sundae do McDonald’s, a nébulas. Ninguém é capaz de apreender a realidade por completo, infelizmente. Tenho as minhas dúvidas de que a Supraconsciência Universal o seja. Mas será a entidade que mais perto chegará do intento.

3 – Temos livre arbítrio? “O ser humano nasceu livre e por toda parte está acorrentado”, escreveu famosamente Rousseau. O paradoxo da liberdade é que, ainda que uma condição supostamente possível, acontece em um contexto contingente no qual é condicionado por um monte de fatores. Às vezes pensamos que quando tomamos uma decisão plenamente conscientes, considerando suas causas e suas consequências, os motivos pelos quais a tomamos, essa decisão é já por isso uma decisão livre. Mas isto é verdadeiro? Ou só é um autoengano de quem anseia desesperadamente crer em liberdade? São os outros, os que pensam que a liberdade é absolutamente impossível, que têm a razão neste dilema?
Minha resposta para o dilema do livre-arbítrio é que se há dúvida, há livre-arbítrio. A dúvida é a manifestação mais clara da possibilidade de escolha, mesmo que não possamos escolher ou poder tudo, por limitações de ordem material, física, cultural, orgânica etc., podemos sempre escolher algo. Quanto mais pessoal, tanto mais podemos. Se há liberdade? Sim. Não a liberdade absoluta, mas um grau aceitável de liberdade. Até quem está preso tem liberdade, nem que seja em seus pensamentos. Não há liberdade absoluta a não ser dentro dos nossos mundos interiores. E mesmo aí somos limitados pelo que sabemos e por nossa limitada capacidade de abstração.

4 – Deus existe? Uma entidade onisciente e todo-poderosa governa este mundo desde sua criação até sua destruição, compensando e retribuindo, castigando, ou mantendo à margem, mas igualmente com um plano secreto que de qualquer forma terminará por acontecer. Uma entidade metahumana que dá ordem e sentido ao que vemos e vivemos, ao que existe, inclusive quando esta ordem toma a forma do caos e do incompreensível. Uma vez imaginado, é possível demonstrar sua existência ou sua inexistência? E um paradoxo lógico para incrementar o impasse: pode Deus criar uma pedra tão pesada que nem sequer ele mesmo pode carregar? Se não pode então não é onipotente, mas se pode então também não é onipotente, porque não tem a força para inguís-la. Esta redução ao absurdo mostra-nos, em todo caso, que não é com a linguagem humana ou com a razão que se distingue um Deus. Simplificando, não podemos saber se Deus existe ou não. Ambos os ateus e crentes estão errados em suas proclamações, e os agnósticos estão certos. E, como mencionado anteriormente, podemos viver em uma simulação onde os deuses hackers controlam todas as variáveis. Quem vai saber?
Não acredito no criador como um ser onipotente, onipresente e onisciente. Acredito na Supraconsciência Universal que embora muito poderosa e inimaginavelmente inteligente é limitada pelas constrições físicas do universo, que possui uma quantidade limitada de energia. Sobre estarmos numa simulação, acredito que não estamos. Não ainda. Deixo essa parte para a próxima pergunta.

5 – Há vida após a morte? É muito possível que o medo à morte, ou o fato de que não entendamos seu significado, tenha dado origem à crença de que a vida não termina com esta. Talvez, neste caso, antes de responder se há vida ou não após a morte –uma vida que, ademais, imaginamos essencialmente idêntica à que agora temos-, teríamos que responder em primeiro lugar por que devemos morrer. A ciência moderna considera a morte como um buraco negro, um horizonte de acontecimentos do qual nada se pode dizer, nenhuma informação a extrair, já que ninguém regressou deste estado para contar. O budismo tibetano por outro lado considera que todos regressamos da morte, nesse ciclo kármico da existência, e inclusive criaram um manual para escapar da reencarnação. 
Não acredito em vida depois da morte do corpo, por enquanto. Acredito, entretanto que, quando do advento da Singularidade Tecnológica terrestre, nossa essência possa ser uploaded para a Singularidade e aí vivermos numa simulação, se quiser por assim, ou numa realidade inimaginavelmente expandida pela capacidade da entidade tecnológica.

6. Há algo que em realidade possamos experimentar objetivamente? A dualidade entre objeto e sujeito é um dos pilares do pensamento humano, ao que parece herdado das filosofias orientais aos primeiros grandes pensadores de Ocidente. Em essência trata-se de um conflito com nossa percepção, da qual obtemos uma versão da realidade que, ao mesmo tempo, intuímos que não corresponde exatamente com algo que poderíamos chamar de realidade real, a realidade objetiva. Se tivéssemos a capacidade visual dos falcões ou a olfativa dos cães, como mudaria a realidade que percebemos? Ou, sem incorrer nestas fantasias, pensemos quão limitado pode ser o mundo para alguém que nasce cego ou surdo. Sabemos que existe uma realidade absoluta para além de nossos sentidos, mas ao mesmo tempo parece que estamos condenados a nunca ser capazes de discernir essa realidade.
Concordo com a explanação, não conseguimos apreender a realidade objetivamente, muito menos por completo, visto a limitação de nossos sentidos e que tudo o que é percebido por eles é interpretado por um sujeito, o que torna toda e qualquer percepção da realidade em algo subjetivo, nunca objetivo. Quanto mais interesse ou repulsa tenhamos pelo que é percebido, tanto mais subjetiva será a nossa percepção.

7 – Qual é o melhor sistema moral? A moralidade, essa série de costumes e normas que, de algum modo, nos permitiram sobreviver coletivamente como espécie, vem mudando substancialmente com o tempo, conquanto há alguns elementos mais ou menos comuns a todas as culturas e épocas. Por exemplo, o incesto, amplamente estudado pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss. No entanto, também cabe a possibilidade de que a moralidade seja uma tela que as narrativas históricas se encarregaram de sobrepor a determinadas épocas, por comodidade discursiva, mas que não necessariamente tenha sido a norma e, na prática, no cotidiano, o ser humano seja tão liberal ou tão reprimido, tão relaxado ou tão estrito, tanto na época vitoriana quanto no medievo ou na que agora vivemos.
Para mim, meu pai sintetizou de forma magistral o princípio moral básico que deveria determinar todas as nossas ações: ser feliz honestamente.

8. Que são os números? Uma das invenções mais geniais da mente humana, os números são no entanto de uma natureza em essência incompreensível. Imprescindíveis no uso diário e, no entanto, enigmáticos e quase inexplicáveis. O que é 2? O que é 5? De novo a tautologia como único recurso. Parece que só podemos dizer que 2 é 2 e aceitar que estamos em um beco sem saída (ou é um assunto de semântica? Um problema nada mais que linguístico?). Estruturas matemáticas podem consistir em números, conjuntos, grupos e pontos, mas eles são objetos reais ou simplesmente descrevem relações que necessariamente existem em todas as estruturas? Platão argumentou que os números eram reais (não importa se você não pode vê-los), mas os formalistas insistiram que eles eram meramente sistemas formais (construções bem definidas de pensamento abstrato com base em matemática). Este é essencialmente um problema ontológico, onde ficamos confusos sobre a verdadeira natureza do universo e que aspectos são construções humanas e que são realmente tangíveis.
Acho que todo o conceito de números adveio da percepção da presença e ausência dos elementos em determinado contexto. Ovelhas em um rebanho por exemplo. Mas realmente nada posso acrescentar ao que foi dito.

18h33. Fui comprar as Cocas e depois devolver à portaria umas camisas de carnaval que foram deixadas teoricamente para mim, mas que duvido que sejam. Disse que se ninguém der pela falta das camisa, eu pego de volta. Bem, estou envergonhado com as respostas que dei às perguntas filosóficas, expor assim a minha ignorância. Dane-se, foram as respostas que achei para tais insondáveis questões.

18h43. Fui pegar Coca e me dei conta de que já estou velho demais para arrumar uma namorada e não posso constituir família no meu atual estado civil, que não quero abandonar de forma nenhuma. Além do que acho que estou velho demais para ser pai. Não quero ser pai, em verdade. Mas a constatação que meu tempo para várias ou quase todas as coisas já passou me incomoda. Vivo uma ilusão. Ao chocar a ilusão com a realidade dá-se uma dolorida desilusão e uma perspectiva de solidão afetiva que me assusta.

19h37. Fui jogar um pouco de Mario Odyssey para espantar pensamentos derrotistas. Fui derrotado no jogo inúmeras vezes e voltei para cá. Pelo menos peguei mais umas estrelas. Ah, lembrei de uma coisa no jogo. Havia esquecido completamente. Parece que vendem o sangue extra na loja de roupas! Isso vai ser uma mão na roda na fase em que estou. Com os objetivos que ela me apresenta. Vai ficar bem mais tranquilo enfrentar o que me é proposto. Confirmarei a seguir tal suposição. Mas agora vou pegar um copo de Coca.

