quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ANDADA

14h53. Cá estou novamente. Conforme combinado comigo mesmo, caminharei até o Açude às 16h00. A preguiça é quase maior que a motivação para ir. Mas perder o bucho é uma meta muito desejada por mim, por isso vou. Não sei o quanto essas caminhadas ajudarão. Mas sei que atrapalhar é que não vão. E dizem que faz bem para a saúde. Fiz dez marinheiros agora. Acho que também não atrapalha. Preciso condicionar meus braços de alguma forma. Fiz mais dez por causa disso. Fiz mais quinze. Tá bom. Quinze me deixaram ofegante. Nossa, como estou fora de forma. Mas também não é fácil erguer 95 quilos. Hahahaha.

15h30. A hora da partida se aproxima e a preguiça impera. Qual será a reação da garota da noite ao ver meu vídeo cantando que nem um babaca? Que vergonha. Foi mandar e me arrepender na mesma hora. Hahahaha. Agora está lá no Facebook dela para ela ver quando quiser. Se quiser. Será que vai comentar algo? Algo de positivo? Será que lê isso? Acho que não. Será que lerá após ver aquela aberração? Meu deus, o que foi que eu fiz? Onde estava com a cabeça, passar por um papel desses, me gravar no meio da noite cantando uma música de amor para uma garota que eu mal conheço e que não dá a mínima para mim? Cantando é modo de dizer, não sou cantor e nunca fui. 15h42. O horário da partida se aproxima. Saco. Ouvindo “Utopia” ainda. Vai ter encontro com o meu amigo da piscina hoje. Só não terá se porventura o meu amigo jurista me chamar para uma sessão de Odyssey. Não, não é aquele videogame dos anos 80, mas a nova aventura do Super Mario. Fiz mais cinco marinheiros. 15h48. Quanto tempo deve dar daqui para lá para o Açude? Não sei, vou caminhar no meu ritmo. Não tem para querer apressar o passo, se fizer isso, vai me dar um monte de dor nas pernas e não chego nem lá. Eita, 15h52. Oito minutos até a partida. Não, só me levanto daqui às 16h00. O Açude não vai sair do lugar. E me levantar daqui às 16h00 não faz muita diferença. Para mim ou para o universo. Não queria encontrar com o meu amigo da piscina hoje, eis a verdade. Vou por obrigação. Mas vai ser bom, eu vou poder dizer a ele que andei até o Açude hoje, ele que fez tanta pressão para eu começar a caminhar. 16h00. Vou lá.

17h33. Devo ter voltado umas 17h15. Estava vendo com mamãe o celular que vamos comprar para substituir o meu.

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13h12. Ouvi ontem desabafos do meu amigo da piscina e do meu amigo Marinheiro, mas por serem desabafos, vão para o Desabafos. Não me cabe expor desabafos dos outros aqui. Eu tenho o direito de me expor, mas não de expô-los. É o que me limito a dizer. A garota da noite ainda não viu ou não quis ver o seu Facebook. Acho até melhor que não veja, mas duvido que algum outro homem tenha tido a ousadia e coragem de se passar pelo que passei. Sem beber! Hahahaha. Acho que precisariam beber muito para fazer uma palhaçada daquelas. Ontem, estava tão arrependido que iria mandar uma mensagem para ela pedindo que apagasse os últimos posts da memória. Hoje, eu liguei o “dane-se”. Fiz com o coração, ficou ridículo e piegas eu sei, mas acho que tem o seu encanto. Só não sei se tem mais encanto ou ridículo.

13h44. Hoje poderia ser dia de Mario Odyssey. Se bem que estou tão antissocial que até esse programa me deixa empulhado. Estou gradativamente me fechando em mim mesmo, não sei como isso vai acabar. Mas não me parece que vá acabar bem. Um náufrago no meio da cidade, um ermitão urbanoide completo. Que destino triste, que abismo de solidão cavo com os meus próprios pés. Espero que a terapia ajude. Vai ser difícil encarar a terapia. Vou ter que quebrar um iceberg antes de começar a me soltar. Mas vou encarar. Acho que preciso. Todo ser humano precisa. Uns mais que outros. Eu mais que a maioria, por ter um modo de vida tão peculiar, por passar tanto tempo sozinho, por ser tão autocrítico, por carregar tantos complexos, pelo tão pouco que acho que sou e me torno, pelo meu conjunto de crenças. Tudo corrobora para a necessidade de um acompanhamento psicológico. Eu estou impressionado com a minha cara de pau em relação à garota da noite. Não é do meu feitio. Ou é quando se trata de assuntos do coração. Muito embora não possa me dizer apaixonado, afinal não a conheço de fato, se me apego é a uma fantasia que faço dela. Isso é equivocado. Mas ela não me dá chance para uma aproximação. Ou não houve oportunidade para isso. Sei lá. Tenho convicção que ela não tem interesse nenhum por mim. Construir um afeto a partir de uma repulsa é muito difícil. Talvez repulsa seja uma palavra muito forte. Ou talvez seja a palavra precisa. Talvez as minhas investidas ao invés de minar tal postura apenas a reforcem. Não sei. Ela foi bastante fria e distante na última comunicação, embora bastante polida, honesta e não-antipática. Quase simpática. Foi muito ponderada nas colocações, mas não me deu nenhuma brecha. Pelo contrário, tentou me dar uma cortada. Aí chutei o pau da barraca com o vídeo que ela ainda não viu. Estou deveras curioso com a sua reação e um tanto temeroso também. Foi uma atitude imprudente e arrebatada minha. Agora já foi e talvez ela nem veja mesmo. A sorte está lançada. E estou aqui a fazer tempestades em copos d’água e negar o inegável, ela não tem e não terá nenhum interesse por mim. Não vai ser um vídeo idiota que vai mudar isso. Eu já passei a minha ficha negra, me queimando completamente, para ela. Então, o que esperar mais senão o repúdio? É como jogar bosta no ventilador e depois querer perfumar a sala, não adianta de nada. O que me resta é a solidão mesmo. Gostaria de vê-la com as costas nuas acho lindo costas nuas de mulheres, desde que não obesas. Nuas e brancas então, contra uma cor de tecido preta ou vermelha é de uma beleza estupenda, o balé de ossos e músculos a cada mínimo movimento me deixa hipnotizado. Vi uma garota que estava assim, com as costas nuas no show de Lenine e todo o resto desapareceu para mim, amigos, música, só havia as costas nuas a se mexer e eu pensando que poderia muito bem ser a garota da noite, visto que o biótipo era muito semelhante. Ela deve ter costas lindas também. Que pena, que pena que o destino não vá me sorrir dessa vez. Que eu acho que será a última possibilidade real de relacionamento que terei. Real? Hahahaha. Mas que mais se aproxima da realidade, tendo em vista minhas paixões platônicas anteriores. Não considero a garota da noite uma paixão platônica, eu não estou de fato apaixonado ainda, mas, como canta Björk no álbum “Utopia”, “I literally think I am five minutes away from love”. Além do mais, com ela eu ainda travo algum contato mesmo que virtual. Mesmo que praticamente unilateral. Ainda cruzo com ela na noite. É diferente. É definitivamente mais real. Mais possível e palpável, mesmo que a aparência seja de impossibilidade, há um dado de realidade aqui. Mas sei que não dá em nada. Aposto que ela vai me dar uma cortada direta caso veja minhas últimas mensagens. Vai me dar o famoso fora nu e cru. Não sei se terei como ou se valerá a pena contornar isso, se isso de fato se der. Foi uma abordagem inusitada, pelo menos isso ela há de admitir. Não é todo mundo que se presta a um papel ridículo ou romântico desses. O único ficante dela que eu conheço jamais ousaria fazer nada nem remotamente parecido. Duvido que algum deles. Homens dos dias de hoje. Também, não precisam disso. Não são tortos como eu. Ou talvez sejam tão ou mais tortos do que eu. Eu só tenho rótulos mais sonoros negativamente. Mas todos podem ser rotulados negativamente, todos têm defeitos. Sim, vou testar o Sansar de novo, para ver se aparece algo hoje. Ah, isso eu narrei no Desabafos do Vate, não aqui. O simulador que meu irmão está desenvolvendo na empresa em que trabalha, a mesma responsável por Second Life, está com Open Beta disponível, ele me disse ontem. Instalei aqui, mas não apareceu nada. Aliás apareceu tudo até a parte de carregar. Uma vez carregado, o jogo, se posso chamar assim, este não apareceu. Vou tentar hoje para ver se funciona. Acho que meu computador é muito peba para segurar a demanda gráfica do negócio.

15h39. Está carregando. Pelo menos dessa vez apareceu uma imagem de background que antes não aparecia. Escolhi um cenário mais simples para visitar. Quem sabe não carregue... a parte que meu irmão está trabalhando também não carregou, que é a parte de editar o avatar que eu vou usar no jogo. O computador agora começou a fazer um barulho como se estivesse trabalhando bastante. É torcer. Se carregar, tento depois configurar o meu avatar.

15h44. Até agora nada. E o computador chiando aqui. Ah, se eu tivesse comprado o outro que tinha uma placa de vídeo... tudo por causa de uma configuração imbecil de teclado do Windows 10 e ignorância da minha parte.

15h47. Os ícones de interface apareceram, mas o cenário ou meu avatar ainda não. Se é que eu vejo o meu avatar ou o jogo é em primeira pessoa. O computador está penando aqui. Acho que a minha internet também é muito lenta. Vou deixar o bicho rodando para ver se vai aparecer alguma coisa até as 16h27.

15h54. Até agora, nada e acredito que de nada não passará. É jogo para pessoas do primeiro mundo que têm computadores e conexões de internet top.

16h04. Fui na parte que configura o avatar, a que meu irmão fez e nada apareceu além dos menus. Acho que isso é porque o meu computador é fraco mesmo, não acho que seja problema da internet. Vou deixar rodando até as 16h27 anyway. Mas acho que não vai dar em nada, o que é uma pena.

16h14. Minha mãe chegou da drenagem linfática ou massagem linfática, algo assim. Mostrei a ela o Sansar (ou o pouco que aparece dele). Ou seja, a tela preta e os ícones. Até os ícones para mostrar o nome quando você passa o mouse por cima ficam em câmera lenta. Imagine o gráfico mesmo. Acho que vou me decepcionar quando vir a garota da noite de novo. Ela talvez não me pareça tão bela quanto imagino/fantasio. Se bem que o que vejo em minha cabeça são suas fotos do Facebook. 16h19. Nada ainda do Sansar. Eu me lembro que achei ela muito mais bonita em movimento, existindo, do que por fotos. Nem sei quando vou encontrá-la de novo. Se é que vou encontrá-la novamente. Mas como dizem, Recife é um ovo, certamente hei de cruzar com ela numa dessas esquinas da vida. Não sei se no próximo final de semana.

16h28. Vamos ver o Sansar... e nada... fechei. Hoje estou tão reticente. Hahahaha. Acho que ela estava no show de Lenine, mas só encontrei as amigas. Também acho que ela não vai ver a minha última mensagem. Vai simplesmente desprezar a minha existência. Que posso eu fazer? Fiz o meu melhor, o que estava ao meu alcance. Perdi. Ainda há a esperança de ela não ter aberto por achar que é uma daqueles vídeos totalmente dispensáveis que as pessoas mandam para todo mundo da sua lista. Não que meu vídeo não seja dispensável, mas foi criado especialmente para ela. Me levou uma boa dose de coragem e ousadia fazê-lo. Merecia mais que o desprezo. Mas se a vida se apresenta assim, não há nada que possa fazer senão acatá-la. É o que podemos fazer com a vida, abraçar suas maravilhas e revezes, nos apropriarmos deles, se possível, guardar algum ensinamento ou memória boa e seguir em frente. Ela que não sabe o que está perdendo, não sou eu. É tão raro hoje em dia o que ofereço, mas se ela quer mais do mesmo, que seja. Pelo visto não sou eu quem vai mudar isso. Aliás, cabe a ela. Se o que quer é sexo casual, que fique no casual. Isso definitivamente não é o que ofereço. Mas o torto sou eu mesmo. Ninguém procura mais relacionamentos com substância, é a vida. E ainda há os rótulos a me prejudicar. É a vida, tenho que colher o que semeei... se eu soubesse das consequências e que elas me acompanhariam como horrendos fantasmas a assombrar os demais e as demais..., mas não sabia. Não sabia dos fantasmas e da minha crescente solidão. Não imaginei que a curatela me proporcionaria isso. O problema não é nem a solidão em si. Ela me agrada na imensa maioria do tempo. O problema é a crescente inaptidão em viver em sociedade. Isso me incomoda muito. Daqui a pouco vai me meter medo de estar com as pessoas. Como estou apreensivo, para dizer o mínimo, com essa viagem para os EUA.

