sexta-feira, 22 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE IV

Nem rolou, ó...

 A caixa de madeira antiga que queria comprar foi vendida. E não foi a minha irmã que comprou, ou seja, me ferrei. Alimentei sem saber uma grande decepção na minha cabeça e estou frustrado. Mas não muito, agora a alternativa de realmente fazer uma caixa personalizada pelo marceneiro que mamãe conhece se faz para mim a única opção. Ela perde em termos históricos, mas ganha em ser única e ganha em história também por fazer parte mais diretamente da história toda da qual faz parte. Sei que isso parece meio estranho, mas você vai ter que confiar em mim nessa parte. Infelizmente não vai ser uma caixa dos anos 30 ou 40, mas vai ser uma caixa feita especificamente para o evento mais embaraçoso da minha vida. Eu sei que você ficou curioso(a). Mas vai ficar, pois esse é assunto do Desabafos do Vate. Sorry. Bom, estou na sala com dois físicos assistindo “The Big Bang Theory”. Muito apropriado. É a primeira vez em que vou estar na mesma sala em que um episódio inteiro do seriado está passando. O seriado acabou de acabar. Assisti por tabela quase todo, é engraçado, mas você sabe como eu sou com piadas, as compreendo, mas não costumo rir por causa delas, o que me faz rir são coisas muito mais inusitadas e fora do comum, meu senso de humor é meio inclassificável. Eu mesmo não sei o que me faz rir por ser tão raro. Ontem eu ri com mamãe e minha irmã, nós tivemos uma crise de riso por causa de uma besteira, foi ótimo. Rir é um prazer imenso para mim, pois, como já disse aqui, é tão raro. Gostaria muito de lembrar porque rimos ontem (ou anteontem) mas não consigo me lembrar, acredito que foi uma história que mamãe contou. Bizarra. Acho que foi isso. A forma como eu e minha irmã a interpretamos. Sei lá e embora me importe, pois queria descobrir quais “botões” emocionais me fazem rir, agora é tarde demais para me lembrar. Rapaz, fiquei surpreso com a caixa ter sido vendida. Foi um golpe estranho do destino. Realmente inesperado. Mas não do tipo que eu ache graça. Mas, de repente foi para melhor. Quem sabe o marceneiro não faça uma caixa realmente bonita, de uma madeira boa, brasileira, vamos ver. Pelo menos as dimensões vão ser precisas para o que pretendo colocar nela.

2h25. Estou morto aqui e pretendo ir à Marienplatz amanhã em busca do perfume que me foi encomendado, acho que tem uma Lidl, a loja que a usuária do CAPS me disse que vendia o tal perfume não muito distante da Karlsplatz.

3h05. Preciso dormir, mas estou sem sono. Mas acho que se me deitar eu durmo.

3h53. Me perdi pela internet. E não consegui dormir, como é óbvio. Acho que vou fazer isso agora, mas antes um último copo de Cherry Coke.

3h59. Está tarde, muito tarde. Espero não acordar com o barulho dos meninos – e dos adultos – daqui a pouco. Eu combinei com a usuária do CAPS que iria na Lidl hoje e que daria uma resposta hoje. Preciso fazê-lo. Pelo menos pretendo. Acho que vou conseguir, mesmo que acorde com sono na hora do almoço. Isso depende também dos planos de mamãe. Talvez minha irmã ache prudente acompanhá-la ao shopping que quer ir. Se isso se der realmente consentirei e a acompanharei. Preciso ir no Edeka antes para comprar mais Cherry Coke. Afinal, não sei de que horas vou chegar. 4h18. Nada de sono. Nada para escrever também. Estão havendo terremotos no México e parece que haverá nos EUA também. Vou encher meu Vaporfi, o líquido está quase acabando.

4h24. Enchi o Vaporfi, quase transbordou, vacilei. Pensei que tinha perdido o tubo, mas estava no banheiro. Esqueci lá da última vez que enchi. Ainda bem que fora do alcance das crianças. Estou com uma vontade danada de não dormir. Mas acho que vai ser o maior vacilo que eu posso dar. Melhor algumas poucas horas de sono que nenhuma. E podem ser muitas horas de sono se eu dormir até o almoço. Pela hora que mamãe foi dormir, bem mais que duas da manhã, aposto que ela não vai ao shopping amanhã. Ou, pelo contrário, para ajustar o seu relógio biológico, ela queira ir para evitar dormir à tarde. Sei lá. Veremos. Sei que quero ver se como um Big Tasty Chicken amanhã e sei lá mais o quê no McDonald’s. Espero que não esteja tão lotado, afinal estará rolando a Oktoberfest e espero que a maioria dos turistas esteja por lá. Novamente, veremos. Caraca, por que não estou com sono? Será o Vaporfi ou será a Cherry Coke? Sei que vou botar mais um pouco do delicioso líquido para mim.