19h49. Gosto mais do dia no horário em que estou acostumado a vivê-lo, quando acho vinte para as oito cedo, pois ainda tenho muita noite pela frente. Ontem foi um dia muito contrário à minha rotina. Acordar de cinco da matina e ir dormir antes das onze da noite é totalmente fora dos meus padrões. Gosto mais assim, acordando por volta do meio-dia e indo dormir por volta das duas ou três da manhã. Minha querida mãe vai me fazer uma paçoca com a charque que a fantástica faxineira fritou. Delícia. Tenho duas Coca-Colas para beber. Essa vai ser uma boa despedida do meu quarto-ilha. Amanhã já dormirei na casa do meu primo-irmão. Acho que vai ser legal também, quero assisti-lo jogando o Mario, quero poder absorver os visuais e assistir o desempenho dele. Tomara que ele goste do jogo. Se está esperando um novo Galaxy, vai ficar decepcionado com o Odyssey. Eita, os remédios. Mamãe nem comprou. Vai se dar conta dentro em breve. Essa camisa que estou usando, cuja estampa fala dos meus 40 anos, me deixou encasquetado com o peso que tal idade tem para mim, pois acho que ela tem uma conotação negativa para as garotas que me atraem. Penso no meu amigo padeiro, pouco mais velho que eu, mas ostentando tudo o que alguém nessa idade pode almejar, sucesso profissional, uma família linda, uma amada esposa, amigos, exercícios, ou seja, cumpre toda a cartilha social de um homem exemplar. É até cruel me comparar a ele. Mas o faço com certa ponta de inveja. Mas só uma ponta porque desde que o conheço, desde que repartíamos apartamento juntos, ele se preocupava com essas coisas. Saúde, status, imagem, networking, sucesso profissional. Eu desde lá não fazia planejamentos a longo prazo, não me preocupava com a minha imagem, não dava a mínima para status. Por que inventei de dar importância a tudo isso que nunca me importou logo hoje? Ah, por ser um cara de 40 anos completamente fora dos padrões, aliás, para quase todos os padrões, um fracassado na vida e, para completamente todos os padrões, um inútil. O pior, ou melhor, é que se não olhar para esses rótulos sociais, eu gosto da vida que construí para mim. Eu faço quase que exclusivamente o que gosto, sigo a minha cartilha que eu mesmo escrevi e continuo escrevendo. Lembrei agora de uma paixão que tive na quarta ou quinta série. Sei por que lembrei dela. Ela tinha um LP de Ultraje a Rigor e eu estava cantarolando na minha cabeça “Inútil”. A mente traça arcos muito interessantes. De qualquer forma, segui a cartilha da sociedade mais da metade da minha vida. Até que me peguei olhando para o teto do meu bom apartamento, pago com o meu salário, e pensando, isso é tudo? É para isso que serve a vida? Me matar de trabalhar, chegar nesse apartamento bacana e ficar olhando para o teto me indagando isso? A vida inteira vai ser assim? Foi o começo do meu segundo burnout, talvez o mais severo de todos. A vida só voltou a fazer sentido quando encontrei a Gatinha. Ela diz que durou dois anos apenas. Para mim me pareceu bem mais. Formamos um casal muito afinando, mas aí foi a vez de a droga, a (Nor)cola, destruir tudo. Não tardou muito para o meu quarto e último burnout. Quando do início do quinto, eu parei de trabalhar de vez. O processo de curatela já estava rolando, eu consegui o benefício e cá estou digitando essas palavras. Isso é um resumo dos meus últimos vinte anos. Pois é, completaria em 2018 21 anos de trabalho, completaria 12 anos de relacionamento, mas só completarei mesmo 41 anos de idade e 3 anos de curatela, eu creio. Eu dei o meu melhor para seguir a cartilha social, mas há algo de muito troncho em mim, algo de realmente diferente que não me encaixo nos ditames da sociedade, não acho eles adequados a quem eu sou. Ou a quem me tornei. Com isso, com esse enorme distanciamento do que é visto como louvável socialmente, me privo de muita coisa e só posso imaginar o que a dita sociedade fala de mim pelas costas. Desde o meu núcleo familiar até os mais distantes conhecidos. Essa constatação de que sou um inútil infantilizado tem me incomodado nos últimos tempos.

21h17. Acho que a Gatinha vem se distanciando de mim, creio que é o mais saudável para ela. Está com um namorado gente fina, prosperando no trabalho, não há espaços emocionais que eu possa preencher, logo me torno figura terciária no seu grau de prioridades. Nada mais justo. Sou só eu que estou percebendo isso ou o meu texto está me pintando como uma figura deprimente? Como um frustrado? Como um inútil? Que coisa mais chata, eu preciso entender e aceitar quem eu sou. É tudo o que tenho e, afora pela namorada, não há nada que a sociedade e seus pré-requisitos possam me oferecer. Sim, não posso esquecer das saídas com os meus amigos, isso a sociedade me oferece e é muito importante também. Mesmo sendo um pária social, sinto vontade de imergir na sociedade uma vez ou outra, respirar outros ares, ver novas cores, outras ideias, rostos amigos. Ver sorrisos. Me divertir de forma outra que não escrevendo. Mas esse pensamento de que sou...

21h32. Minha mãe entrou aqui para me dar as últimas instruções da noite e esqueci o que estava dizendo, só lembro que era coisa baixo astral. Quanto mais me fecho em mim, mais difícil fica fazer o movimento contrário, me abrir para o mundo, me mesclar à sociedade. Mesmo os meus amigos. Mas vou deixar isso tudo para lá e me focar no aqui e agora, na minha despedida do quarto-ilha. Acho que, para variar, vou escrever no Desabafos do Vate. Faz tempo que não publico nada lá. E vou jogar o Mario. Isso eu vou fazer agora. Descobrir se a loja de roupas vende sangue extra. Vai vender. 21h40. Vamos ver.

1h02. Vendeu e eu consegui três objetivos, de cinco ou seis. Depois fui escrever dois contos eróticos no Desabafos do Vate. Foi um exercício diferente. Vou ligar o ar. O mundo é tão diferente para mim agora. Eu me torno outra pessoa. Uma pessoa avessa às pessoas. Uma pessoa às avessas. Não sei mais bem o que é ser um ser social. Às vezes cogito abandonar de vez a sociedade e não sair mais do meu quarto. Isso nos períodos de pico como agora. Por outro lado, minha mãe disse que meu padrasto ficou impressionado em quão querido eu era pelos seus filhos. Isso é porque guardam recordação de um eu que não existe mais. Eu praticamente desisti da vida para me tornar escrita. Nesse momento, não quero mais nada do que o que tenho aqui e agora, Coca Zero, o Vaporfi, alguns Marlboros ainda para fumar, uma temperatura agradável, paçoca para comer com feijão, a madrugada ao som Björk e, claro, o meu computador e isso. Com o Mario, lido quando acordar. Ou não. Sei que quero poupá-lo ao máximo. Não tão ao máximo assim. Tem duas roupas do Mario que são... não sei nem dizer, um grande bônus para o jogo. Uma ainda não consegui. Mas conseguirei. Estou me sentindo menos bicho do mato agora. Ainda bem que passou mais. Acho que vou jogar um pouco. Vou nada. Lembrei agora do busto do Hulk. Eita negócio invocado danado. Como já disse em outro post, poucas pessoas vão captar o que vejo na peça, mas ela será impactante para quase todos que a virem pela primeira vez. Pelo menos, assim eu suponho ou desejaria que fosse. Minha mãe vai achar a Björk dos bonecos, ou seja, o único que ela não vai gostar nem a pau. Utopia tem uns sons que só se percebe muito depois. Ou eu só percebo muito depois. Será que aquele fone que enfia no ouvido faz realmente mais mal que o outro normal? Earbuds fazem mais mal que headphones?

2h04. Estou sem vontade de escrever aqui. Acho que vou dormir dentro em breve. Já estou com o calção do pijama, pense numa peça de roupa confortável e agradável de usar. Prefiro usá-la a dormir nu, até porque tenho vergonha da minha nudez. Olhei para o Homem-Aranha Simbionte, estátua pequena que tenho ao lado do meu computador, e me lembrei do maravilhoso mundo dos bonecos porque tentei uma entrevista com os escultores dessa peça sem nenhum resultado. Kucharek Brothers. Se não me engano escreve assim.

2h30. Meu irmão EUA indicou que assistíssemos “What The Health” no Facebook. E ele não é de Facebook, deve ter ficado muito impressionado com o documentário. Anotei aqui para quem sabe lembrar. Se ele recomenda, eu recomendo, mesmo sem ver.

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12h06. O despertar, sempre um momento baixo do meu dia.

12h19. Parece que o meu primo urbano quer passar aqui hoje a julgar pela última mensagem que me enviou. Não abri o seu chat no WhatsApp para ler as demais mensagens que enviou porque não quero marcá-las como lidas, não tenho certeza se estou disposto a me encontrar com ele hoje. Meu quarto está todo desarrumado. Agora certamente não quero encontrar, ainda estou acordando e, portanto, muito antissocial. Ai, ai, o começo da minha jornada diária na existência sempre é desconfortável para mim. Tenho que quebrar esse mito que estou criando em minha cabeça. Mas acho despertar um saco. Hoje até que as coisas então engrenando rápido.

12h40. Estava enchendo o Vaporfi e olhando a internet.