18h01. Meu amigo da piscina já se comunicou comigo. Quer comer pizza. Eu disse que o acompanharia, mas não comeria porque não gosto de pizza (e não quero engordar). Disse-lhe que desço por volta das 18h30. Daqui a pouco tenho que desarmar o barraco aqui para levar.

0h26. Nossas conversas deram muito material para o meu blog privativo. Não exporei aqui porque a maioria são de cunho pessoal dele. O encontrei na pizzaria quando fui pegar copos lá para bebermos Coca, visto que os que há aqui em casa são muito pequenos. Realmente comprou pizzas. Hoje é dia de clone na pizzaria aqui da frente de casa. Estava bem mais movimentada que o normal na terça. Acho que foi uma estratégia campeã. Pena eu não gostar muito de pizza e não querer engordar. Se bem que o prato que eu botei de farofa feijão e arroz foi caprichado. A farinha da farofa já está ficando velha. Pelo menos matou a fome. Estou zonzo de sono, vou me deitar. Boa noite.

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12h04. Já acordo entediado. Pelo menos o “Utopia” me levanta o astral. A garota da noite ainda não viu as mensagens que mandei pelo Facebook. Perdi a esperança de que verá. Hoje só saio de casa para o cinema ou para uma sessão de Odyssey. Ah, tenho que sair para fazer uma caminhada até o Açude. Perder o bucho. Que pena que esse disco de Björk venha marcar uma fase não muito boa da minha vida. Queria voltar a dormir. Queria dormir muito, muito. Quero Coca. Com muito gelo. Minha mãe me chamou para almoçar, mas não tenho fome nenhuma quando acordo. E devo estar com cheiro de cigarro, o cigarro que fumei logo que levantei. Hoje promete ser um dia para lá de tedioso caso não haja intervenção do meu amigo jurista. Queria voltar a dormir. Ainda estou com sono.

12h43. Limpando o meu inbox de ofertas da Black Friday e Cyber Monday. Hoje é aniversário de dois colegas de faculdade, um deles fã de literatura, dá a entender que é um voraz devorador de livros que às vezes posta o seu realismo mágico, digamos, no Facebook. Não sei se escreve mais que isso. Deve escrever. Não sei se nos mesmo moldes, nunca li. Tudo em mim, ou quase tudo, me incomoda hoje. Do cabelo às profundezas da minha alma. Do meu cheiro às minhas frustradas aspirações românticas. Do que eu escrevo ao meu cotidiano. Tenho que mudar esse humor. Mais Coca ajudará.

13h10. Peguei mais um copo. Entrei no Facebook. Já-já saio. Vi que meu amigo de faculdade literato já publicou seus contos em papel, o que me deu um pingo de inveja. Sempre fui mal de networking e há muito não escrevo um conto. Hoje minha vida não vale nada, se alguém a viesse roubar de forma indolor, eu deixaria que levasse. Não lutaria contra. Acho que não faço mais que roubar a paz da garota da noite. E isso não se faz. Se roubasse a paz como ela me rouba para me dar um torvelinho de prazer, ainda faria sentido e foi o que tentei, mas o resultado não é esse. Então vou parar de me intrometer em sua vida para o bem dela, que é o que em última instância, quero. Em verdade, em última instância queria o nosso bem, juntos, mas em sendo isso uma impossibilidade, a deixarei em paz. Qualquer paz é boa, então sei que estarei fazendo o bem. E que faço o mal insistindo. É uma pena. Pelo menos resta a sensação de que fiz o meu melhor, fui além das minhas capacidades gravando o vídeo. Deixá-lo-ei online para o caso de ela porventura ver em algum momento e lugar do espaço-tempo. Ou guardo essa cantada? Mas guardar para quem? Não há mais ninguém. E isso me incomoda. Mas antes dela não havia ninguém. Não quero voltar às paixões platônicas. Acho que a minha sina é viver a segunda metade da minha vida sozinho. Esperar a Singularidade se essa se der e for boa e dar no pé dessa realidade limitada e abandonar a condição extraordinária de ser humano para uma condição extraordinariamente extraordinária de ser uno com a Singularidade. Até de me fundir com a Singularidade estou desmotivado para ser sincero. Estou meio down hoje. Um dia ruim não é problema. É só a dor do desprezo e da rejeição. Isso passa. E voltarei ao meu vazio emocional. Que ozzy. Minha mãe parece que cancelou ou pediu ao meu padrasto que cancelasse a compra do celular. Dos celulares. Havia encomendado um igual para ela também. Não quero ir caminhar hoje. Minha motivação esvaiu-se com a constatação de que nunca vou ter a garota da noite. Com ou sem bucho. Se bem que sem bucho, a possibilidade de uma garota que me encante se interessar por mim aumenta exponencialmente, eu creio. Estou tão gordo e isso me incomoda tanto. Aí penso nessa viagem para os EUA e fico ainda mais incomodado com a existência. Muito mais incomodado. E lá vou engordar tudo de novo. Duplamente ozzy. Só engordo se quiser? Talvez. Vamos ver. Primeiro a Coca que meu irmão comprará conterá açúcar. Posso alertá-lo para comprar Coca Zero. Mas não sinto motivação para isso. Nossa, como queria não ir para essa viagem. E como estou com medo de saber a cotação do frete do Hulk para o Brasil. Foi só eu falar que o e-mail com a resposta chegou. Vou ver. Nossa, estou torando um aço. Ufa, foi mais ou menos o mesmo preço do busto do Deadpool. Embora ela diga que esse valor flutue. Mas não deve oscilar como um tsunami. Então, estou mais tranquilo, pelo menos em relação a isso. Se eu for para os EUA não vou querer tomar Coca Zero, vou querer tomar Cherry Coke. Se não tiver no delivery aí, sim, opto pela Zero. Mamãe aparente recomprou os celulares. Mas não tem certeza disso. Eu, hein? E ainda disse que recomprou mais caro porque a promoção da Cyber Monday havia acabado. Por mim, eu ficaria com meu celular mesmo, os principais problemas dele são a falta de memória e que a bateria está acabando muito rápido. 15h18. Daqui a pouco chegará a hora que me estipulei para a caminhada. Não sei se irei. Como disse, perdi a motivação. Deixa a hora se aproximar que decido. Uma parte de mim ainda quer ir. Uma parte de mim quer deixar de ser buchuda. Uma parte de mim quer morrer. Uma parte de mim quer amar. Uma parte de mim sabe que decepções amorosas abundam no mundo. Uma parte de mim quer viver. A mesma que quer perder o bucho. Uma parte de mim quer jogar fora todos os bonecos que estão na casa do meu irmão. Menos a Red Sonja que ainda vai chegar e o Hulk, que vem para o Brasil. Todos os de polystone que tenho lá poderiam voar. E boa parte dos de PVC também. Hoje não estou cabendo bem em mim, estou desconfortável sendo eu. É uma sensação chata. Vou dar essa caminhada para desanuviar. Eu acho. 15h43.

15h46. Gostaria de poder ouvir o disco novo de Björk no iPod enquanto ando. Mas, para isso, precisaria baixar a torrent do disco. Nem dá tempo. 15h50. E não saberia o que apagar do iPod para liberar memória para o disco. Não vou procurar torrent. Posso infectar a minha máquina. Quando e se comprar o CD de Björk, salvo ele na minha máquina. Por algum motivo, esperança talvez, não vou apagar o meu vídeo cantando do YouTube. Deixa. É uma parte da minha vida da qual sinto orgulho e vergonha. Pela bravura e ousadia do meu ato, tão distante do meu eu cotidiano, advindas de um eu motivado e que não mede esforços para conquistar o objetivo de seus anseios. 16h00. Vou lá.

17h38. Por ela e apesar dela (calma ainda estou digerindo o meu desencanto porque encanto ainda há) eu fui caminhar e voltei. Achei interessante que achei outras distâncias como a da academia que eu frequentava ao CAPS que frequentava, menores. A Fundação Gilberto Freyre daqui a pouco me parecerá um local próximo. Meu fone de ouvido está com defeito, o lado esquerdo praticamente não sai som. Ozzy isso. Fone da superconceituada Apple. Me custou absurdos 35 euros. Vergonhoso. Era para durar uns 10 anos, na minha cabeça, pelo menos. Sendo da mais bem-conceituada marca do mundo. E esse defeito não é de hoje, há mais de um ano existe, mas havia sumido. A priori era um problema de mal contato, acho que agora o contato se partiu mesmo. Sei lá. Sei que lembrei do meu pai, com uma saudade peculiarmente forte, ouvindo Belle & Sebastian. Foi a única coisa musical que eu o apresentei que ele realmente, sinceramente gostou. Acho até que não foi só isso. Acho que a semente que peguei no caminho e que me remeteu direta e vividamente a Macau, pois foi o primeiro lugar em que a vi na vida, ainda muito criança, havia um pé no quintal da casa dos meus avós, foi o fio, a lembrança inicial que, com Belle & Sebastian, frutificou em memória do meu pai. Lembrei das rodadas que fazíamos, cada um escolhendo uma música, na casa dele tomando umas, eu, ele e minha madrasta. Bons tempos. Tempos que de forma definitiva não voltam mais. Meu pai se foi de volta ao nada. Suas cinzas ainda no meu armário, esperando para serem depositadas na maré em frente à casa que tem o pé da semente vermelha, onde, segundo ele, queria ser jogado quando morresse, pois dizia que ali na maré havia passado os melhores momentos de sua vida a pescar e pensar. Pois é, meu pai, ainda estou lhe devendo isso. Talvez seu outro filho consiga atender o seu pedido, visto que mamãe não confia em mim a esse ponto. E nunca vai confiar. Só depois de muita terapia, coisa que ela está evitando. Não sei bem por quê. Talvez ache que não precise. Talvez deseje continuar neurótica comigo. Bastante neurótica. Perdemos eu e ela com isso. É a vida, tenho que acatar e, assim que voltar dos EUA, começar a minha terapia. Se ela quer continuar neurótica é com ela. Eu vou buscar o meu melhor, tratar das minhas neuroses, a começar pelos efeitos colaterais da solidão como essa moderada fobia social. Não chega a ser agorafobia, mas não vou esperar que se torne para me tratar. E é tudo coisa da minha cabeça, eu sei. E é uma coisa construída ao longo de anos. Esse estar isolado do mundo. O fato de eu escrever e ver na escrita o meu refúgio mais seguro, só ajuda. Não pretendo deixar de escrever, entretanto, mas sinceramente não entendo a minha fixação e o meu afinco pela escrita. Mas é o que me mantém são. Acho que já teria surtado ou recaído não fora pelas palavras. Elas têm o seu quinhão terapêutico. Acho que grande. Penso em fazer meu próximo passeio a pé até o Marco Zero, mas talvez esteja sendo muito ambicioso na meta, mal comecei a andar. Sinceramente não sei. Acho que aguento. Ir, pelo menos. Voltar, eu voltaria de Uber. E levaria uma grana para tomar umas Coca-Colas. Teria que dar um tempo lá até a hora do rush passar. Bom, tenho até sexta para decidir. O massa seria encontrar a galera lá e de lá começar a noite de sexta. Mas acho isso difícil de acontecer. Do jeito que a turma é devagar e desencontrada. Toda vez que o telefone dá um alerta, no idiota aqui brota uma fugaz esperança de que seja ela me mandando uma mensagem. Um saco isso. Geralmente é e-mail.

19h48. Me perdi pelo Facebook. E fui à cozinha pegar Coca, acabei comendo um monte de bife à milanesa. Não havia comido nada desde que acordei. Minha mãe disse que a barriga dela é em sua maior parte líquido. Será que com a minha ocorre o mesmo? Será que se diminuir meu consumo de líquidos, leia-se Coca Zero, meu bucho pode diminuir? Vou fazer um teste amanhã. Tentar não beber Coca. E ver o que acontece na sexta de manhã. Como estará o meu peso.