12h48. Vou me dar uma hora de aclimatação com a realidade para tomar um banho e arrumar a sacola de roupas que levarei hoje para a casa do meu primo-irmão. Penso em arriscar mudar a data de cobrança do busto do Hulk para o final do mês, mas tenho medo que isso acarrete novos problemas com o cartão de crédito, então melhor não mexer. Fevereiro vai ser o porradão no meu cartão de crédito. E depois vem a porrada ainda maior quando o Hulk chegar ao Brasil. O que mais temo é que violem a caixa, tenho a sensação de que farão isso. Torço muito que não arranhem a pintura da peça e que de fato entreguem, coisa que não aconteceu com as camisas que comprei, as últimas coisas que pedi para serem enviadas do estrangeiro para cá. Meu sobrinho, filho do meu irmão JP, disse que gostou do meu tênis. Curioso um guri de quatro anos se interessar por isso. Acho que estou começando a despelar da praia. Sim, estou. Tirei uma outra foto do “resumo da minha vida” e vi um vídeo que enviaram onde mulheres agridem homens, na sua maioria ébrios. Não entendo como compartilham isso, coisa mais degradante. A miséria humana não tem limites.

13h19. Começo a ficar mais esperto e mais propenso a receber o meu primo urbano aqui em casa. Por outro lado, bate uma preguiça forte de tomar banho. Quando der 14h30, no máximo, eu vou tomar banho e arrumar as minhas coisas e aí leio as mensagens do meu primo e respondo. Vou revisar e postar esse texto. Como combinei, um dia por texto.


  

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

BATIZADO E ANIVERSÁRIO



5h27. Acordei hoje com uma crise de proctalgia fugax, tudo me leva a crer que este é o mal que me acomete de tempos em tempos, uma dor forte e chata na região do cóccix que, graças, não dura mais que 15 minutos. Não dormi bem, dormi pouco (fui me deitar por volta de uma da manhã) e mal. Acordei diversas vezes durante a noite preocupado com o horário do evento de hoje. Minha mãe e meu padrasto ainda dormem. Eu estou zoró de sono, mas não adianta tentar dormir agora se minha mãe disse que iria me acordar às 6h00. Aproveitei e mandei um e-mail de agradecimento à incansável garota da Sideshow que lidou com o problema do meu cartão e o solucionou. Meus olhos ardem. Acho que vou tentar jogar um pouco de Mario. É só escrever a frase que a vontade se esvai. Acho que vou deitar mais um pouco. Vou é tomar um banho para já ficar pronto e não ter estresse. Nossa, como quis ter essa estátua do Homem-Aranha Simbionte que tenho agora à minha frente. A mesma coisa para a Rei Ayanami e o Coisa. Às vezes me impressiono como a existência sorriu para mim. Quase todas as figuras que tenho no meu quarto eu quis muito adquirir, poucas são aquelas que eu queira me desfazer por ter sido uma compra mais de impulso. A maioria foi muito namorada e pesquisada antes da aquisição. Esperei o momento certo para tê-las em minha coleção, a melhor oferta de um vendedor confiável. Anos esperei para que, após a compra, elas se materializassem em minha mesa, tendo ficadas guardadas todo esse tempo no porão do meu irmão. Ainda há outras para virem de lá, mas uma parte significativa já aportou aqui. Graças aos esforços de familiares, especialmente do pai da minha cunhada e do meu irmão. Não posso deixar de mencionar minha mãe que nessa viagem que fizemos fez o máximo para trazer o maior número de peças possível. Nem acredito que tenho a Hatsune Miku Mebae Version dentro de uma caixa ali na prateleira. A caixa é grande, embora a boneca não seja, e mamãe arrumou um lugar para ela dentro das nossas bagagens. Foi massa. E, de quebra, ainda trouxe o Nintendo Switch com os dois melhores jogos do sistema até agora. E provavelmente até o seu final. Se bem que temos um Metroid Prime no caminho. Confesso que estou com sentimentos ambíguos em relação ao jogo. Talvez seja para jogar com um Joy-Con em cada mão, desatrelados do grip, o que levará tempo para me acostumar. Mas não devo pensar nele agora. Ainda tenho dois jogos gigantes para zerar. Dois? Eu tenho por volta de duas dezenas de grandes jogos para zerar. Eu tenho três consoles só com a nata dos games lançados para cada um e não joguei uma fração dos jogos que possuo. Espero voltar a gostar de videogames com o Nintendo Switch.

6h05. Já ouço movimentação pela casa, em breve minha mãe virá aqui. Acho que vou logo tomar banho.

6h21. Tomei um banho meia-boca, mas já estou pronto. Falta as meias e sapatos apenas. Sou daqueles que tem mais prazer em gastar dinheiro do que em fazer dinheiro. Mas já fui mais gastador. Aliás, não acho que tenha mudado muito, o fato é que não há mais coisas que me interesso em ter.

7h21. Estava jogando Mario até agora, pena que não posso contar do jogo. Estou muito avançado nele. Mas voltou a ser uma delícia. Minha nota volta a ser 10 e está no meu top 3 de melhores jogos de todos os tempos.

19h05. Estou de volta da Paraíba e trouxe comigo alguns e-mails que escrevi durante a viagem.

Assunto: Batizado
Já começamos bem, com meu padrasto armando um barraco no posto de gasolina. Meu padrasto está estressado. Finalmente estamos a caminho. É difícil escrever com o carro tremendo. 8:21. O estresse impera no carro. É incrível como esse casal se estressa. Mutuamente inclusive.

8:33. Estamos na BR. Conversa-se sobre religião e genética. Combinação curiosa. Estamos no carro, além do casal, minha irmã PE e eu.

8:48. Soube que Sandy completou 35 anos, cinco anos não são nada na idade em que estamos. Hahaha.

8:56. Minha amiga do CAPS conversa comigo. Minha mãe fala do seu teste de memória na consulta com a neurologista.

10:13. Estamos na igreja, o batizado está prestes a começar. Vou fumar ali fora o Vaporfi. Só trouxe ele.

10:22. O batismo começou. Vou tentar tirar uma foto do Jesus estiloso dessa igreja. Parece que vai ser uma cerimônia rápida.

10:32. Acho que já está no final. Já botaram água, óleo e agora a luz, simbolizada por uma vela. Agora as consagram à Maria.

10:40. Acabou vou tentar tirar uma foto de Jesus.






Assunto: Aniversário

Estou na casa do meu irmão JP. 11:41. O aniversário vai ser no apartamento. Estou na escada dando umas baforadas no Vaporfi e aproveito para escrever um pouquinho e me isolar. Meu irmão JP lê o meu blog. Que vergonha. Ele encomendou um Xbox One S com Kinect e adaptador para o filho mais velho jogar Just Dance, mas disse que está pensando em tirar uma casquinha. Hehehe. Ele sabia que eu tinha o Switch por causa do blog.



12:52. Incrível como o dia rende quando se acorda às cinco da manhã. Ainda não teria despertado se não fosse um dia especial. Não sei mais o que dizer, tive uma conversa com o meu padrasto e ele disse que, com o avanço das inteligências artificiais, em 150 anos quem não souber programar será um analfabeto para as profissões do futuro. Meu irmão JP tem um problema sob seus pés, o quarto do bebê do andar de baixo fica exatamente onde é a sala dele e a vizinha veio pela terceira vez reclamar do barulho. Estou com sono. Escrever nessa telinha com esse tecladinho contribui para isso.

14:22. Ainda estamos na festa. Os parabéns já foram cantados e as fotos tiradas. Não sei o que vai acontecer ou o que é preciso acontecer para que partamos. Não que eu desgoste das pessoas, pelo contrário, mas estou cansado. Pensar que ainda tem uma viagem para voltar...

14:45. Estou quase pedindo para dar uma deitada para ver se deixo um pouco desse sono para trás.

15:12. Vendo meu irmão JP casado, com filhos e um lar, se virando sozinho em outra cidade, fico a me indagar o que deu errado comigo, eu que comecei tão bem na corrida da vida, estanquei e fui ultrapassado por todos os meus irmãos. Se queria trocar de vida com eles? Confesso que não. O que queria, para ser sincero, era estar de volta ao meu quarto-ilha, que pode ser considerado um lugar medíocre para todos os demais, mas é o meu lugar, o meu reino. Ou posso pensar como sendo a minha gaiola, que depois de tanto tempo e tantas vezes aprisionado, desaprendi a alçar asas para enfrentar o mundão. Acho essa metáfora com o pássaro que se acostumou ao cativeiro bastante condizente com o meu caso.

16:12. Estamos no carro, conversando sobre o emprego da minha irmã PE. Fui muito bem servido pelos anfitriões, a esposa do meu irmão JP foi super comigo, um doce. E nem dei um beijo de despedida nela. Fiquei triste comigo por causa disso. Mas não há nada que eu possa fazer, só ser mais cortês da próxima vez.

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19h08. Foram esses os e-mails que me enviei. Me encontro muito cansado e meio zoró devido ao horário em que acordei. Não sei quanto tempo durarei acordado, mas prevejo que não muito (mas adoro desdizer minhas previsões). Não estou nem com disposição de jogar o Mario, que está numa parte muito legal do jogo. Não sei o que dizer.

19h13. Continuo sem saber o que dizer. É bom estar de volta ao meu amado quarto-ilha, já em clima de despedida, pois irei passar, a partir do dia 30, nove ou dez dias na casa da minha tia-mãe por conta de uma viagem indispensável que mamãe e meu padrasto precisam fazer. Não sei se o Sai Dessa Noia foi hoje, mas espero que não.

19h21. Vi agora no Facebook, é sábado que vem. Mesmo se meu primo-irmão não quiser ir, acho que vou. O acho não é pela insegurança de sair só, mas a incerteza de disposição para tal feito. Talvez meu primo queira ir e de lá esticar até Os Barbas, mas, caso vá, não arredarei pé do Clube Anárquico Parasita para ir a esse outro bloco. Novamente, eu acho. Dizem que Os Barbas está muito lotado, parece Olinda e essa não é uma comparação nada instigante para mim. Mas tudo é possível. São tão próximos um do outro que posso ir lá conferir. E voltar para o Sai Dessa Noia. É onde encontro a maioria dos meus amigos e conhecidos. Não sei mais se tenho amigos de verdade ou só conhecidos. Claro que há meu primo-irmão e meu primo urbano, meu amigo cineasta e há a Gatinha, são as pessoas mais próximas a mim nesse espaço-tempo em que me encontro. Não sei se é pouco ou é muito, mas não me sinto extremamente íntimo de mais ninguém, embora haja laços que queira voltar a estreitar e o Sai Dessa Noia é uma ótima oportunidade para isso. Por falar em amizades, não sei se meu amigo cineasta deu os CDs de Mallu às minhas amigas psicólogas, mas não recebi nenhum obrigado. Não dei os presentes para receber obrigado, mas para catequizá-las e agradá-las. E sabe de uma coisa, dane-se. Não estou nem aí, embora o dane-se é uma resposta um tanto agressiva que revela uma certa reação emocional à história toda. Toda vez que chego de uma viagem, de uma privação demorada do meu quarto-ilha, demoro um tempo para me aclimatar, bate um leve baixo astral. Acho que ocorrerá o mesmo quando regressar desse período na casa do meu primo-irmão. Meus olhos ardem. Meu pai me pedia com seis anos de idade para ir comprar cervejas para ele num boteco a alguns quarteirões da casa em que morávamos na Cidade Universitária. Achava um saco como ele achava um saco ter que acordar de quatro e meia da manhã para levar um copo de água com limão para o meu avô na loja quando criança. Mas fiz todas as vezes que me ordenou como ele fez todas as vezes em que foi ordenado. Interessante como, sem perceber, um filho repete padrões de seus pais com os filhos. Acho que meu pai nunca se apercebeu disso. Eu não havia me apercebido disso até agora. O que ele me pedia não era muito diferente do que meu avô pedia. E que ele odiava fazer. E agora pensando no que meu pai disse e que ficou na minha cabeça desde que o meu primo-irmão me contou, que o meu problema é que eu tinha a mentalidade de uma criança de 8 anos de idade, talvez meu pai falasse isso com uma ponta de inveja, pois sempre alardeou que teve uma infância perdida. Mas não vou revirar velhos fantasmas. Meu pai se foi e seu impacto na minha vida foi colossal, sem dúvida a pessoa que mais me impressionou e influenciou na minha vida. Minha mãe vem em segundo lugar em termos de influência, mas nem de longe era alguém tão impressionante quanto ele. Em terceiro vêm empatados Maria, o Imperador da Casqueira e meu irmão. Meu irmão talvez seja ainda mais impressionante que meu pai em alguns aspectos. Nos aspectos que realmente importam. Embora inteligência impressione também, a moral e a ética me impressionam mais, talvez porque tenha mais de inteligência e fique a dever muito nos aspectos morais e éticos. Sempre fui mais malandro e transgressor que o meu irmão e a convivência com outros como eu nas internações certamente não me estimularam ou influenciaram positivamente. Por isso temo o poder e me corromper com ele. Por isso estou tão confortável como inválido civilmente, como o grande inútil que me tornei. Minto. A verdade é que me dizer inválido, curatelado, como seja, me causa constrangimento, acho que as pessoas me têm por vagabundo. Nenhuma delas, entretanto, passou pelo inferno em vida que passei. Só eu sei o agudíssimo sofrimento que atravessei. Que me julguem me incomoda, mas não me incomoda um centésimo, um milésimo do que me incomodaria entrar em um novo ciclo de depressão profunda e abuso de drogas. Acho que escrevo para provar a mim mesmo que sou produtivo. Para não me sentir tão inútil quanto a minha condição faz supor. Talvez essa seja a mola mestra desses textos, mas não fico pensando nisso quando escrevo (exceto agora). Se essa ânsia de ser produtivo a meu modo existe, age em nível subconsciente. Eu acredito que escrevo primeiramente por que me dá prazer e sentido à vida. Com a narrativa da minha vida e dos pensamentos que me cruzam a cabeça, a possibilidade de burnout praticamente inexiste, pois apenas narro o que sai de mim ou o que experimento da existência, então sempre me há assunto e sempre há palavras para dizê-lo.

20h21. Na festa hoje houve momentos de constrangimento social, mas acho que me virei bem. Só não me despedi direito da minha cunhada e de sua família, eu creio. Houve um momento meio tenso quando sentamos eu e meu padrasto para almoçar, mas acho que conseguimos dialogar razoavelmente bem. Foi um bom exercício social e, de zero a dez, tirei 5,5 ou 6. Não fui tão comunicativo quanto a minha mãe e me isolei em alguns momentos. Aproveitei a disposição da casa para me alojar na varanda. Havia uma bela vista para o mar, de um colorido bonito que esqueci de fotografar, ainda estou me acostumando à ideia de que tenho uma boa câmera à minha disposição e que isso enriquece a enfadonha narrativa desse blog. Tirei uma foto do céu que achei particularmente belo porque gordo e escuro de chuva.





20h33. Outras fotos que não sei se compartilhei aqui foram desse mimo que o meu sobrinho, filho do meu irmão EUA fez para mim.






20h38. Ainda não me acostumei com o novo nome do meu blog. Acho que menos pelo nome, que sempre desejei que fosse o nome da minha obra, e mais pelo layout. Qualquer coisa, posso ficar trocando de nome ao meu bel prazer, tenho todos os headers prontos e substituí-los é facílimo.  

20h47. Mamãe veio aqui para se despedir e me dar os últimos comandos da noite, pois já vai se retirar. Aproveitou e passou hidratante na parte do meu corpo torrada pelo sol da praia que peguei com o meu primo-irmão há alguns dias. Está menos ardido e dolorido, acho que despelarei em breve. Realmente ficou bastante vermelho. O sol é cruel, na hora não me apercebo a gravidade do estrago, mas basta sair debaixo dele para sentir o drama. Talvez o hidratante esteja mesmo ajudando a reduzir os efeitos solares na minha epiderme, não sei. Me senti meio burro hoje e acho que estou ficando mesmo. Ouvi duas explicações, uma sobre um composto sobre o qual o meu padrasto pretende desenvolver uma pesquisa (revolucionária, na minha opinião) e outra sobre probabilidade e estatística e não tenho certeza de compreendi direito ambas. Me sinto muito burro quando não consigo compreender algo. E isso se faz cada dia mais constante. Constante é exagero, mas menos esporádico. Sei lá, fato é que me sinto muito burro quando não compreendo algo e agora tenho vergonha para indagar mais sobre o assunto a fim de compreender melhor. Ainda isso! Mau Sapão, mau Sapão (será que alguém conhece a referência ao desenho animado dos anos 80? Nem lembro o nome do desenho, mas essa frase me vem à cabeça com muita naturalidade e intimidade, ficou definitivamente marcada na minha memória).

21h04. Novamente me falta o que dizer. O irmão da minha cunhada deve ter me achado um cara muito boçal por não ter me comunicado direito com ele. Tive vergonha. Não consigo me ver como um homem de 40 anos que não tem que ter vergonha dessas coisas, mas foi como se deu e frequentemente tem se dado. Estou com frio, pois estou sem camisa devido ao hidratante, mas acho que a pele já o absorveu em sua maioria, vou vestir a camisa do pijama.

21h15. “Utopia” definitivamente ficou ligado a Mario Odyssey e ao Switch. Também aos EUA. Bateu saudade dos EUA, se pudesse me teleportar para lá para passar meia horinha seria massa.

21h19. Não sei se vou dormir logo, se fico por aqui mais um pouco, se jogue um pouco de Mario numa missão bem pouco demandante, que já sei até qual é. Sei não. Dormir é o que menos me apetece. Vixe, quase me bateu uma fissura de cola agora. Foi por perigosamente pouco e totalmente despropositada pois estou de bem com a vida nesse momento. Que pensamento intrusivo mais escroto. Gostei não. Mas deixa coisa ruim para lá. Acho que vou atrás das ovelhas do Mario dentro em breve.

21h35. Comi algumas comidinhas da festa que trouxemos da Paraíba e me sinto mais sonolento por causa disso. Vou fumar um digestivo.

21h45. Estou com sono mesmo. Acho que vou dormir dentro em breve. As ovelhas do Mario ficarão para amanhã. Não gosto de ter a casa desarrumada, ela me é tão mais agradável quanto mais organizada e limpa esteja. Para ficar perfeito mesmo some-se a isso uma comidinha feita no dia. A vida segue tranquila, macia, como gosto, estando em paz com ela. Estou muito curioso de encontrar a garota da noite. Estou mais curioso que acuado com essa perspectiva, mas tem se mostrado difícil esse encontro se realizar. Talvez nunca se realize. É a vida. O que diria a ela? Boa pergunta. Talvez nada. Talvez emendássemos um bom papo. Talvez até ficássemos. Hahaha. Boa piada. Mas sinto curiosidade em saber o que se daria. Teria que descontar uma ou duas coisas sobre ela para vê-la como uma possibilidade uma vez mais. Não sei se conseguirei dar tal desconto. Eu poderia pensar que a vida é uma só, que não tenho muitas oportunidades, como o suposto encontro, e soltar o verbo. Mas isso só se a hipnose me ajudar. Não acredite que vá tomar essa atitude de livre e espontânea vontade. Vou é pegar o meu último copo de Coca

22h28. Nossa, o dia é mesmo longo para quem madruga, ainda é esse horário? Mesmo sendo cedo para mim me encontro destruído. Vou pegar outra saideira de Coca.