20h06. Vou finalizar esse post aqui.   



Suponho que a semente saiu assim pela vibração do scanner. Curioso o efeito. Ela é bem pequena,
escaneei com 1200 dpi para ficar desse tamanho.


A prova de que estive no Açude! Hahaha.
E eu pensando que tinha botado a câmera reta. Sou um péssimo fotógrafo. Sempre fui.

Escoadouro do Açude, onde fumo o meu cigarro para voltar. Gosto do barulho da água.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

CANTADA (DEPOIS DE TER VOCÊ)


Depois de muito tempo, eu achei um tema para criar polêmica no maravilhoso mundo dos bonecos e fiz um post para o meu blog que trata do assunto. Eu sei que disse que iria me afastar do maravilhoso mundo dos bonecos, mas esse barraco eu tinha que criar para ver quantos hits eu irei conseguir. Hahahaha. Infelizmente a polêmica é um tanto complicada para explicar para quem não é colecionador, então vou poupar o leitor e a mim o desnecessário trabalho.

16h02. Vi duas coisas curiosas ontem enquanto esperava os meus amigos para o show. Um pônei com cauda e crina rosas-choque e um menino pobre que tratava com brutalidade absurda outras crianças e mulheres amigas dele, distribuindo chutes, murros, estrangulamentos a torto e a direito. As vítimas sempre mais fracas que ele. Fiquei chocado, não só com a truculência do pequeno aspirante a delinquente quanto com a tranquilidade e passividade com que as vítimas aceitavam tais violências. Aceitavam como brincadeiras normais, cotidianas. Achei bizarro. Um universo de violência o que esses pobres iguais vivem. Com quem essa criança deve ter aprendido tal comportamento? Que tipo de adulto vai ser? Talvez um que não dure muito. Sei lá. Pela banalização de sua violência no seu círculo, imagino como deve ser em relação ao sexo. A educação no país está realmente falida. Mas sou alienado, não tenho gabarito para comentar sobre isso. Só me impressionei com as cenas.

16h48. A primeira música de “Utopia”, “Arisen My Senses”, é um tour de force do que é o álbum concentrado numa canção grandiosa e magnificamente produzida. Só serve ouvir alto para captar todos os nuances, o que não faço no momento, pois minha mãe dorme. É um disco que se encaixa perfeitamente em sua discografia. Adicionando algo novo, mas não se distanciando muito do seu estilo, exatamente como o Mario Odyssey faz com a franquia do Super Mario. Tem um sabor novo e ao mesmo tempo familiar. O bom é que sua voz continua a mesma.

17h16. Meu amigo da piscina quer eu desça hoje, mas esqueci de botar gelo para fazer ontem. Então não tem nem gelo para mim, que dirá para nós dois. Botei para fazer, mas não sei que horas vai ficar pronto, apertei a tecla de congelamento rápido, mas ela não congela tão rapidamente assim. Veremos. A verdade é que não estou muito a fim de descer.

17h40. Lembrei agora que terei que viajar. Que ozzy. Estou com um sentimento péssimo em relação a essa viagem. Isso é muito ruim. Não sei lidar com crianças, não sinto o afeto necessário pelos meus sobrinhos. Não sei por que isso. Só sei que se dá assim. Não gosto de ser tio. Nem um pouco. Ainda bem que não me escolheram como padrinho de nenhum, acho que nem poderia, pois não sou batizado e essa coisa de padrinho parece que tem algo de religioso, mas não tenho certeza. Fato é que não me escolheram para ser padrinho de ninguém, graças.

18h21. Fui entregar os cheques do meu tratamento dentário à mãe do meu amigo da piscina que, não por coincidência, é a minha dentista. Falei para ele que se o gelo ficasse pronto, eu dava um toque, mas, pelo que vi, não vai ficar pronto nem tão cedo. Engraçado, a namorada do meu amigo professor se confessou tão sedentária quanto eu, porém, eu comecei a andar ontem. Fui andando para o Parque Santana e só não voltei porque todos, inclusive eu, achamos arriscado me aventurar por local tão ermo. Amanhã (espero continuar com essa motivação) irei andando até o Açude. Estava ouvindo as músicas e lendo as letras do novo disco de Björk.

19h16. Acabei com o processo de ler todas as músicas e ler todas as letras. É um costume que tenho com todos os álbuns que gosto em inglês. Eu não sou tão fluente em inglês para entender o que Björk está cantando. E muitos outros cantores for that matter.

19h26. Minha mãe acabou minha festa sonora, dizendo que estava muito alto. Voltei à lista 6. E ela começou linda com a sempre citada aqui “Moonlight In Vermont” interpretada por Ella (Fitzgerald) & Louis (Armstrong). Emendou com Radiohead, “Climb Up The Walls”. Cometerei uma heresia para muitos, mas acho o “OK Computer” melhor que o “The Dark Side Of The Moon”. Mas vamos parar de falar de música. E é claro, o OK Computer marcou uma época da minha vida, isso conta bastante. Não só da minha, mas de boa parte da turma do meu primo urbano, pelo menos, e, ousaria dizer, da Turma das Ubaias. Não creio que meu amigo da piscina goste do disco, mas acho que até ele acabou ouvindo e deve reconhecer o que é. Falando nele, o gelo ainda não congelou. Vou esperar ele me contatar, se me contatar, para dar a triste notícia. Estou me sentindo agoniado, não sei o que é. O buraco na lajota do meu quarto está aumentando. E é logo em frente ao computador, acho que foram as rodinhas das cadeiras. Cadeiras no plural, pois essa é a terceira que uso esse ano. Ganhei uma da minha avó quando a outra quebrou, mas a cadeira também não aguentou o tranco. Aí peguei esta velha que estava no quarto de hóspedes (ou do meu padrasto) e ela está rangendo, mas aguentando o tranco até agora. Vamos ver quanto tempo mais resiste. Espero que muito! Uma exclamação é algo tão sui generis, eu as acho tão alegres, não sei por quê. E muito chamativas. Elas elevam o tom da frase, é muito curioso. Que invenção genial. A linguagem é fantástica, as possibilidades da linguagem escrita me fascinam, mas por algum motivo não me aventuro fora da minha seara. Fico oscilando entre o profundamente entediado e o babaca encantado pela garota da noite.

20h34. Minha mãe está falando com o meu irmão USA sobre a viagem e me chamou para conversar lá com vídeo, ver os meninos. Não consegui ficar muito tempo. Que ozzy. Espero me aclimatar rápido. Tanto ao clima quanto à gurizada. Não é impossível, só improvável. E ainda vão haver dois tios de minha cunhada lá. Ozzy, ozzy, ozzy para um ser antissocial como estou/sou. Me sinto fortemente angustiado com isso. Queria que me deixassem no meu canto escrevendo.

21h01. Jantei. Bem. Acho que vou me deitar e tentar dormir. Ou não. Vou fumar um cigarro, isso sim.

21h25. Parece que passou muito mais tempo desde o parágrafo anterior. Falei com minha cunhada pela vídeo-chamada. Não foi ruim. Mas não gosto de vídeo-chamadas.

22h05. A angústia em relação à viagem passou mais. Muito ozzy. Estou descobrindo aos poucos que há diferentes partes do meu corpo que me agradam serem massageadas, puxadas ou esticadas, como pés e face. É bom. Nunca fui muito de me tocar e me explorar sensorialmente. Mas já que não recebo carinho, eu tenho que me dar um pouco de carinho. Acho que partem dessa falta as descobertas. Quem sabe um dia não crie coragem e me submeta a uma massagem profissional? Todos que se submeteram fizeram propaganda para mim. Aliás, todas, acho que só ouvi isso de mulheres. Não lembro. E não ouvi muitas vezes assim, para ser sincero. Mas se ouvi não foi porque trouxe o assunto à baila, logo foi uma experiência tão marcante para a pessoa que mereceu menção em nossa conversa. 22h52! Dessa o tempo passou voando. Nem lembro o que fiz, estava perdido pela internet eu acho.

23h47. Cometi um ato de humilhação pública para agradar a garota da noite. Veja. Se for capaz. Hahahahahaha.






0h10. Tenho que bolar um texto agora para acompanhar. Acho que colocarei: Para não dizer que faltou cantada, abaixo vai a melhor que eu conheço. Dia 27, meu número da sorte! Vamos ver o que acontece. É liberado rir descontroladamente da minha cara durante o vídeo. Hahaha. Beijo e se cuide.

É isso. Vou publicar e mandar o vídeo para ela.  

0h18. Perdi a coragem. Baita papel de palhaço eu vou fazer. Como queria uma segunda opinião, mas não tenho a quem perguntar.

0h24. Vou mandar essa coisa. O máximo que pode acontecer é ela me bloquear como amigo. Clima ruim já está. Não pode ficar pior, eu creio. Não queria esse clima ruim, sabe? Queria algo mais leve, solto e espontâneo.

1h37. Publiquei e me perdi do YouTube. Morri de vergonha depois de ter feito, mas já estava feito. É a vida. Hahahaha. Para não ficar tão ruim, publiquei também o Adriana Calcanhotto e Maria Bethânia cantando.

domingo, 26 de novembro de 2017

DA SEXTA À SAÍDA NO SÁBADO

A folha em branco está difícil de encarar hoje.

14h38. Minha mãe veio me perguntar se eu me sinto bem ficando o dia todo trancado no meu quarto. Eu respondi que sim e que saio sempre que a oportunidade se apresenta. Tenho que admitir que ultimamente venho me sentindo meio entediado de estar no meu quarto-ilha. Se meu primo-irmão for mesmo para o maracatu no Vasco da Gama no sábado, estou pensando seriamente em ver Lenine sozinho. Poderia perguntar a minhas amigas psicólogas se elas irão, seria uma maneira de vê-las, tão indisponíveis que são, mas a verdade é que não quero vê-las, não sei bem por quê. Acho que cansei de mendigar a atenção delas. Se elas viessem me fazer o convite, a história seria outra. Mas sei que se forem, e acho até provável que vão, não lembrarão de me chamar. Se as encontrar por lá, claro que falarei com elas. O mesmo se dará se cruzar com a garota da noite e sua trupe por lá.

15h20. As votações para a camisa que eu fiz e coloquei no Qwertee, que tinha “Demisexual?” escrito, foram finalizadas. Obtive 15 votos. O que achei até surpreendente. Visto a simplicidade do layout e a complexidade do termo, muito pouco conhecido. É um neologismo criado recentemente até onde eu sei.

17h11. Meu amigo Marinheiro vem aqui hoje. Estou à espera dele. Que notícia ótima. Vai ser um alento encontrar com ele. Por mais que esteja com um pé atrás só porque é algo novo. Sei que vai ser bom, mas, ao mesmo tempo, me sinto inseguro diante da situação. Que bobagem. Tempestade em copo de cafezinho. Estou ansioso.

17h34. Deve estar pegando o maior trânsito do mundo por isso demora.

17h54. Nada ainda. A minha ansiedade diminuiu, praticamente se extinguiu. Não há com o que me preocupar. Se faltar assunto, faltou, que mal há nisso? Um leve desconforto social, mas meu amigo Marinheiro é supercomunicativo, não vai ter isso, não. É só fazer como faço sempre, ouvir. Deve ter um monte de histórias para contar, faz tanto tempo que não nos falamos propriamente.

20h28. Estou de volta do encontro. Foi rápido, ele não imaginava que demoraria tanto para chegar e estava cuidando da casa e do cachorro de um amigo em Piedade e tinha que levar o bicho para passear e fazer as necessidades. E ainda teria que descer na casa da mãe. É um lobo solitário e também tem conflitos com a mãe, com quem mora, mas quer morar sozinho, é afeito à solidão, pelo menos de morar só. Contou-me várias coisas de sua vida no breve interregno de sua visita e garantiu que apareceria em outra oportunidade com mais tempo. Aguardo ansioso. A conexão foi imediata, ainda bem.