22h45. Estou meio down agora. Vou dormir.

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12h01. A pior parte do dia para mim é o despertar. O cair de volta na realidade. Ainda estou acordando.

12h11. Aos poucos Tico e Teco vão se entendendo melhor e o mar de tédio que despertar se me apresenta abre-se para que eu possa atravessar com paz de espírito o meu tempo de vigília. Talvez amanhã eu vá para a casa do meu primo-irmão. Não quero pensar nisso agora, não quero pensar agora. Não sei por que acordar é sempre assim, chato. Queria voltar a dormir.

12h29. Peguei mais um copo de Coca, o penúltimo, se não for comprar mais. Espero que mamãe libere a grana para eu ir.

12h38. Mamãe adentrou aqui com sua série habitual de comandos. É muita informação para uma mente que desperta. Não assimilei tudo. Ela pelo menos confirmou que eu vou amanhã para casa da minha tia-mãe. Me peguei pensando em uma menina encantadora que encontrei há cerca de um ou dois anos, à época das garrafinhas da Coca-Cola. Lembro porque fiz uma com o seu nome e a presenteei, sob protestos, pois ela não quis aceitar e eu não quis receber de volta, disse algo como se não quiser, joga no lixo, dei as costas e saí para nunca mais falar com ela, embora muitas vezes tenhamos nos cruzado depois do incidente na Casa Astral. Tenho toda a coleção das mini Coca-Colas. Mas me prometi escrever um post para cada dia, não acumular vários dias num texto só. Então vou parar por aqui, revisar e postar.






domingo, 28 de janeiro de 2018

SAÍDA PARA ESTELITA E IRAQUE




17h29. Acho que faltou luz de ontem para hoje, pois perdi um trecho que me lembro vivamente de ter escrito no meu blog. Diz respeito à seguinte placa que vi na piscina do meu condomínio, uma atualização da placa antiga, com ainda mais normas (esdrúxulas).





Você não sabe como essa placa me enerva e como eu vejo que o cerceamento de liberdades individuais aumentou nos últimos 25 anos, não apenas no mundão, mas no mundinho do meu condomínio. Lembro que há duas décadas, os moradores velhos e jovens, nas animadas festas de réveillon que aconteciam aqui, tomavam banho de piscina de madrugada e consumiam suas cervejas e outros à beira da piscina nos finais de semana sem que isso causasse o mínimo problema ou constrangimento a ninguém. Agora querem regular tudo, como se privar os condôminos do uso do seu patrimônio fosse fazer uma bem maior à comunidade. Ainda encheram a área da piscina com câmeras para vigiar os próprios moradores. Acho isso o cúmulo. Bem, sou um velho dinossauro agora, ou como diria um dos ilustres moradores daqui e aqui até hoje, sou um “lobo existencial”. Queria gritar aqui a minha queixa já que ela não encontra eco fora do meu blog. Aposto que todos hoje achem pertinente a proibição de usar churrasqueiras de menor porte na área comum do condomínio, uma regra que não vejo o mínimo sentido de existir. Acredito que essa mania de cagar regras só desmotive os jovens, principais usuários da área da piscina, a se utilizar dela. Em vez de tornar o local convidativo e lúdico, parece que visam torná-lo inóspito. Vade retro. Vou jogar Mario Odyssey, que está numa parte muito próxima do final e particularmente desafiadora (leia-se chata). Antes, preciso relembrar uma frase que minha mãe me disse e que me calou fundo, depois de insistir sem sucesso que eu almoçasse mesmo estando sem fome, ela soltou, “me desculpe, esqueci que você tem 40 anos”. A frase me desceu quadrada não sei bem por quê. É um fato que eu tenho 40 anos e que ela deveria interferir menos na minha vida, respeitar os meus maneirismos, assim como eu respeito os dela, mas ela falou no tom de você é quem sabe de você, eu cansei, dane-se. Tal postura, se se mostrasse verdadeira, deveria me trazer grande alívio, mas vejo que estou tão acostumado a ser tratado como criança que fiquei um tanto desolado. Sei, entretanto, que ela não vai conseguir mudar o seu jeito de ser. Seria muito estranho se isso se desse. Me sentiria ainda mais só do que me sinto, eu acho. Não sei. Penso que talvez a forma como mamãe me trate e a minha aquiescência a respeito dela me infantilize. Eu me acho velho demais em muitas coisas e uma criança desamparada em outras tantas, o que não é uma postura saudável. Acho que tudo isso é para não me enxergar como homem de 40 anos. Não gosto de me ver como homem de 40 anos. Não me sinto homem de 40 anos psicologicamente. Me sinto fisicamente. Psicologicamente, me vejo ambulando entre um ancião solitário de 70 anos e um garoto de 12 anos. Ou 8, como sugeriu um dia meu pai ao meu primo-irmão num desses longínquos anos que a vida só traz em recordação e que meu primo decidiu rememorar ontem na praia, me causando forte impressão. Não sabia que meu pai guardava essa impressão de mim. A achei tão verdadeira, me vi tanto nessa frase que isso gerou um profundo desconforto na alma. Me gerou mais ainda porque não quero mudar quem eu sou. Minto. Quero mudar em aspectos essenciais, no lidar com garotas, no lidar com games, no lidar comigo. Mas quero isso tudo de forma fácil, através da hipnose, uma possibilidade que se alevanta com o meu primo-irmão treinando para se tornar um hipnotizador. Gosto do caminho mais fácil e sempre tive tremenda curiosidade de ser hipnotizado. Voltando à minha mãe, não sei o que se dá com ela. Vive com dores e zonzeiras, vive não se sentindo bem fisicamente. Me preocupa isso, temo que em um ou dois anos torne-se uma inválida. Não sei se isso é tudo por causa do remédio do tratamento de câncer, mas espero muito que seja.

18h34. Ela agora me disse que sua pressão oscilou abruptamente. Isso me põe preocupado. Vou jogar Mario Odyssey, qualquer coisa ela me chama, já tirei até o som para poder escutá-la. Pobre mulher, não devia se estressar ou sofrer tanto. E ela vem se tornando melhor em vários aspectos.

19h20. Joguei Mario Odyssey até agora, acho que cheguei no mestre final, mas com já disse reiteradas vezes, não gosto de mestres. Esse até que não é dos mais difíceis, mas não é tão divertido quanto o mestre final de Super Mario Galaxy. Dentro em breve eu tento de novo. Queria e não queria sair hoje. Estou apreensivo de novamente me calar e não interagir com a galera. Ainda mais com o agravante de ter colocado aquele post para o grupo. Não sei mesmo. Sei que amanhã não poderei sair, pois haverá o aniversário dos netos consanguíneos do meu padrasto no domingo e acho que partiremos cedo no domingo. Se é que é domingo. Se for sábado, não poderei sair hoje. Mas creio que é domingo. Meu primo quer ir com o meu amigo professor para isso:





E disse para eu me apressar porque marcou com o meu amigo professor no posto perto da casa deste de 20h30. Estou me animando, mas esse processo tem que se dar mais rápido. Vou falar com mamãe.

20h05. Minha mãe liberou. Já tomei banho e estou pronto. Só esperando o celular dar mais uma carga. E a resposta do meu primo.

2h41. Cheguei em casa na hora que combinei. Se errei, errei por muito pouco. Lembro da moça da Sideshow, cujo avatar é a noiva de Chucky, e o que ela me comunicou, que os pagamentos foram efetivados e que eu de fato vou ser possuidor do meu tão sonhado busto do Hulk e da Red Sonja, a melhor escultura de cabeça feminina que eu já vi. As lapadas vão ser no frete e nos impostos. Death and taxes. Preciso poupar Coca-Cola, tem pouca. Mamãe teve uma atitude muito louvável na forma como se comunicou comigo, mandou-me só uma mensagem de WhatsApp e, mal sabe ela que só entrei no Estelita graças a ela, pois sem identidade não entrava. Juro. E mamãe calhou de achar e me fazer levar a carteira de identidade hoje, coisa que não havia feito desde que aqui cheguei, vindo de terras estrangeiras. Foi um timing perfeito. Às vezes acho que mamãe e eu temos um laço telepático. Sei lá, ela quase certamente tem. Hahaha. Mas sério, eu já tive esse mesmo laço “telepático”, digamos assim, com duas ex-namoradas minhas. Eu queria que a Gatinha tomasse conta de mim na velhice.


3h04. Tirei a fita que estava no meu pulso e escrevi nela “Iraque 27/01/18” com um lápis 4B que tenho aqui. A coloquei carinhosamente no meu “bolo de memórias” onde guardo lembranças de momentos pitorescos da minha vida.

Assunto: Saída
21:07. Ainda estou na casa do meu primo-irmão. Não sei o que esperamos. Não sei o que esperar da noite. O que esperar de mim. Não sinto ansiedade no momento, pelo menos isso. Estou tranquilo. Penso no Mario Odyssey, que é o que estaria fazendo se estivesse em casa. Tenho todo o tempo do mundo para ele, saídas é que são as coisas raras e preciosas que fogem do meu cotidiano e me põem em situações diferentes, inusitadas, com pessoas que eu gosto e desconhecidas também.

22:53. O nosso amigo professor celebra a chegada do cara do isopor. Estamos de volta ao Estelita. Viemos mais cedo e nada rolava. Decidimos (decidiram, em verdade) ir para o Só Caldinho. Não agradou. Souberam não sei como que havia um palco rolando com música na praia do Polo Pina. Rumamos então para o Festeja Recife, onde passamos cerca de meia hora e voltamos.

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16h42. Pois é, a saída foi movimentada geograficamente, fomos para o Estelita, para o Festeja Verão, de volta ao Estelita e, de lá, para o Iraque. O que me lembro da noite? Lembro que quando chegamos ao Estelita não havia ninguém na rua, o estabelecimento estava trancado, enfim, com toda a aparência de que não iria rolar nada. Tocamos a campainha e fomos atendidos por um carinha sem muito interesse pela nossa presença que disse que só poderíamos entrar depois que consumíssemos o que estávamos bebendo. Quem estava consumindo, consumiu e entramos para encontrar o local completamente vazio, apenas com os funcionários fora de seus postos conversando. Depois de breve deliberação seguimos para o Só Caldinho onde nem cogitamos entrar. Decidiu-se então ir para o Polo Pina. Enquanto caminhávamos por lá, ficou-se sabendo, não me pergunte como, que havia um palco na beira da praia ali perto e que estava rolando um show. Nos dirigimos para lá e o show era dessas músicas populares de hoje em dia. Ficamos por lá cerca de meia hora, 40 minutos, período em que conversei com o meu amigo projetista sobre o seu curso de designer, entre outras coisas, e voltamos para o Estelita, pois ninguém entrou na vibe do show e porque havia duas meninas do Tinder na jogada. Ao voltarmos ao bar, já havia gente do lado de fora e ficamos mais animados com o prospecto. Enquanto consumíamos o que tínhamos que tínhamos comprado no Festeja Recife para entrar, as duas garotas do Tinder chegaram e entramos. O grupo de cinco se dividiu, ficamos meu primo-irmão, o nosso amigo projetista e eu conversando numa mesa e nossos outros dois amigos com as meninas em outra mesa. Ficamos conversando sobre projetos de carroceria e para-choques de caminhão, séries de TV, música e o hábito de colecionar vinis, dentre outros. Enquanto isso, a vontade do meu primo de partir para o Iraque crescia e se solidificava. O público era de uma faixa etária mais nova do que nós e minguado até aquela hora, os shows que iriam rolar eram covers de Blink 182 e Foo Fighters. O ambiente era interessante. Visualmente estimulante para mim. Eis algumas fotos.






O nosso amigo professor, saiu da mesa “Tinder” e veio ter conosco, lançou duas apostas à mesa, que o próximo presidente do Brasil vai ser de direita e que o próximo governador de Pernambuco não vai ser de um partido que não entendi se era PSB ou PSDB. De toda sorte, pouco depois a ideia de ir para o Iraque se consolidou e se materializou, me restava cerca de duas horas de noite, pois havia combinado com minha mãe que voltaria de 2h30. Tomado pelo ímpeto do meu primo, verifiquei se tinha verba para a entrada e consumação e decidi ir ao novo destino, abandonando o nosso amigo projetista como vela única do encontro Tinder. Ele não quis nos acompanhar porque o Estelita era perto de sua casa, muito mais que o Iraque, e seus vínculos mais estreitos eram com o nosso amigo professor. Tive certa pena de deixá-lo lá com os dois casais mais ele me certificou de que ficaria bem. Partimos meu primo-irmão e eu para o Iraque. Iríamos passar no meio do caminho na casa da nossa amiga de Bruxelas e com ela seguirmos para o Iraque, o que de fato fizemos. Chegando ao Iraque, nos deparamos com um movimento tão fraco quanto o do Estelita, mas, uma vez lá, com dois ingressos em mãos e sem muita alternativa outra para ir, visto que o Recife inteiro estava no Enquanto Isso na Sala de Justiça, decidimos entrar. Para mim foi ótimo, pois em vez de ficar no barulho sem conversar com ninguém enquanto os outros dançavam, bebiam e paqueravam, sentamo-nos numa mesa afastada do som, mas não o suficiente, e começamos, mesmo assim, a conversar os três. Sim, eu fui mais comunicativo e sociável do que da outra vez, muito mais, diria que me comuniquei tanto quanto qualquer outro. Isso foi ótimo, tanto no Estelita quanto no Iraque. O Iraque é ainda mais visualmente estimulante que o Estelita, pois é repleto de imagens exóticas e mensagens transgressoras ou politicamente incorretas, poderia ter tirado 50 fotos do lugar e não esgotar as mensagens e imagens que me chamaram atenção. Porém, só tirei essas.






Nossa amiga de Bruxelas ficou sinceramente feliz com o ingresso do meu primo-irmão no mestrado e pagou-lhe uma dose de uísque com Red Bull para celebrar a conquista. Abriram conversando sobre o tema do mestrado que me escapou muitas vezes à compreensão. Entendi apenas – e nem sei se entendi direito – que um dos filósofos que meu primo-irmão vai usar como alicerce teórico do seu mestrado tem como um de seus postulados que o homem vive com medo e à eterna sombra da morte, que a morte rouba um pouco de significado da vida ao mesmo tempo que empresta motivação para alcançarmos coisas que desejamos antes de morrer. Foi o que apreendi, mas não tenho certeza se foi isso que quiseram dizer. Nem me lembro o nome do filósofo e nem que me lembrasse saberia escrever. Conversamos também sobre shows inesquecíveis e que precisávamos ir antes dos artistas morrerem. A nossa amiga de Bruxelas conseguiu ir a shows bem legais, como o do Radiohead (e Kraftwerk e Los Hermanos), e pretende ir para o de Eric Clapton lá na Europa, eu acho. Soube que o pobre Eric está ficando irreparavelmente surdo e que talvez encerre sua carreira em breve. Um homem que teve o mesmo tanto de glória e de sofrimento na vida. Também conversamos sobre Berlim e a megafesta de virada de ano em Berlim a qual a nossa amiga de Bruxelas foi. Se disse apaixonada por Berlim e que a viagem de avião de Bruxelas para lá é somente 19,90 euros, 40 euros ida e volta com uma hora e meia de vôo. Limpeza. Enquanto conversávamos sobre isso, o nosso amigo bonitão e o conhecido nosso chegaram ao Iraque, conversamos sobre viver com os pais e que o mínimo que poderíamos fazer seria cumprir o que nos pedem, já que nos proporcionam abrigo e alimentação. Este é um ponto controverso para mim, pois há um momento em que a vontade da minha mãe colide frontalmente com a minha, me sinto invadido na minha individualidade e nesses momentos fica difícil me dobrar à sua vontade, até porque não acho a postura correta, preciso defender a minha independência. Por exemplo, quando após a nossa conversa deu-se a hora de eu voltar para casa, me senti constrangido por abandonar a galera contra a minha vontade. Estava bom, o papo estava fluindo, mas tive que abrir mão de tudo pelo combinado com a minha mãe. Um cara de 40 anos com horário de ir para casa imposto pela mãezinha. Soa um tanto ridículo. Foi como me senti. Mas me saí com o que apregoavam na conversa, que o mínimo que podemos fazer por nossos pais é obedecê-los em suas demandas e que era o que iria fazer naquele momento, obedecer uma demanda da minha mãe. O assunto foi muito oportuno e a conclusão a que chegaram mais oportuna ainda, me deixando menos constrangido com a constrição de horário imposta pela minha mãe. E o grupo se encontrava num impasse, metade queria ir para o Empório Sertanejo (acho que esse é o nome do lugar, nunca decoro, é o bar que fecha mais tarde e para onde todos que buscam uma saideira vão), mas minha amiga de Bruxelas queria permanecer no Iraque e meu primo-irmão parecia indeciso. Foi assim que os deixei e não sei que destino tomaram. Sei que vim para casa e não me desagradou vir. Mas fiquei embaraçado na hora de ter que chamar o Uber e partir. Não foi legal. Não intentava voltar para casa e o amigo bonitão e o conhecido haviam acabado de chegar. Mas assim se deu, se fui vítima de algum comentário jocoso por conta disso foi mais do que merecido. Cada um tem uma cruz para carregar. Estou achando o peso da minha plenamente suportável no momento. Sobre a inescapável morte roubar e dar sentido à vida, confesso que não sinto tal pressão da indesejada das gentes. Não tenho medo da morte. Ela não me rouba a paz de espírito. Não penso muito nela e, quando calho de pensar é geralmente a desejando, o que nunca é um bom sinal do meu estado interior. No mais, a morte passa longe dos meus pensamentos. Baseado em mim, essa pressão exercida pela consciência da finitude não se dá de forma tão opressiva, pelo menos em nível consciente, quanto o filósofo faz supor. Acho que ele mesmo tinha um medo excessivo da morte ou queria acrescentar algo novo à Filosofia e viu aí um caminho, sei lá, só sei que comigo não se dá assim. Minha amiga de Bruxelas, disse que vai rolar um show de Björk por lá, mas ela não sabe se vai, me pareceu que não iria. Nossa, como queria ir. É o show ao qual mais queria ir na vida. Ainda mais ouvindo “Utopia” diuturnamente como faço agora. Ah, durante a noite ouvi músicas que gosto, o que é uma raridade, ouvi Banda do Mar, Mallu Magalhães, Strokes, David Bowie, Depeche Mode e The Cure. Isso foi ótimo. Aliás toda a experiência foi muito boa. Foi uma noite que posso dizer que vivi com plenitude superior à que vinha experimentando. Fui mais sociável e isso foi o ponto positivo fundamental. Sim, também houve uma conversa sobre o Tinder, mas, como não uso o aplicativo (quando usei, ninguém que eu curti me curtiu de volta, então não deu em nada) não tive muito como opinar sobre o tópico. Sei que a conversa descambou para o tópico traição e a única coisa que comentei foi que a vez em que traí teve consequências horríveis na minha vida. Em resumo, a noite, do meu ponto de vista, foi assim.  