22h28. Acabo de queimar o meu filme com a garota da noite completamente! Hahahaha. Não sei porque faço uma coisa dessas, é completamente contraditório com a minha intenção de conquistá-la. Não sei se o meu cérebro quis me sabotar ou se queria realmente jogar aberto. Mais aberto do que fui, impossível. Queimei todos os filmes de Star Wars que foram e serão lançados. Hahahaha. Sou um tremendo paspalho mesmo. Mas ela já devia saber, por isso me evitou no Mimo. Sua amiga que foi estagiária e paixão platônica durante uma das minhas internações deve ter passado a ficha completa. Fui dizer isso a ela também, ora bolas! Hahahaha. Que miséria eu faço da minha vida. Duvido que ela se digne a me responder. Quem poderia me responder se chegou em casa era o meu amigo Marinheiro. Deveria ter pedido a ele que me avisasse. Se me arrependi de ter me dito viciado, curatelado e bipolar com tendência depressiva à garota da noite? Nem um passo. Ela teria que saber mais cedo ou mais tarde. Não esconderia nada disso dela em vista de um possível afeto que viéssemos a desenvolver um pelo outro. Agora é tarde para arrependimentos também. Não há como desfazer o que feito está. O Facebook ainda não permite apagar conversas postadas ou se permite eu não sei como fazer. Realmente eu sou um verdadeiro Don Juan. Que forma encantadora de me apresentar a uma garota. Hahahaha. Idiota. Nem sei se idiota, viu, superego? É a minha forma de agir. O que vier é lucro.

23h21. Meu padrasto acordou, abriu uma cerveja, não sei se com ou sem álcool, mas chutaria sem, e está sentado pensativo na sala. Que acontecimento curioso. Aliás, o dia foi cheio de acontecimentos curiosos. Dia peculiar essa véspera de Black Friday. Visita do meu amigo Marinheiro, queimação de filme total com a garota da noite e, para fechar, meu padrasto levanta no meio da noite para tomar cerveja. Ah, meu amigo da piscina mandou WhatsApp pedindo que deixasse dois cigarros no hall, por isso descobri sobre o meu padrasto. Um dia para lá de peculiar na minha vida. Será que ele está esperando a Black Friday? O meu padrasto, digo? Sabe-se lá o que vai na cabeça dos outros... todo mundo sabe o que vai na minha, entretanto... hum, peculiar.

23h51. Apagando e-mails de Black Friday. Nossa, estou com um sentimento ruim dentro de mim. Ao mesmo tempo, um certo alívio. Acho que hoje foi meu dia de boas ações. Acho que estava devendo isso ao universo.

0h00. E começa a Black Friday. Acho que vou tentar dormir. Não tem nada mais que eu queira ver no mundo. Também não quero mais escrever por hoje. Sinto a alma pesada apesar de tudo. Preciso descansá-la.

-x-x-x-x-

12h46. Acordei com uma ótima notícia, o novo disco de Björk foi lançado no Spotify! Ainda não ouvi. Vou comer agora para começar a desvendar a nova obra da artista islandesa com calma e muita curiosidade.

13h21. Vou ouvir o disco novo enquanto digito o diário do Manicômio. Não tenho muito o que dizer aqui no momento e estou em falta com esse projeto.

14h37. Digitei o resto de um dia e fiquei achando que era uma baita perda de tempo fazer isso. Só continuo porque assumi esse compromisso comigo mesmo. É muito repetitivo. Cansativo. Chato. Mais chato que isso daqui. E caudaloso. Passava o dia escrevendo lá. Da hora que acordava até quando ia dormir.

14h58. Liguei para a minha mãe a respeito das Cocas que não chegaram e ganhei a excitante notícia de que terei de ir ao supermercado com ela. Grande. A garota da noite não leu ainda a minha mensagem. Tenho quase certeza que não vai responder nada. Quem responderia a um viciado, curatelado, bipolar com tendência depressiva? Que garota quereria conversa com um cara assim? Pois é, nenhuma. Eu me sabotei, acho eu. Não sei realmente, essas coisas teriam que emergir em algum momento se quisesse ter um relacionamento honesto. Com qualquer garota. Não sei se o momento certo é logo no início da corte. Acho impactante demais. Negativamente. Mais uma vez, a amiga dela já deve ter passado a minha ficha antes da minha confissão eu só devo ter ratificado tudo e detalhado mais. Como pude ser tão torto nessa vida a ponto de o meu passado me condenar dessa forma? É triste. Acho que minha sina é ficar sozinho mesmo. É triste. E ainda vem essa viagem... estou meio que pare o mundo que eu quero descer. Nem sei se vá ver Lenine mesmo. Mas tenho muita curiosidade de ver, conferir se o cara é bom de palco mesmo, se o novo trabalho dele vale a pena, ouvir alguns de seus sucessos. Mas, sei lá. Eu estou muito antissocial, nossa. Chega me dá uma angústia. A vontade que eu tenho é me deitar e ficar deitado. Seria indício de uma depressão chegando? Preciso reverter isso. E a melhor forma de combater isso é enfrentando. Eu vou para Lenine, sim. Está decidido. Que se exploda o mundo. Vou sozinho mesmo, peço uma carona a mamãe como da outra vez. Ou vou de Uber. Isso é o que menos importa. O que importa é enfrentar.

16h04. Eita, parece que meu primo-irmão estará em dois lugares ao mesmo tempo, pois confirmou presença no maracatu e em Lenine, acabo de ver no Facebook. Resta saber para qual dos dois efetivamente vai ou se vai para um depois o outro.

16h06. Publiquei no grupo dos amigos agora e um já confirmou presença, o meu amigo professor. Massa. Já não ficarei sozinho. E é uma pessoa que não me intimida. Saber de sua presença não causou nenhum desconforto na alma, pelo contrário, fiquei contente. Isso é ótimo. Não estou tão antissocial quanto julgava. Minha mãe está presa na reitoria porque a CUT, segundo ela bloqueou a saída de lá.

16h24. Mamãe ligou agora e conseguiu sair pelo portão de trás da reitoria. Está vindo me buscar para irmos ao supermercado. Vou nessa.

17h39. Voltei do supermercado. Graças aos céus mamãe foi mais rápida e prática que o habitual. Tem programa para hoje no Poço. Se meu digníssimo primo-irmão for, eu vou. Nem negociei com mamãe, nem nada, mas já disse que iria. Um final de semana com dois dias de saída seria bem legal.

18h15. A garota da noite me respondeu. Foi honesta e pertinente. Gostei muito disso. Quanto ao nosso futuro como casal, acho definitivamente improvável agora. Mas a minha imortal esperança não me abandona. Hahahaha.

18h34. Cada vez que ouço o disco de Björk novo vou pegando e me apegando mais às canções. Embora elas tenham estruturas muito doidas. Gosto muito da parte instrumental do disco é whimiscal.

18h42. Minha esperança ficou um pouco menor agora. Mas guardarei para mim.

18h54. Ainda pensando na outra cortada cirúrgica que levei... pelo menos estou ouvindo o novo de Björk. Hahahaha. Um novo disco de Björk me causa a mesma alegria que jogar um novo Mario ou Zelda. Bem, quase. A novidade é algo que me agrada.

19h16. Sem saber o que fazer da minha vida. Se instigo o meu primo para sair hoje ou se espero o meu amigo da piscina para um bom papo lá embaixo. Acho que vou me poupar para amanhã. Ou, sendo mais sincero, vou optar pela situação menos demandante socialmente.

19h38. Meu primo-irmão instigou a galera a ir.

20h17. Acho que iremos. Lá para as 22h00. Tenho que fazê-la rir. Mandei umas mensagens não sei se muito engraçadas, não, mas fiz o meu melhor para ficar dentro do contexto da conversa, dar uma (talvez) simpática cantada e ser engraçado. Os emoticons ajudaram a dar a graça, dando um ar matreiro a uma frase até bastante sensível. Veja por você mesmo(a).


A garota da noite ainda não viu essas mensagens.



20h53. Vou me aprontar para ir, perdi a hora! Dang.

21h27. Morgou a saída. Meu primo disse que estava “supermiado” lá. Vou descer para conversar com o meu amigo da piscina.

-x-x-x-x-

12h26. A conversa foi boa, ele achou um pacote de camisinha vazio na bermuda do filho e ficou todo orgulhoso. O filho tem 15 anos. Depois conversamos sobre a namorada (ou rolo, ou caso etc.) há quatro meses, como a conquistou parafraseando a música do Creedence “Have You Ever Seen the Rain”. Disse que ela vinha lhe dando uma grande força enquanto combinava o encontro de amanhã com a moça. Me ensinou que se pega cantadas de todos os lugares. Me disse que hoje os tempos são outros, que tudo para as mulheres é assédio sexual. Que as mulheres mais maduras ou do nosso tempo têm menos pudores e são menos repelentes às investidas dos homens. Não se sentem tão invadidas com abordagens de homens quanto as de hoje, não ficam tão na defensiva, quanto as mais jovens. Eu não posso aferir isso porque nunca fui de abordar e passar cantadas em desconhecidas na noite. Ou quase nunca. As poucas que tentei sob influência do meu psicólogo resultaram em foras dos simpáticos aos mais grosseiros. A maioria alegou que tinha namorado. Não duvidei nem acreditei, não fazia diferença para mim se era verdade ou não. Bom, dessa aula de cantadas, começou a epopeia para me convencer a começar a andar. Ele errou apenas em uma coisa na sua argumentação, em me forçar a ver a caminhada como um exercício. Que faz bem à saúde eu concordo, mas não é um motivador suficiente, pois estou bem de saúde. Mas um melhor condicionamento físico para o sexo é um argumento mais convincente. Enfim, depois de muita conversa eu acabei cedendo e começarei devagarinho a andar. Começando por hoje, vou e, se não for muito sinistro, volto do Parque Santana andando. Segunda, já dou duas ou três voltas na Praça, dia sim, dia não, repito esse procedimento até me condicionar mais. Daí, já mais acostumado a andar, vou até o Açude e volto, aclimatado com a ida ao Açude parto para a minha meta principal chegar ao Marco Zero, ver uma exposição num espaço cultural que tem lá, quem sabe dar uma olhada na Livraria Cultura, olhar um pouco o horizonte sentado no Marco Zero e voltar. Se conseguir isso, posso ir também ao cinema da Fundação, se passar filme à tarde (o que acho difícil, mas não sei, não conheço o cronograma de lá, tenho que ver no jornal ou na net). Mas tudo isso caminhando no meu ritmo, que pode ser que aumente à medida que fique mais condicionado. Ou não. Meu objetivo é andar até um ponto desejado para sair do ócio com o mínimo de sofrimento possível. Dar um rolé. Ouvindo o meu iPod. Espero que não me roubem. Falando nisso, preciso carregá-lo para hoje. Pronto, já botei para carregar. Não vou encarar como exercício, que foi como o meu amigo da piscina insistiu que eu visse. Eu tenho repulsa a exercício, por isso resolvi fazer uma gamification do processo para que ele se torne mais divertido, aprazível e até desejável. A meta final? Perder o bucho. E ter maior condicionamento aeróbico. Vou ver o caminho daqui de casa para o Parque Santana no Google Maps.

13h43. Vi e não entendi direito, sou péssimo em localização geográfica. Mas vou perguntar à minha mãe se é o parque certo mesmo e pedir que ela me dê uma luz. Imprimirei o mapa, só por via das dúvidas. Espero que siga com o meu intento de caminhar. Todo mundo me indica isso, é hora de tentar. Por uma causa nobre, perder o bucho para conquistar, quem sabe a garota da noite ou outra garota tão graciosa que porventura cruze o meu caminho. Sei que a garota da noite deve estar com dos dois pés atrás em relação a mim e que vai ser muito difícil ela dar esses dois passos na minha direção. Mas nunca se sabe. Hoje acordei com o meu interesse pela garota da noite arrefecido. O que sempre é bom, dizem que babacas como eu que ficam babando pela garota, são vistos com desdém pelas mulheres, eu tenho que dar uma de difícil também, pelo menos foi assim que entendi as dicas, demonstrar interesse, mas ao mesmo tempo um certo distanciamento. É um jogo difícil que não sei se consigo jogar. Se ela for para Lenine hoje, se nos cruzarmos e se ela falar comigo dessa vez, vamos ver o que é que rola. Só de pensar já fico ansioso, no pior sentido. Cheio de receios e medos. Deixa de besteira, homem! O que tiver que ser será, você não é obrigado a ficar a assediando, pode apenas conversar. Ou pode não conversar também. Como meu amigo da piscina disse, eu faço o que eu quiser. Eu só ando se eu quiser. Por outro lado, ele vem e me prega o movimento contrário que é o mesmo que ir contra a minha vontade. É uma contradição no seu discurso. Mas isso é o de menos, os meus não poderiam ser mais contraditórios.