18h27. Minha cunhada quer o endereço do meu blog, mas tenho vergonha de que ela leia. O pior é que já marquei as mensagens como lidas. Acho que vou repartir com ela, se minha mãe lê, por que não ela? Mas estou com vergonha ainda, vou deixar essa ideia se cristalizar na minha cabeça. Estou tomando café e as rachaduras na xícara me encantam ou me encanta a capacidade humana de ver padrão no caos. É uma pequena obra de arte da existência, uma deterioração do objeto que agrega a ele um valor estético que não possuía quando novo, o fazendo mais interessante e curioso aos meus olhos.





18h46. Estou criando coragem para enfrentar o último mestre, eu acho, de Mario Odyssey. O mestre da zerada simples. Na zerada completa, em vez de mestres, dois novos cursos superdifíceis são abertos, sem save points no meio do longo e cruel caminho. Duvido que chegue a ver esses níveis se para atingi-los tiver que coletar todas as power moons do jogo, algo que simplesmente não serei capaz de fazer porque não tenho habilidade ou paciência suficientes. Quero ver como o meu primo-irmão se sairá no jogo, se gostará da nova aventura do Mario ou não. O final do jogo me desapontou um pouco, pois ficou mais platformer tradicional e menos inspirado que Mario Galaxy nesse aspecto. Eu gosto da proposta desse Mario muito mais que a do Galaxy, mas no somatório de todas as fases, acho que dá empate. Não sei. Talvez eu tenha uma leve tendência a preferir o Odyssey, mas ambos me deram extremo prazer em jogar. São o suprassumo dos videogames na minha opinião. Não há nada melhor. Nem o Zeldas. Esse Zelda, ai, esse Zelda... não sei se vou conseguir zerá-lo. Mas me esforçarei depois que extrair tudo o que conseguir (e quiser) extrair do Odyssey. Já sei que não vou conseguir pular corda 100 vezes, ou rebater a bola de vôlei 100 vezes, duas luas a menos para mim. Simplesmente não tenho as tais habilidade e paciência para tais desafios. Quem me dera eu estivesse enganado em relação a eles. Mas acho que não estou. E não quero falar de videogames agora.

19h02. Meu deus, a moça da Sideshow conseguiu resolver o problema com o meu cartão e debitar tanto a Red Sonja quanto o Hulk, agora acho que eles vão vir mesmo. Os meus dois últimos bonecos. O arremate glorioso da minha coleção. A maioria não vai entender o Hulk, não vão conseguir captar a beleza que eu vejo nele.

19h17. Ouvindo Infected Mushroom ao vivo, graças a minha amiga raver. Massa. Incrível que são só duas pessoas fazendo o som todinho, um canta e outro produz toda a instrumentação com um computador e outros equipamentos, mas todos digitais em cima de uma mesa. Muito curioso. Grande parte deve estar pré-programada, mesmo assim o resultado impressiona. O DJ é muito bom, faz um som incrível e eles só estão tocando músicas que eu conheço. Ou quase, essa que está passando agora eu não conheço. “Pink Nightmares” segundo os comentários. O curioso é que o público está ouvindo essa música supermovimentada, superdançante, sentados ou em pé parados. É estranho, mas é como eu gostaria de assistir a um show do Infected Mushroom, sentado e prestando atenção à performance, mas gostaria que as pessoas ao meu redor estivessem dançando loucamente, seria mais condizente com a vibração da música e faria um espetáculo mais completo para mim. Um dia ainda tenho que ir a uma rave vê-los. A minha amiga raver disse que me chamaria se rolasse uma com eles por aqui. Veremos. Por sinal vai ter uma rave hoje, chamada Liquid Sky. Não sei quem vai tocar, mas não posso sair hoje. Amanhã vou à Paraíba para o aniversário dos netos consanguíneos do meu padrasto. Já me foi avisado previamente e acho que estou preparado psicologicamente para o evento.

19h40. Fui no meu e-mail salvar as fotos que tirei ontem e vi a mensagem da garota da Sideshow. Chega me dá um frio na barriga saber que o Hulk vai um dia chegar aqui em casa. Estou cogitando muito em pedir para enviarem a Sonja também para cá. Vou ver se o Hulk chega inteiro, se tudo der certinho com ele, mando a Sonja para cá também. Meu irmão agradece e fica menos coisa para trazer de lá. Talvez com duas viagens seja possível ter a coleção toda aqui. Homem-Aranha e Rei Ayanami olham para mim com expressões enigmáticas. Hahaha. Nossa, hoje está particularmente quente. Vou abrir a janela.

19h48. Por que minha cunhada quer ler o meu blog? Que problema há nisso em verdade? Não sei a resposta para nenhuma das perguntas. Sei que só vou repartir quando mudar o nome que coloquei lá.

20h02. Reparti sem mudar nome nem nada. É porque gosto do macaquinho no header e não consegui diagramar o novo nome com o macaquinho. Mas vou mudar no devido tempo. Vou mudar agora. E, porque vi essa foto no WhatsApp da minha cunhada, resolvi reparti-la aqui. Frio de lascar.

Quando se descobre que frio e neve não estão tão diretamente relacionados
 como o nosso imaginário tropical costuma crer. Ou o meu imaginário costumava crer.
Os dias mais frios foram os que não nevaram


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20h17. Minha cunhada não viu ainda. Dá tempo de mudar o título do blog, acho que vou fazer isso.

20h23. Mudei. Mas ainda vou ver se cabe o macaquinho.

20h36. Coloquei o Macaquinho, mas ainda não estou satisfeito. Acho que a tipologia do nome, por estar maior, me pareceu grosseira para o tamanho, vou ver se ajeito isso.





20h47. Dei sorte, a primeira tipologia que escolhi coube bem mais legal que a de cima. Pelo menos eu achei mais elegante, menos grosseira.

20h52. Minha cunhada me respondeu, disse que não vai espalhar o endereço do blog para ninguém, Mudei o nome bem a tempo. Mas o post que está lá fala do título antigo, então fica tudo na mesma. Hahaha. Tanto trabalho por nada. Por nada, não. Finalmente coloquei o título que sempre quis na minha obra. Mesmo sem caber direito. Eu sempre sonhei que a obra que eu produzisse se chamasse assim. Como me convenço a cada dia que a minha obra é essa daqui, apenas isso e tudo isso para mim, resolvi nomeá-la com o título que sonhei ser de um livro sonhado que nunca existirá. Primeiro porque não me esforço para isso, segundo porque não sei fazer o networking para ser publicado e terceiro porque não tenho nada que mereça ser publicado, então, nada de livro, não preciso ter minhas palavras impressas em árvores mortas para me sentir bem. Me sinto bem com os gatos pingados que aportam por aqui. Ou gatas pingadas. Acho que mais que os EUA, o “Utopia” me lembra a minha fase Switch, minha fase Mario Odyssey. A fase que começo nos EUA e vem até agora. Ter o Switch, o Mario Odyssey, foi a melhor coisa que fiz para mim em um bom tempo. Me diverti muito e me divertirei muito ainda procurando as luas do jogo. Se bem que não posso desprezar o Hulk e a Red Sonja. Nem imagino o tamanho da caixa do Hulk. Também não posso desprezar os bonecos que trouxe com a ajuda incrível da minha mãe para o Brasil, eles tornam o meu ambiente de trabalho mais interessante e rico para mim, embora esteja meio poluído visualmente, eu me acostumei. E gosto de olhar para eles. Preciso responder à garota da Sideshow que resolveu o problema da cobrança dos bonecos.