14h52. Mamãe confirmou que era a praça mesmo, vou imprimir o mapa, embora seja bastante simples. Só decorar Rua do Chacon. Acho que não vou imprimir o mapa não. Pega a Dezessete de Agosto até a Rua do Chacon, segue até o final desta e dobra à esquerda. Pronto. Easy said than done but... deve haver um fluxo de pessoas afluindo para lá e isso me servirá de guia. Irei de tênis. É melhor para me locomover. O que chama uma calça. Seria bom que a minha única calça jeans, dada pela minha terceira namorada, ainda coubesse em mim. Acho a calça mais legal que tenho e o jeans já está velho, logo confortável. Acho que vou fazer como minha mãe e tirar um cochilo. Ao som de “Utopia” de Björk.

16h26. Fiquei na cama, enrolado no lençol, com o ar ligado, ouvindo Björk e pensando no evento de hoje. Mamãe já me deu o dinheiro. Já separei a roupa. A calça jeans cabe com certo esforço, mas cabe. A camisa vai ser a da personagem de Sandman. Acho que as do Mario são muito infatilóides para a situação. Adoro minhas camisas do Mario, mas acredito que iriam turn a garota da noite off. Isso se ela estiver lá e quiser compartir da nossa companhia. Minha e do meu amigo professor a priori.

16h45. Acabo de enviar mensagem ao grupo da turma dizendo que sairei às 18h00 para o show e que ficarei na entrada, próximo à marca do Parque Santana até Lenine começar, depois entro para assistir. O meu amigo professor já se manifestou e disse que chegará logo depois. De 17h30, vou tomar banho. Aliás, de 17h27. Por quê? Porque eu quero, oras! Hahahaha.

16h51. Acho que não contarei da saída nesse post, já está muito grande. Fica para outra entrada.

17h08. Menos de 20 minutos para eu tomar banho.

17h14. Fiquei viajando nas minhas duas primeiras namoradas agora. Estou realmente repleto de pensamentos afetivos hoje. Vou pegar o último copo de Coca antes da preparação.

17h20. Vai ser o tempo de comer o gelo. Meu primo confirmou presença “bem depois”. Espero que chegue e ainda esteja rolando algo.


0h29. Estou de volta. Vou narrar aqui mesmo porque não teve nada de extraordinário (leia-se, garota da noite). Encontrei com meu amigo professor, sua namorada e meu amigo projetista. Foi massa porque conversamos bastante, algo que sinceramente me faltava. Fiquei sabendo de várias novidades sobre o mundo e o Brasil. Enxame de venezuelanos em Rio Branco à procura de melhores condições de vida que em seu país. Que o primeiro baixista do Los Hermanos abandonou a banda antes de ela estourar para ir tocar com o Rodox. Que o melhor programa de estatística do mundo vem com um chip para ser instalado no hardware para poder rodar. Que Luciano Huck desistiu da candidatura à presidência sob pena de ser demitido da Globo, tendo aparentemente 60% das intenções de voto. Que existem normas de segurança para para-choques traseiros de caminhão, que não são fabricados pela montadora, mas por empresas terceirizadas. Pois é, caminhões, via de regra, só vêm com o para-choques da frente. E sem nada atrás, cabendo ao comprador colocar sobre o chassi o que for mais adequado ao seu negócio, seja transformá-lo num caminhão baú ou num caminhão caçamba, ou de lixo etc. Descobri que há também haitianos vindo para cá pela Região Norte e que esses são enviados para São Paulo. E sei lá mais o quê. Isso é o que eu me lembro. Ah, que o Xbox foi o primeiro console a permitir conexão com internet. Que existe um brasileiro com mais de um milhão de achievements do Xbox. Que a vida seria mais bela com a presença da garota da noite nela. Se bem que fiquei supernoiado de cruzar com ela. Essa dicotomia me incomoda. Acho que gero expectativa demais. Preciso relaxar e deixar fluir o que tiver que fluir, ou seja, muito provavelmente nada. Meu primo-irmão chegou perto do final do show, mas ficou conversando com outro amigo, por algum motivo não quis se mesclar ao nosso grupo. Perguntei até isso a ele agora por WhatsApp. De toda sorte, como vi de longe o show, o som não estava lá essas coisas e Lenine deixou a galera cantar muito das músicas, fazendo só acompanhar, especialmente as mais conhecidas, que são as que conheço. Pelo show não valeu muito a pena, valeu pela companhia, muito legal. E é isso. Vou revisar para postar.    

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

12h23

12h23. Hoje acordei sem sentir aquele afã que sentia pela garota da noite nos últimos dias. Ainda bem. Acho que está passando. Ou quase passou. O que tiver de ser será. Ou, pondo de uma forma mais acertada, o que não há de ser não será. De nada adiantam palavras aqui. Hoje é um dia propício ao cinema, acho que há um desconto às quartas-feiras. Vamos ver se meu amigo jurista vai se manifestar. Acordei há pouco tempo e disse muito ontem então me encontro meio vazio de conteúdo. Tenho que cascavilhar dentro de mim para ver se acho alguma coisa, já que ao meu redor não há muito de novo. Dona Carmelita conversa com minha mãe na cozinha enquanto essa almoça. “Todo mundo peida e caga”. Do mais miserável ser humano à maior beldade, ao mais poderoso dos poderosos. Esse fato um tanto constrangedor nos nivela como animais iguais. O resto é invenção do homem. São rótulos abstratos que criamos. Somos bichos com a capacidade de criar. E criamos cada besteira, cada aberração, cada maravilha. Somos animais que desejam mais do que precisam ter, somos ambiciosos. Não todos, há os que vivem o completo desapego. Isso me lembrou uma música de Gabriel O Pensador, a que gosto mais dele. Acabei de adicionar à lista 6. Vou procurar a letra para colocar aqui.

Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
Eu me chamo de excluído como alguém me chamou
Mas pode me chamar do que quiser seu doutor
Eu não tenho nome
Eu não tenho identidade
Eu não tenho nem certeza se eu sou gente de verdade
Eu não tenho nada
Mas gostaria de ter
Aproveita seu doutor e dá um trocado pra eu comer...
Eu gostaria de ter um pingo de orgulho
Mas isso é impossível pra quem come o entulho
Misturado com os ratos e com as baratas
E com o papel higiênico usado
Nas latas de lixo
Eu vivo como um bicho ou pior que isso

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou... Eu não sou ninguém

Eu to com fome
Tenho que me alimentar
Eu posso não ter nome, mas o estômago tá lá
Por isso eu tenho que ser cara-de-pau
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maior do que a moral
Eu sou sujo eu sou feio eu sou anti-social
Eu não posso aparecer na foto do cartão postal
Porque pro rico e pro turista eu sou poluição
Sei que sou um brasileiro
Mas eu não sou cidadão
Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar
E o meu banheiro é a rua
E sem papel pra me limpar
Honra?
Não tenho
Eu já nasci sem ela
E o meu sonho é morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar
E eu não tenho perspectivas de sair do lugar
A minha sina é suportar viver abaixo do chão
E ser um resto solitário esquecido na multidão

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu não sou ninguém
Eu não sou nada
Eu não sou gente
Eu sou o resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu não sou ninguém

Frustração
É o resumo do meu ser
Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver
Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho uma chance
Deus, me diga por quê?
Eu sei que a maioria do Brasil é pobre
Mas eu não chego a ser pobre eu sou podre!
Um fracassado
Mas não fui eu que fracassei
Porque eu não pude tentar
Então que culpa eu terei
Quando eu me revoltar quebrar queimar matar
Não tenho nada a perder
Meu dia vai chegar
Será que vai chegar?
Mas por enquanto

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu não sou ninguém
Eu não sou nada
Eu não sou gente
Eu sou o resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu não sou ninguém

Eu não sou registrado
Eu não sou batizado
Eu não sou civilizado
Eu não sou filho do Senhor
Eu não sou computador
Eu não sou consultado
Eu não sou vacinado
Contribuinte eu não sou
Eu não sou comemorado
Eu não sou considerado
Eu não sou empregado
Eu não sou consumidor
Eu não sou amado
Eu não sou respeitado
Eu não sou perdoado
Mas também sou pecador
Eu não sou representado por ninguém
Eu não sou apresentado pra ninguém
Eu não sou convidado de ninguém
E eu não posso ser visitado por ninguém
Além da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão da minha existência
Por que que eu nasci?
Por que eu to aqui?
Um penetra no inferno sem lugar pra fugir
Vivo na solidão mas não tenho privacidade
E não conheço a sensação de ter um lar de verdade
Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo
Mas eu queria morar numa favela, amigo
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela.

13h20. Gosto muito dessa letra, me identifico muito não sei bem por quê. Vai ver que já fui mendigo em outra encarnação. E mesmo nessa, já cogitei, no auge do desespero, em largar tudo e virar mendigo. Graças aos céus eu consegui a curatela e antes disso meu pai me acolheu. E depois de sua morte minha mãe decidiu me receber. E batalhou comigo pela curatela. Foi um processo desgastante, com muitas reviravoltas, mas enfim me distanciou, talvez até o final da minha vida de me tornar um indigente, pois voltar ao mercado de trabalho está fora de cogitação para mim. Não sou capaz disso. Só eu sei o que passei, principalmente dentro de mim.

14h11. Acabei de ler e achei muito interessante para quem curte games, especialmente Super Mario Odyssey, já que é a opinião de outros desenvolvedores sobre o jogo (contém alguns spoilers e é em inglês):


14h12. Pegar Coca. 14h15. Hoje o post está cheio de referências, que chique. Hahahaha. Pena que não são para todo mundo. A do Super Mario é especialmente hermética para os não iniciados. Só indico para gamers.

14h35. Fui fumar um cigarro de verdade. A bateria prateada do meu Vaporfi está morrendo. Ainda bem que ainda tenho uma de reserva. Mas também só tenho mais essa. Não fabricam mais o modelo que uso, então não posso comprar mais partes para ele, o que é uma grande sacanagem, na minha opinião. Hoje não estou no astral de ouvir “A Love Supreme” de John Coltrane. Não é para todo dia, como também não é o “Medúlla” de Björk. São dois discos geniais, mas não são obras facilmente acessíveis, na minha opinião de leigo. Também não estou muito para música de videogame. Pulei. “A Forest” do Cure versão remix, desce mais macio, embora já esteja enjoando das músicas do Cure que coloquei aqui. Hoje estou com um astral bom, perfumado. Assinei uma petição hoje a favor do fim do foro privilegiado para políticos. Uma vez que se começa a participar de petições é difícil parar, dá um sentimento bom, de estar fazendo a diferença de alguma forma, contribuindo para que o nosso horrendo quadro social fique mais belo. Para quem quiser experimentar, eis o link:


Hoje estou virado nas referências. É divertido repartir o que vejo na internet com o leitor. Não sei explicar bem por quê. Acho que porque é uma outra forma de intimidade diferente das palavras só possível com o advento da internet. Se bem que o blog também é algo só possível pela internet. A internet é uma grande maravilha e ela é criada por nós, é uma criação coletiva da humanidade. Pelo menos daqueles que ousam criar e publicar o seu próprio conteúdo. E muitos ousam. O que seria do Facebook se ninguém postasse nada? Eu posto muito pouco no Facebook, geralmente me limito a divulgar o blog nos grupos de escritores, leitores e simpatizantes dos quais faço parte e divulgar petições que julgue realmente pertinentes. Ademais não publico nem olho muito o Facebook, sei que se começar a olhar me pego envolvido na coisa e perco um tempo danado. E tempo é o meu dinheiro. É a coisa mais valiosa que eu tenho. E a cada segundo mais valiosa porque a ampulheta da minha vida está esvaziando. Como a sua também está, grão a grão, segundo a segundo. Prefiro usar meus segundos para escrever, não sei por que esse desejo tão forte, mas acho que é a forma mais prazerosa de empregá-los. Por ora, pelo menos. E esse “por ora” é bastante persistente. Hahahaha.

15h26. Estou na dúvida se incite meu primo a ir ver Lenine no sábado no Parque Santana. Provavelmente a garota da noite estará lá. Ela mora superperto do local e Lenine é uma atração meio que imperdível, principalmente de graça. Cada vez mais consigo digitar sem olhar para o teclado, mas isso me é incômodo, prefiro olhar para o teclado do que para a tela. É mais fácil e me sinto mais confiante de que estou apertando as teclas certas.

15h34. Voltando a Lenine, não sei se ela gostará de cruzar comigo lá. Mas também não posso ficar evitando lugares por causa disso. Tenho curiosidade de ver o trabalho novo de Lenine. Gostaria de ver Lenine ao vivo, acho que nunca tive essa oportunidade. Não vou me privar disso por causa de qualquer indisposição que outrem tenha comigo. Eu não estou indisposto com ninguém. Estou “super de boa”. Mentira. Estou um tanto magoado com a nossa última interação. Mas a vida é assim mesmo. Não sou de guardar mágoas ou rancores. Coloquei o som no volume 27. Quero compartilhar um pouco do que ouço com o mundo. Minha mãe pediu para eu deixar a porta aberta, o som se espalha pela casa e não parece insuportavelmente alto. Embora seja praticamente 200% mais alto do que ouço. Geralmente ouço no volume 10.  O perfume da minha mãe ainda está em minhas mãos desde a hora em que a beijei para me despedir há cerca de duas horas. Toca o novo single de Björk “Blissing Me”. Acho que ela esbarrou num platô criativo, mas gosto da melodia dessa música. Parece que o mundo todo está embebido na música que agora escuto pois ela parece preencher todos os lugares da casa e a uma altura suportável para mim.

16h32. Estou assistindo o Sideshow Live, especial de Black Friday. Ou estava. Fechei a janela do YouTube no computador, mas está passando no celular. A bateria do celular acabou de acabar. Não adianta mesmo ver essas coisas, eu não vou comprar mais nenhum boneco na vida. Minha coleção acabou com a Red Sonja. Botar o celular para carregar.

16h41. Demorei para achar o carregador, viu? Tinha caído junto com metade da pilha de CD’s que deixei em cima da caixa de som, atrás do aparelho com a vibração dos graves no volume em que a música estava. Não me apercebi disso, até, por via das dúvidas ir olhar atrás do som que não seria um lugar onde normalmente eu poria coisas.

16h46. Sem Sideshow Live, voltei a colocar a música mais alta, mas sendo mais modesto do que estava, num volume agradável, não o suficiente para divulgar o que ouço para o mundo. Eu sou meio exibicionista mesmo. Hahahaaha. Acho que a solidão me gera essa vontade de contatar as outras pessoas por vias indiretas. Ou posso ser só exibicionista mesmo. Sabe-se lá. Não sei como consegui encher cinco páginas tão rápido. Ah, a música de Gabriel O Pensador ajudou, sem dúvida. Deve ter ocupado pelo menos metade das páginas.

17h04. Esse post de hoje está muito vazio de conteúdo. I can’t find myself...” canta Robert Smith. Eu hoje estou meio perdido de mim, preciso me reconectar. Mas dizer o quê? Meu encantamento pela garota da noite arrefeceu desde o filme de ontem. Nada que uma nova dose dela não vá renovar, me conheço. Será que gostaria de reencontrá-la? Para ser tratado com total desdém certamente não. Mas não quero falar sobre isso. Prefiro deixar arrefecido por ora. Se começar a escrever, talvez comece a fantasiar de novo, não vai ser legal.

17h42. Caí na armadilha Facebook, passei quase oito minutos vendo um bando de japoneses competindo para ver quem chegava ao topo de uma escadaria toda melecada de gel num programa de auditório nipônico. O pior, não tive paciência para ver qual dos competidores ganhava. Total perda de tempo. Não vi nada que valesse a pena ou me engrandecesse de alguma forma. 17h46.

17h54. Falta de assunto do caramba, queria jogar o Odyssey. Queria ter para jogar. Nossa, como queria. Se há algo que eu quisesse mais que isso? Claro que sim, mas não vou entrar nessa seara. Será que eu consigo convencer a minha mãe a comprarmos o Switch? Acho difícil. Porque daí já pediria para o meu irmão me dar o Zelda do Switch. Aí a festa estava feita. Mas isso é uma impossibilidade. Outra impossibilidade. Tudo o que mais quero são impossibilidades. Normal. Tenho que me contentar com o que tenho, que já é muito. Tenho muito tempo, tenho muitos games, tenho saúde, tenho um confortabilíssimo lar, embora quase não aproveite os demais aposentos, apenas o meu quarto-ilha e a cozinha basicamente. E o meu banheiro, óbvio. Por falar nele, preciso tomar um bom banho. Tomarei hoje à noite. Mais tarde. Gosto de banho tarde da noite. Acho que é porque pouca gente toma banho nesse horário. É pouco usual. E porque eu estou sem a motivação necessária para tornar a experiência gostosa como deve ser. Gosto de tomar banho. Eita, “Cantada (Depois de Ter Você)”. Essa não tem como não pensar em namorar. Já estava pensando nisso antes. Acho que o meu Spotify é assombrado. Adivinha. Hahahaha. Olhando em retrospecto, antes da Turma das Ubaias e depois da volta de São Paulo, eu tive um período de vida bem solitário. Claro tinha o colégio, mas o restante do tempo eu passava sozinho, jogando videogame. Claro, eu estudava também e fazia as lições de casa. Eu era um bom aluno. Não era excepcional, mas só fiquei de recuperação duas vezes na vida. Uma na oitava série em Português e Desenho Geométrico e outra no terceiro ano, em Química. Fui até para a final no terceiro ano. Até hoje me pergunto como passei no terceiro curso mais concorrido daquele ano na Federal. Pois é, Publicidade naquela época em que só existia na Federal só perdia para Medicina e Direito. Não sei como consegui passar, mas passei e depois disso passei por muito mais coisa até chegar aqui a estas palavras. Nossa, foi uma jornada para lá de pedregosa e como passou rápido, me lembro de tão pouco. A sensação que tenho é que passei pela vida sem grande interesse por ela, como quem olha paisagem passando na janela do carro. A diferença é que quando se está viajando de carro, há um destino esperado e a vida todos nós sabemos qual será o destino e não é nada desejável para os que gostam de viver, time do qual agora faço parte. Acho que a curatela foi o maior divisor de águas da minha vida, com ela, senti a segurança de que nunca mais precisaria descer ao inferno. Para quem viveu o inferno existencial, levar uma vida limitada e medíocre como a minha (sobre certos aspectos e/ou paradigmas) é mudar da água para o vinho. Ou da água para a Coca-Cola. Hahahaha.

19h03. Tive que auxiliar mamãe que fez uma infiltração no joelho, mais uma etapa nessa inacabável via-crucis de médicos e procedimentos e exames dela. Coitada. Bem, continuando, estou quase satisfeito com a vida que levo. Me falta afeto de amantes, carinho e intimidade, me falta um Super Mario Odyssey para jogar, mas consigo viver bem sem isso. Viveria bem melhor com ambos, mas não se pode ter tudo. Como disse, já tenho demais, sou muito afortunado. Acho que nem sei namorar mais mesmo e tenho certeza que o Super Mario Odyssey deve ficar muito difícil, o que me desmotivaria a jogá-lo. Estou tão inseguro quanto a me relacionar que pensar nisso me enche de enorme ansiedade. Um medo de ser incapaz de fazê-lo, de não corresponder. Embora saiba que estou catastrofizando a situação. Essa postura de evitamento frente aos desafios da vida precisa ser revista e reconfigurada em mim. E não, não posso depositar a minha salvação do ostracismo num relacionamento. Esse pode não haver mais na minha vida. O ósculo, será que ainda saberei acarinhar dessa forma?

19h28. Não achei válido nem inválido o que escrevi acima, ficou no limbo entre uma coisa e outra. Achei que a solução para o dilema seria a que tomei. Ouvindo Audioslave, fazia tempo que não escutava. Nunca escutei no Spotify. Botei a discografia em modo aleatório.

20h13. Acho que descobri o que pode estar causando esse leve baixo-astral que me acomete, a retirada do Rivotril deve estar me dando algum tipo de abstinência. Tomara que seja isso, visto que passageiro. É só o tempo de Tico e Teco entenderem e se acostumarem a não receber mais o remedinho. Fico pensando se a Doutora faz dessas para ver se o sujeito recai e se interna numa de suas instituições de novo. Mas isso seria maquiavélico demais. Acho que a Doutora tem uma preocupação sincera pelos seus pacientes.   

20h27. Não está saindo nada que se aproveite hoje ou então estou hipercrítico. Parece que filosofar é indagar-se sobre a vida. Fui ler o que era niilismo no Wikipédia. E discordo dos niilistas, para mim há um propósito na vida de um homem, a criação, a obra que ele deixa para o mundo. A minha é realmente irrelevante, um nada, mas e o cara que inventou o parafuso? Há parafusos em todos os lugares. Onde há tecnologia um pouco mais avançada, há parafusos. Acho que está é faltando um parafuso na minha cabeça hoje. Hahahaha. Algum está solto. Eu querer debater niilismo porque li um artigo de Wikipédia. Hahahaha. Embora eu possa fazer o que quiser aqui. Mas me sinto agora constrangido a fazer isso. Só sei que o cara que inventou o parafuso efetivou uma transformação na realidade para além de sua subjetividade. Quer os niilistas queiram ou não.


21h12. Estava deitado na minha cama olhando para o teto e ouvindo Audioslave. Comecei o dia tão bem, não é possível que vá terminá-lo de baixo-astral. O que levantaria o meu astral? Ver um filme nem pensar. O maior saco desses videogames novos é que precisam carregar tanto o sistema operacional quanto o jogo para que se possa efetivamente jogar, mas isso não é desculpa para não querer jogar. Aposto que se tivesse o Odyssey aqui estaria jogando. Também jogo novo de sistema novo, do Mario, com visuais fantásticos e diversão top. Mas deixa isso para lá, não tenho isso aqui. Talvez veja um filme mesmo. Talvez não faça nada. Queria conversar com alguém querido. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

AINDA ASSOMBRADO POR ELA

14h02. Mais um dia de existência. Este começa tedioso, modorrento. Não consegui fazer o exame de sangue pois não achei a prescrição da Doutora. Estou agoniado de ficar trancado aqui no quarto. Acho que vou dar um passeio até o shopping só para desopilar um pouco. Será que o meu amigo jurista vai querer ver o filme hoje? Gostaria de saber, mas não vou perguntar porque já o pressionei na semana passada em relação ao Odyssey, não vou me passar por chato e insistir essa semana. E a comunicação é uma via de mão dupla, se houver interesse, motivação da outra parte, ele há de se manifestar. Queria saber porque daí não iria ao shopping duas vezes no mesmo dia.

14h27. Há certas posições e gestos que reforçam o sentimento que carrego. Por exemplo levei a mão à têmpora e percebi que isso intensificou o meu sentimento de marasmo. Hoje, até agora, tem se mostrado um dia bastante banal. Não que eu desgoste da minha vida, mas nem todos os dias são de maravilha. Há os dias banais. Surpreendente seria se eu morresse hoje. Mas tenho certa convicção de que isso não vai acontecer. Não sei de onde vem essa certeza. Acho que porque a probabilidade é pequena. Por mais que aumente com a idade, não cheguei à idade em que ela é um fator real de preocupação. Se morrer hoje é atropelado quando e se for realmente ao shopping. É a única probabilidade de morte que consigo aferir. Ou um latrocínio.

15h03. Dane-se se eu for duas vezes ao shopping hoje. Vou agora. Preciso ver um pouco o mundo, as pessoas.

17h11. Só fiz me suar. Não achei graça nenhuma no shopping. Aguentei ir só ir até o terceiro andar, se passei meia-hora lá foi muito. Acho que ainda estou um pouco para baixo por causa do incidente do sábado. Realmente deve ter algo de muito errado comigo para a pessoa me tratar assim. Queria saber onde errei para pelo menos tirar alguma lição do ocorrido, mas deixa para lá. O mundo segue girando no seu passeio pelo cosmo. Quem sabe a vida não tenha alguém guardada para mim? Achei que finalmente havia encontrado, mas não foi o caso. Bem, não sei. Afinal o tal do mundo dá muitas voltas. Quem sabe numa delas, num encontro menos conturbado. Não, também acho que não. Mas não vou ter um comportamento reativo, de desprezo ou coisa que o valha. Ficarei na minha, se quiser se comunicar comigo, serei receptivo. Me prometi não falar mais dela aqui. Porém o que fazer se é o assunto que me domina a alma? Tomara que isso passe logo. “Super de boa”. Sei. Vi. Vivi. Não foi de boa para mim. Não me pareceu assim, nem me senti assim. Novamente, deixa para lá. Deixa o mundo girar. Volto aos meus platonismos, enquanto isso.