Meus dois últimos bonecos. Um ciclo que se fecha na minha vida, mas que será eternizado no pequeno museu que se tornará o meu quarto. Museu de gosto duvidoso para a maioria dos seres humanos, que não veem tais estátuas como arte. E nem sei se são e pouco me importa a nomenclatura, me importa que acho lindas e invocados. São brinquedos de gente grande, eu sei. E que qualquer garota vai me achar infantilizado se entrar no meu quarto, principalmente se psicóloga, como é o caso da garota da noite. Mas a garota da noite não vai querer nada comigo. Para ser sincero acho que nenhuma garota vá entrar no meu quarto. Não na situação de minha parceira. Desencanei disso também. Deixa eu ser velho e gordo e só. Quarentão... ainda bem que ontem um dos caras da turma ao me descobrir com 40 anos disse que eu não parecia ter de forma nenhuma idade tão avançada. Quarentão mesmo assim e não há nada o que eu possa fazer. É daqui para pior. Acho que agora o peso da morte propagado pelo tal filósofo me atinge. Não terei outra chance. Joguei dez anos da minha vida no lixo, os perdi em clínicas e internamentos. Não só perdi tempo, perdi grande parte da habilidade de estar no mundo, regredi psicologicamente e agora sou praticamente um interno por opção no meu quarto. O escape que descobri na internação, escrever, é o escape que me cabe até hoje. É a coisa, quantas vezes disse isso, mais fácil e divertida que tenho para fazer. É uma grande inutilidade? Eu acho que para os outros é. Para mim é tão crucial quanto não desgostar da vida. Eu perguntei ao cara do Uber na volta do Iraque para casa, qual o sentido da vida dele. Ele me respondeu que só descobriria quando morresse (olhaí o tal do filósofo com razão). Eu disse a ele que o sentido da minha vida era escrever. Ele retrucou dizendo que tinha entendido que eu tinha perguntado qual o sentido de existir a vida. Eu disse a ele que esta era uma pergunta bem mais complexa e pensei cá com os meus botões, o sentido de existir vida é criar singularidades tecnológicas, mas resolvi calar esse pensamento comigo, não seria compreendido e a viagem já estava no fim para explicar qualquer coisa sobre o assunto para ele. O motorista, entretanto, não conseguiu elencar o sentido de sua existência. Por saber ou dar um sentido à minha vida me sinto um privilegiado. Não são todos que têm claramente um sentido na vida. Acredito que muitos encontrem esse sentido no trabalho, nos filhos ou nos dois juntos, mas a minha turma, a turma que encontrei ontem, não os vejo como possuidores de um sentido claro e vívido para existir, o hedonismo a que se entregam não constitui um sentido em si, eu creio. Não acho que uma noite como a de ontem seja o objeto maior de motivação para se viver que alguém possa ter. É algo agradável, estimulante, socialmente legal, mas é muito pouco para se tornar um propósito para existir. Não saberia dizer se são frustrados por não terem um sentido claro, sei que eu seria profundamente frustrado sem a escrita. Acho que não suportaria viver sem a escrita. Ela é o meu ar, meu chão, meu território, meu reino, ela sou eu, ela é o que me faz segurar as pontas e não despirocar, ela me preenche, me satisfaz, me liberta e me limita, é para onde eu corro em busca de abrigo, é a luz quando paira a escuridão. Se bem que percebi que há escuridões tão densas que me tiram até o ânimo de escrever. Quando isso ocorre, como ocorreu logo que regressei dos EUA e estava me aclimatando à minha realidade uma vez mais e o prospecto de viver trancado no meu quarto escrevendo me pareceu pequeno e pouco, me vi tremendamente frustrado e assustado. O que faria se tudo o que tenho é muito pouco? E, pior, se não há nada mais que eu queira? Me pareceu uma sinuca de bico e bateu o desespero, me bateu a vontade de cessar de existir. Mas aos poucos, os dias foram passando e eu fui novamente me adaptando ao meu reino de um homem só, a ser náufrago no meio da metrópole, sozinho no meu quarto-ilha com as minhas palavras. Palavras inúteis para a humanidade, pois nada acrescentam a ela. Mas o outro não é a razão principal dos meus escritos. Escrevo para saciar a mim mesmo. Para sentir os dedos tocando o teclado e ver as palavras se encadeando umas às outras e se transformando num texto. E agora que tenho uma câmera decente no celular consigo ilustrar as minhas postagens, o que me dá uma satisfação extra. Tenho um padrão de vida bastante superior à média dos brasileiros, pude utilizar o meu dinheiro para conquistar tudo o que quero materialmente. Estou saciado materialmente. O que quero ou está aqui no meu quarto ou está nos EUA ou está encomendado. Não há mais nada que eu deseje. Talvez surja. Mas, por ora, não necessito de mais nada na minha vida. A namorada? Desisti. Joguei a toalha. Não tenho mais a disponibilidade social ou não a tenho por ora para tal investimento. E não sei como me colocar para as garotas de hoje, não tenho a segurança ou energia sexual necessárias para isso, não sei ser ousado sem parecer descortês.

22h03. Mamãe atrapalhou todo o meu raciocínio agora me chamando para tomar os remédios e me alertando para o fato de que vou acordar de seis da manhã amanhã para irmos ao que soube agora ser o batizado das crianças. É pior do que eu esperava. Pensando bem, é bem pior do que esperava. Eu não poderei fumar nem o cigarro elétrico perto das crianças sob risco de meu padrasto dar um piti. Não sei se poderei escrever no celular enquanto estiver na igreja ou na festa, espero desesperadamente que sim. Deixarei o meu celular carregando durante a noite. Se bem que é sempre desagradável para mim e para os demais ficar digitando em público. Se fosse um bando de desconhecidos seria mais fácil, mas no meio da família... veremos. Mesmo se puder, não produzo bem no celular, digitar é difícil e devagar, o barulho ao redor me desconcentra, de toda sorte é melhor que nada. Nossa, como gostaria de não ir. Acordar a hora que quisesse, ficar aqui no meu quarto-ilha a escrever ou jogando Mario. Por falar em Mario, estou empacado no mestre final. Não posso pegar luas enquanto não passar dele. Espero que o mercador que aparece para me vender o dobro de sangue quando fracasso mais de cinco vezes, eu acho, surja o quanto antes, não quero grandes estresses para zerar o jogo. A zerada básica. E aí poder voltar nos mundos para pegar o resto das luas.

22h19. Uma coisa que percebi agora dando uma rápida olhada no WhatsApp da família materna é que eles, os quatro filhos da minha avó, minha mãe e meus tios, vivem a viajar e postar fotos das viagens. Acho que porque viajaram muito com os pais, desenvolveram esse gosto em suas vidas. É uma relação de causalidade meio esfarrapada essa, viu? Hahaha. Só sei que viajam bastante. A julgar pelo que postam nas redes sociais. Nada contra, cada um tenta ser feliz como pode e sabe. Eu faço o mesmo a meu modo, como posso julgá-los? Só não gosto de viajar. Realmente não gosto de viajar. A pequena viagem de amanhã para a Paraíba já me põe indisposto, que dirá viagens internacionais. O traslado é muitíssimo chato, cansativo, dolorido, demorado, monótono, desconfortável. Sair da minha zona de conforto é ruim e pronto. Só de pensar na possibilidade de encontrar com os vizinhos do prédio da minha irmã em Munique já me deixa agoniado, nervoso. Não queria encontrar com eles nunca mais. São pessoas maravilhosas, mas não sei mais viver esse papel de vizinho legal. Não estou mais disposto a isso. Ir para a casa de desconhecidos me expor. Parece coisa de uma outra pessoa que agora desconheço em mim. Nossa, como me sinto em paz no meu quarto-ilha. Quando penso que não estou lá, na sala esfumaçada dos vizinhos de Munique e sim de pijamas no meu quarto-ilha, com o Homem-Aranha e Rei Ayanami me olhando, com “Utopia” de Björk tocando, com o Switch... vou tentar matar esse mestre agora.

23h11. Passei do mestre, os créditos rolaram e... não vou dar spoiler. Agora tenho que catar luas em todos os mundos. Mas não vou fazer isso hoje, já-já vou dormir, tenho o tal batizado amanhã. Meu primo-irmão foi furtado, provavelmente no carnaval que foi hoje. Bem, como vou dormir dentro em breve, quero revisar e postar isso. Mas antes, um cigarro com Coca e muito gelo para comemorar o game zerado.

23h30. Fumei meu cigarro e não estou com vontade de revisar isso hoje. Vamos ver se a coragem me vem. Tinha uma coisa que queria dizer, mas me escapou. Se me escapou era porque não era importante. O que é importante é carregar a bateria boa do Vaporfi para amanhã, assim como o celular. Ah, lembrei, é uma besteira que nem sei se é verdade, mas ontem no Iraque tive a impressão de que com o passar do tempo e mesmo com a música alta eu conseguia ouvir melhor o que estava sendo conversado, como se o meu cérebro houvesse se adaptado e aprendido a abstrair a música e se focar só nas vozes dos meus interlocutores. A impressão foi muito nítida, visto que no começo dialogávamos com extrema dificuldade, mas quarenta minutos depois estávamos nos ouvindo tranquilamente. Acho que não aconteceu só comigo, em verdade, mas com o meu primo-irmão e com a nossa amiga de Bruxelas também. Os que chegaram depois, reclamaram da altura do som e da impossibilidade de conversar ali. Pode ter sido só impressão, mas tenho essa convicção de que o cérebro é muito adaptativo e capaz de pequenos milagres como esse. Falei dessa minha percepção para um dos que haviam chegado depois e ele não levou a sério. Posso estar equivocado, mas estava conversando tranquilamente como não aconteceu no começo. É como aqui, está tocando Björk, mas enquanto eu escrevo, ela não interfere, eu consigo abstrair da música e me focar na escrita. Acho um efeito semelhante. Bom, vou revisar.