17h37. Meu amigo cineasta disse que vai vir aqui no meu aniversário me visitar e filmar. Acho que vai se decepcionar com a “festa de aniversário” porque não vai haver uma. Odeio “Parabéns pra Você”, odeio a falsa felicidade ausente nos demais dias em que eu continuo sendo o mesmo da mesma forma que quando completo mais uma volta em torno do sol. Ainda bem que é um dia só, odiaria muito mais a falsa felicidade diariamente, viver num mundo de hipocrisia. Sei que a hipocrisia é uma útil ferramenta social, mas não gosto de usá-la. Quanto menos, melhor. Dia 16 de dezembro tem o natal da minha família paterna. Talvez consiga participar, embora às vésperas da viagem para os EUA. Mas viajo dia 20, acho que minha mãe não interporá nenhum obstáculo a minha ida. Tentarei estar com as malas já prontas antes do dia 16. Ah, o meu amigo cineasta também estará por aqui nesse período e pretende me filmar. Não sei se valeria ele filmar o natal, não sei se eu me sentiria constrangido com isso. Ou se meus familiares se sentiriam constrangidos com isso. Sei lá, discuto isso depois com o meu amigo cineasta quando ele chegar.

18h09. Perguntei pelo WhatsApp mesmo. Como sempre, esperar resposta. Ele agora está indo tomar um café com sua consorte, deve demorar a responder. Estou agoniado hoje, com uma angustiazinha leve e chata. Queria muito ir ao cinema ou ao Odyssey com o meu amigo jurista, mas, pela hora, já vi que não vai rolar. Pelo menos estou sozinho em casa, isso me dá um certo prazer. E não estou nem botando o som nas alturas. Minha alma não pede isso hoje, prefiro no volume em que está mesmo. E não estarei sozinho por muito tempo. Mamãe e meu padrasto devem estar para chegar.

18h23. Parei para ver um vídeo que o meu amigo da piscina pediu para compartilhar. Pena, mas não compartilho vídeos, mesmo sendo muito pertinente (e muito do mesmo). A ida ao shopping não foi uma variação na minha rotina que tenha me apetecido. Geralmente quando vou, vejo algumas beldades, mas hoje não tive sorte. Mas de que adianta olhá-las e apreciá-las se não posso conversar ou tocar? Nossa, como sinto falta disso, de conversar com uma garota que goste, tocar uma garota que me encante. Mas não vou voltar ao mesmo assunto, por mais que ele me ronde. Parece que, agora que passei de uma década, vou completar bodas de prata de solidão. Espero tremendamente estar tremendamente enganado.

18h39. Mais Coca no copo. Antigamente, quando repartia esse blog com amigos, me diziam que eu escrevia como falava. Será que isso ainda bate com a realidade? Falo tão pouco, mas no dia do Mimo me comuniquei razoavelmente e achei que, afora os palavrões, usei vocabulário similar ao que emprego aqui. Curioso isso. Não acho que sempre se dê assim ou se dá e não me apercebo. Sei lá. E que diferença isso vai fazer na minha vida? Ínfima, se alguma at all. Certamente não falo colocando trechos (totalmente dispensáveis) em inglês. Não sei por que o faço aqui. Faço porque acho conveniente e fácil, há expressões em inglês que são mais práticas nessa língua e complementam bem a ideia da frase. Ou faço por frescura. Hahahahaha. Há uma leitora, creio que administradora de um dos grupos de escritores em que publico, que geralmente curte o que escrevo. Curte no sentido de dar uma curtida de Facebook na postagem. Espero que esteja sendo sincera. Ou vai ver ela faz isso com todas as postagens que lá aparecem sem se dar ao trabalho de ler. Caso leia, saiba que me sinto extremamente lisonjeado e honrado com isso. Alguém gostar do que eu escrevo, mesmo que uma pessoa apenas é glorioso para mim. Aliás, duas, há um senhor também que mais das vezes curte as minhas postagens. Também não sei se lê ou curte tudo o que é publicado, mas deixo minha imaginação um pouco mais condolente comigo e acredito que de fato essas duas pessoas lêem minhas palavras. Eu escrevo torto por linhas certas. Hahahaha.

18h52. Meu amigo cineasta curtiu bastante a ideia de filmar o natal da minha família paterna. Legal. Será massa ter a companhia dele lá. Também é muito amigo do meu primo urbano, que não poderá faltar à festa. Acho que é a única ocasião do ano em que todos os primos se reúnem. Geralmente só eu vou às celebrações dos aniversários da família que acontecem. Dentre os primos/sobrinhos da família, digo. Gosto muito. Estou começando a gostar mais das celebrações da família materna também. Cada vez vejo menos diferença entre o que sinto em ambas as oportunidades.

19h06. Meu amigo cineasta pediu para perguntar à família se há algum problema em seu intento, o que de pronto fiz, através do grupo da família no WhatsApp (campeão em postagens dentre os poucos grupos do qual faço parte). Estou à espera das respostas, mas creio que não haverá. Se houver, ficarei bastante decepcionado com a minha família paterna.

19h18. Nenhuma resposta ainda.

19h35. Até agora só uma prima mandou três palminhas. Não sei o que quer dizer. Mas seu marido conhece o meu amigo cineasta, então creio que seja algo positivo. Estou besta que ninguém mais tenha se manifestado. Pensei que as pessoas da família ficavam de olhos grudados nesse grupo. Ou então não gostaram da ideia. Agora meus outros primos geralmente levam amigos e ninguém reclama. Acho que não vai ter problema. Acho. Esse silêncio no grupo me incomoda. Minha mãe chegou e disse que já vai se retirar. Quer que eu acorde às 10h00 amanhã para ir pegar a requisição do exame para fazer. Mas hoje a noite é minha, não vou me ligar em horário, certamente o laboratório é aberto à tarde, então posso comer quando a fome dos remédios se der.

19h52. Mais ninguém da família se manifestou. Muito estranho. Ou não. Raramente olho o grupo. Vai ver é assim mesmo. Amanhã olho. Ou daqui a uma hora. Não vou aguentar a curiosidade mesmo. Hahahaha. Tenho é que me segurar para não ficar olhando o tempo todo. Ansiedade aqui é boia. Mas vou controlar isso e só olhar às 20h52. Enquanto isso, o que faço? Depois de rapidamente considerar o Mario Galaxy, resolvi ficar aqui mesmo. Mas ficando aqui, o velho assunto vem me assombrar. Perdeu, boy, entenda logo isso. Ponha isso nessa sua cabecinha sonhadora. Você é um cara ozzy que vai acabar sozinho. Simples assim. Eu mereço isso? Um superego estimulante desses? Terapia a caminho, se preocupe não, superego. Pelo que vi no vídeo do meu ex-psicólogo, tudo isso pode ser fruto de uma educação muito crítica a meu respeito. Todos esperavam que eu fosse um papai versão 2.0 ou pelo menos foi assim que entendi e eu colocava o meu pai num pedestal inalcançável, por boas razões, diga-se de passagem. Só muito depois fui descobrir que ele era um ser humano impecável na maioria dos aspectos, mas falho em outros. De toda sorte nunca cheguei ou chegarei aos pés dele. Só existe uma coisa que faço e que ele só ousou uma vez, escrever. Ele escreveu um livro didático, eu vivo a escrever sem o pudor ou a monstruosa bagagem intelectual que possuía, escrevo por prazer, coisa que ele nunca conseguiu fazer talvez por ter leitura demais. Eu sou o seu completo oposto nesse aspecto. Acho que isso torna a escrita ainda mais libertadora. Meu pai não fazia isso, então não tenho que me comparar com ele. Não tenho que me comparar a nenhum grande escritor, não entendo coisa alguma de estilo ou de narrativa ou de gramática ou de ortografia. Escrevo com o que aprendi por osmose, de algum lugar que me escapa, por isso esses textos devem ser paupérrimos em termos de valor literário e pouco se me dá. Não quero ganhar o Nobel de literatura, quero apenas dizer o que penso para um punhado de gente, às vezes menos de um punhado, ou para mim mesmo. E minha confiança na Google me faz crer que me tornarei um escritor imortal no sentido que a minha obra vai estar disponível ao público até bem depois que esse corpo fenecer. Não sei o que acontecerá quando e se da Singularidade Tecnológica. Mas acredito que os arquivos serão preservados. Pelo menos sendo uma pessoa só, não terei que abandonar ninguém se a possibilidade de me fundir à Singularidade for real. Acho que a primeira coisa que eu criaria era um copo de Coca-Cola que não esvaziasse jamais, nem seu gelo derretesse, nem ficasse sem gás. Hahahaha. Se bem que gosto de quando a coca acaba e posso comer o gelo derretido. Acho que criaria um que, a um  pensamento, se enchesse novamente. Da mesma forma a carteira de cigarros, que não tivessem cheiro para os que viessem visitar as minhas paragens criativas. Criar/materializar virtualmente tudo com o pensamento ou com a escrita mesmo, seria apenas o começo, eu acho, das possibilidades inimagináveis de estar fundido à Singularidade. Acredito que deixaria de ser humano, seria qualquer coisa além, acho que abandonaria meu corpo, decrépito à época esperada para a emergência da Singularidade. 2047. Eu terei 70 anos. Se chegar aos 70. Não cuido da minha máquina, esta que habito, bem o suficiente para ter certeza disso. E o pior que eu gosto da tal máquina, apenas desgosto da aparência dela, mas pela sua resistência e por sua capacidade cognitiva, tenho extrema estima, como tenho por ter nascido da espécie humana, por mais que isso acarrete uma série de neuroses que me incomodam. Mesmo assim, poder experimentar tudo o que um ser humano experimenta é fantástico, de um game ou sundae da McDonald’s às maiores abstrações e viagens proporcionadas pelo cérebro superdesenvolvido do homem. Gosto também de ter nascido macho, as fêmeas da nossa espécie passam por muito mais dificuldades que os machos. Dificuldades biológicas e sociais. Por isso admiro tanto as mulheres. Elas me são revigorantes, desde que equilibradas. Conheci muitas mulheres fantásticas. Acho as mulheres em geral fantásticas, independentemente da aparência, cor, credo, classe social, idade ou quaisquer outras variáveis. Talvez por guardar tão profunda admiração e respeito eu não consiga ser galinha ou gostar de ficadas. Não as vejo apenas como objetos a serem penetrados pelo meu pênis. Elas são tão muito mais que isso para mim que chega a ser intimidante. Ao mesmo tempo me apiedo delas pelas dificuldades que experimentam no mundo. Sei lá. Só sei que se a Singularidade se der e vivo estiver deixarei para trás a condição humana e passarei para uma existência outra, com a mente ampliada, multiplicada, elevada exponencialmente. Esse seria o meu segundo maior grande sonho. O meu primeiro seria uma namorada que eu amasse e que me amasse também. Do jeito torto que sou. Nossa, como sinto falta. E como rótulos aplicáveis à minha pessoa me distanciam desse sonho. Viciado, curatelado, coroa (cada vez mais e é irreversível), buchudo, calado, alienado... Alguns reversíveis, outros infelizmente sempre estarão aqui para me assombrar. Os piores. Os três primeiros que citei, para ser mais preciso. Eita, 21h19. Vou olhar se a família paterna se manifestou. Até agora só a minha prima. Que ozzy. Coloquei uma interrogação e uma carinha de meio triste. Espero que isso estimule alguma manifestação contra ou a favor. 21h27. Às 22h27 olho novamente. O que fazer nesse intervalo, nessa uma hora de existência que me separa do evento, indago-me novamente. Já viajei na maionese demais nesta última hora, não tem mais nada que tenha a dizer. Não sei por que cargas d’água lembrei-me de uma frase que a minha professora da terceira ou quarta série disse uma vez, achei super ousado à época, foi no final da aula por alguma razão que a memória me deixa escapar, quem muito escolhe, a m... recolhe. Não lembro se ela falou a palavra, de baixo calão naqueles tempos idos, hoje ouve-se em música no rádio, mas a mensagem era essa. E me veio à mente acho que por despeito. E acho que agora vou jogar Mario Galaxy mesmo.

22h35. Hora de checar o grupo da família. Peguei algumas estrelas no Super Mario Galaxy. Muito bom. Ótima notícia eu ter achado isso, por sinal. Minha tia botou um coração, então, dei como aceito o meu pedido e já repassei a informação ao meu amigo cineasta.

23h26. Me perdi num site de jogos, preciso ir dormir para acordar amanhã às 10h00. Saco. E eu que queria que a noite fosse minha hoje... amanhã será. Não é possível que eu não consiga fazer o exame de sangue amanhã. Durma bem, garota da noite. Desculpe, escapuliu.

-x-x-x-x-

12h53. Já peguei a requisição, já tirei sangue, já almocei.





14h27. Acabei de tirar um cochilo. Acho que hoje não vai rolar nada com o meu amigo jurista. Vai ser mais um dia de solidão. Hoje não estou tão incomodado quanto ontem, coisas das sutilezas da alma. Talvez o fato de ter feito um pequeno desabafo com a psicóloga de plantão no Manicômio enquanto esperava pela requisição dos exames de sangue tenha me aliviado um pouco. Acho que voltar a terapia me fará muito bem, pois serei ouvido sem preconceito. Sem medo do julgamento. Falarei de mim para alguém, não apenas para uma folha em branco. Página esta que até censura da minha mãe já sofreu. Veja onde minha mãe se imiscuiu. Tolher a minha liberdade de expressão. Mas não quero falar disso, águas passadas não movem moinhos.

15h15. Sem muito o que dizer. “I Remember You” passando e fazendo latejar o meu cotovelo levemente dolorido. Hahahaha. Sabe de uma coisa? Deixa isso para lá também. Vamos ver se consigo. Essas coisas sempre têm uma sobrevida maior em mim. A esperança, a vã esperança, moribunda, não morre. Fazer o quê? Seguir vivendo e esperando. Melhor que viver vazio de esperança. Acho eu, mas não tenho certeza. Pois dar murro em ponta de faca é garantia de se machucar. Aí vem “Amor Meu Grande Amor”, parece que o Spotify adivinha o meu mood. Isso está ficando ridículo. Hahahaha. Ainda bem que estou me divertindo com isso agora. Na hora não foi nem um pouco engraçado. Eu quis sumir. Só não sumi porque o meu celular não estava pegando internet. Não foi por falta de tentativa. Ainda bem que o grupo se desagregou e fui encontrar meu primo-irmão e meu amigo cervejeiro numa roda de côco na beira da praia. E com eles passei o resto da noite. E iria adiante na madrugada se o meu dinheiro não tivesse acabado. Pena.

15h51. Hoje a noite será minha, ninguém tasca. Estou ouvindo o som nas alturas. Faith No More. Foi um dos bons shows que vi na vida. Geraldão. Faltou luz no meio do show. Foi divertido. E ainda não havia essa tendência de mega-shows, só Madonna e Michael Jackson os faziam à época. Talvez o The Wall já fosse uma mega-produção também, não sei. Só fui saber do show agora em sua última e impressionante encarnação. Vi pela TV, mostrado pelo marido da minha prima. Every beauty needs to go out with an idiot”, canta U2. Será que isso significa que eu não sou um idiota? Hahahaha. Será que ela continua lendo? Creio que não. Não haveria razão. Ainda mais eu tendo alegado que não iria mais mencioná-la, para o meu ledo engano. Seria a única razão para continuar a fazê-lo. E se um beijo acontecesse e eu não sentisse nada? Não seria muito pior? Detesto ser o que rejeita. Só tive uma experiência assim e foi terrível. Uma e meia. A outra, eu só recebi um cartãozinho que ainda tenho em algum canto, pois me lembro de tê-lo visto, com uma declaração de amor em bela caligrafia e não faz os quase vinte anos que o recebi, faz muito menos. Esse não foi um fora, pois não sabia de quem era o cartão. Só bem depois, de alguma forma descobri. Mas era de uma pessoa que não me interessava. Era azul e branco e tinha uns gatinhos recortados no topo. Bem bonitinho. Me sinto cruel até hoje. Como me senti cruel quando acabei com a minha segunda namorada, tão mal na verdade que reatei o namoro mesmo sem a amar mais, foi terrível. Mas na soma, os momentos fantásticos e os horríveis se equilibraram e fiquei no zero a zero, aprendi muito, nos ensinamos muito um ao outro, foi mais do que válido. Como disse não me arrependo de nenhum amor vivido, embora possa contá-los em uma mão, são das coisas mais preciosas que possuo. Afora eles, só dois beijos de bocas em duas borderlines durante os internamentos e a ninfomaníaca que me agarrou. A isso se resume a minha vida afetiva até o momento. Há pessoas que passam a vida inteira sem viver uma grande paixão, quão miseráveis emocionalmente essas pessoas devem ser. Eu pelo menos vivi cinco, não sei se conseguirei viver outra. Mas em vista aos padrões de hoje, sou um felizardo. Parece que meus amigos têm medo ou o coração oco. Tudo para eles revolve o sexo casual. E há um código de ética, que descobri no dia do Mimo e para o qual não dou a mínima, de que não se pode pegar a garota que o outro pegou. Sei que a garota da noite foi pega por um dos meus amigos, mas não hesitaria em começar a me relacionar com ela porque, por mim, eles podem pegar qualquer das minhas ex e porque o que tenho a oferecer é algo que nenhum deles quer ou está disposto a dar. Ainda mais em respeito a uma coisa fugaz e fútil como uma ficada. Me perdoe, amigo, mas, para mim, a banda toca outra música. Eu já me fiz de cupido para que um amigo agarrasse minha primeira namorada. Eles estavam interessados um no outro, que mal havia em dar uma mãozinha? Sei lá, posso estar completamente equivocado, mas foi e é assim que encaro as coisas. Guardo carinho imenso por todas elas, são mulheres espetaculares, que me fizeram sentir toda a delícia de uma paixão correspondida, mesmo que algumas vezes de forma assimétrica, para um lado ou para outro, mas com momentos de plenitude. Pensando bem, depois desse retrospecto, o que sinto pela garota da noite está muito longe de se configurar uma paixão. Nem poderia, eu mal a conheço. A acho interessante e acredito que há o potencial para virar paixão, mas é algo que definitivamente ainda não é. Seria o embrião de um sentimento. Há ainda o problema do imediatismo do sexo, que não é a minha. Comigo, devagar se vai ao longe. “This time I feel my luck could change”, toca o Radiohead querendo botar fogo em palha molhada. Não adianta. Não adianta Mário, desencana logo. Não tão facilmente. Para mim não é tão fácil assim, não é interruptor de lâmpada, que liga e desliga o meu peito. Mas a ficha vai cair, só dar tempo ao tempo. Nossa, já estou na sexta página.

17h09. O som do Screaming Trees me fez viajar por clipes da época do grunge. Me fez viajar que essa mulher ainda vai ser minha. Hahahaha. De onde veio essa autoconfiança toda, não me pergunte, além de ser uma frase machista para os dias feministas que vivemos hoje, acredito eu. Hahahaha. Como as coisas mudam, né? Antes não havia nada demais em colocar as coisas nesses termos. Mas aí feministas tomam ao pé da letra, de que eu quero ter um sentimento de posse da mulher, objetificando-a ou qualquer coisa que valha. Eu ainda a conquistarei, pronto. Mas isso é só da boca para fora também. Se bem que todo mundo me diz que tem que “chegar chegando”, inclusive mulheres. E eu acho isso um baita desrespeito. Sei lá. Talvez entenda chegar chegando da maneira errada. Ou sou realmente muito tímido para essas coisas. Acho que essa última opção é a mais verdadeira. A verdade é que eu tenho vergonha de mim e isso mina completamente a minha autoconfiança. O contrassenso aí está em que não quero mudar quem eu sou, estou muito bem comigo mesmo na minha solidão. A vergonha só aparece para o outro (ou outra, no caso). Mas ando cismado até com os meus amigos. Me lembrei de um termo que me chocou um pouco, “PA” ou, por extenso, “pau amigo”. Ou era isso ou era “foda amiga”, um dos dois. Foi uma amiga que me ensinou. Deve ser por isso que um não quer que o outro fique com alguém de seu “cardápio”, para que tenha sempre aquela opção quando a vontade de fazer sexo bater. É só ligar e marcar a transa. Me chocou pela banalização do sexo e das relações. Acho que estou ficando realmente velho. Um amigo disse que era capaz de sexo, que é uma coisa superficial, segundo ele, mas não é capaz de construir intimidade ou dar carinho. Exatamente o contrário da minha visão de mundo. Sei que não é o único, tanto é que quem o ouvia disse que sofria do mesmo mal. Eu calado estava, calado fiquei, para não ser ridicularizado ou tido como algum tipo de aberração. O sexo é a culminância da intimidade e do carinho, o ápice aonde eventualmente se chega quando uma base mínima de afeto é construída. Talvez eu seja um dinossauro. Talvez mitifique o sexo. Talvez eu não me interesse tanto por penetração, porque o resultado se assemelha muito ao da masturbação e masturbação é algo para lá de banal para mim. Sei lá o que estou dizendo. Não sei nem se faz sentido, saí vomitando as minhas percepções de forma desordenada. O som alto também atrapalha a concentração e a escrita. De toda sorte, o assunto sexo é um dos que tem que ser tratados em terapia. Se não arrumar namorada antes. Hahahaha. Mas para eu me agradar de alguém é difícil. Sou super seletivo. Ainda tenho isso contra mim. A pessoa tem que ter um quê, um elã que me toque a alma. Tem que ser mui bela, além de tudo. Então, fica difícil porque as mui belas podem escolher pessoas muito mais interessantes esteticamente que eu. Eu tenho uma profunda ruptura com a minha aparência, não consigo aceitá-la. Se tem um lugar que raramente olho é para o espelho, geralmente o faço para passar desodorante e pentear o cabelo. Às vezes me olho rapidamente antes de entrar no banho, no resto do tempo, não olho. Não pego o elevador social e fico a me admirar no seu espelho, ajeitando algo aqui ou ali, como vejo vários dos meus fazendo, ou toda vez que vou ao banheiro, onde há o único espelho ao qual tenho acesso na casa. O espelho para mim tem uma utilidade prática, eu o uso para fazer coisas que não conseguiria fazer sem ele. E me admirar não é uma delas, visto que não me admiro esteticamente. Sei que não tenho nada demais. Eita, 17h57. O quarto já é todo escuridão, não fora a luz da tela. “It’s In Our Hands”. Amo. “Cruelest almost always to ourselves…” lembra alguém? Hahahaha.


18h15. Caramba passei um tempão falando dela e me autodepreciando. Que ozzy. Tá bom. Chega. Revisar essa doideira e postar.


Adendo 2017-11-21 (22h03):


Depois de duas horas de suspension of disbelief, como dizia o meu pai, tudo sobre a garota da noite parece uma grande palhaçada. Me dizer assim no blog me parece ridículo. Foi estranho o que o filme fez comigo. Me distanciou da realidade e pude vê-la por outro ângulo. Estou fazendo papel de palhaço. Nesse post ao menos, mas em quase todos os outros também, pois tenho uma realidade medíocre dentro e fora da minha cabeça. Não gostei muito de “Atomic Blonde”, mas me fez ter esse insight que gostaria de compartilhar. Aliás, acho que muita gente se acha mais do que realmente é. Ou talvez seja eu que me ache menos do que realmente sou. Bem, uma coisa não exclui a outra. Me sinto um tanto cético no momento. É um sentimento interessante de ser experimentado. Não acho que deva ou consiga permanecer nesse frame of mind. Mas é curioso estar nele. Todos peidam e cagam. Todos somos iguais. Foda-se o mundo das aparências e dos egos abalonados. Por um momento, fodam-se todos. Somos nada frente à imensidão do universo. Ficaremos obsoletos por conta das nossas próprias criações. O filme me deu um olhar sombrio, gelou meu coração. Sei que é passageiro, amanhã estarei eu fazendo o que sempre faço, desempenhando esse papel pequeno no pequeno planeta azul. A humanidade não saberá quem eu fui. Do nada ao nada, sendo nada all along. Foda-se, se é o que eu quero ser, então foda-se o resto. Acho que eu preciso de um cigarro. Sempre bem-vindo depois de um filme.