4h54. Bebi o último copo de Coca antes de me deitar. Só falta comer dois gelos. Mas continuo sem sono. Meu ombro dói, entretanto, indicando que é hora de dar um tempo. 5h00. Daqui a uma hora, hora e meia, os meninos acordam. Preciso estar em sono profundo até lá.

5h03. Me peguei envolto em pensamentos outros e automaticamente coloquei outro copo de Coca para mim. Só me dei conta do que fazia quando fechava a garrafa. Ozzy. Agora vai ser pelo menos mais meia hora acordado. Estou quase dando esse virote. Uma das melhores coisas que Munique tem a me oferecer é Cherry Coke, que bebida divina. Achei a daqui mais gostosa que a dos EUA, não sei por quê. Talvez pelas memórias agregadas. Por falar em memórias... deixa para lá. O que será, será. Estou pensando em dar um rolé pela estação central de trens de Munique, já que a Lidl fica tão perto dela. Só para ver o que a imigração dos vários refugiados aceitos pelo país está causando. E não há lugar melhor averiguar isso que a estação central que nem ouso escrever o nome em alemão aqui, é muito complicado, não memorizei, sei mal e porcamente falar o seu nome, escrevê-lo são outros quinhentos. Mas vou procurar no Google. Hauptbahnhof. Acho que é esse.

5h27. Já fiz a imagem desse post. A caixa com um “X” vermelho em cima. Acho que esse será o assunto principal do post. Quem sabe não tire algumas fotos da cidade amanhã? Talvez. Não sei se levarei meu celular. Mas já o deliguei com esse intuito. Como vou para as bandas da estação central, onde o baixo clero se reúne, não levarei a GoPro. Não vou arriscar ser assaltado e perder a câmera do meu amigo cineasta. Nem teria coragem de filmar a galera de lá. Seria passível de receber algum tipo de retaliação violenta por fazê-lo. Então deixarei a câmera em casa. Bom, vou me deitar para ver se durmo. Inté mais tarde. 5h36.

6h20. Não consegui dormir. Fiz um café instantâneo para mim. Agora vai ser de virote. Está decidido. A não ser que eu seja acometido por um sono muito forte, o que acho difícil. Bem, do que falaremos agora? Coloquei mais um link afiliado, embora os lançamentos mais caros já tivessem sido anunciados no meu recôndito e por pessoa outra que não o cara que estava me predando anteriormente. Ou seja, há dois predadores agora no meu último recôndito. Parece que o tempo das comissões já passou para mim. Se eu conseguisse transformar todas as que converti em dinheiro, me dava por satisfeito. Mas isso está longe de acontecer, tanto em espaço de tempo quanto em desistências de pedidos que devem acontecer muitas até lá. Tomara que não, mas as estatísticas não me deixam muito otimistas, tirando até pelo meu caso, que desisti já de umas quatro estátuas. Uma porque consegui comprar pelo mesmo preço no eBay. Duas outras porque achei feios os resultados finais, outra porque havia encomendado o busto do Hulk, a que mais me doeu cancelar porque queria muito a figura e outra ainda que me lembrei que desisti e comprei de novo. Foi a que penso em dar para o filho da fantástica faxineira. Mas ainda não me decidi sobre o assunto. Quero trocar a estátua por seu futuro, estimulando-o a estudar e ser um dos melhores da turma. Como saberei se ele cumprirá o prometido? A fantástica faxineira pode me mostrar os boletins. Por que darei esta estátua? Porque estava pensando em vendê-la em primeiro lugar, segundo porque acho que já terei estátuas demais para exibi-las do jeito que eu quero. Talvez precise de duas prateleiras para expô-las todas a contento, o que não era a minha ideia inicial. 6h43. O pessoal está demorando para acordar hoje. Bom para os pais, que podem dormir um pouquinho mais. Hoje é um dia que promete. Promete que eu passe o dia inteiro zumbi. Hahahahaha. Já estou me sentindo meio zumbi agora, imagina daqui a sete horas. Mas quero falar um pouco mais de bonecos. Estou em cima do muro em relação à Red Sonja. Mas o sorriso de Mona Lisa dela me ganha. É uma expressão muito difícil de se alcançar. Tenho muito medo da pintura da produção em massa da figura. Isso pode arruinar o efeito. O controle de qualidade tem que ser perfeito para essa peça. A pintura da cabeça especialmente precisa ser perfeito ou o efeito se perde. E estou com muito medo da aplicação das “sardas” dela. De toda sorte vou arriscar. O Swamp Thing (ou Monstro do Pântano, mas é muito mais fácil de digitar em inglês, por isso uso e usarei em inglês mesmo, podem achar pedantismo, mas é só preguiça) pode sofrer do mesmo problema do Hulk, a caixa ser muito grande para ser despachado como bagagem, mas acho que ele ainda passa. Vou apostar nisso. O preço dele é que pode me assustar. A pintura não é muito preocupante, pois ele é uma maçaroca de verde com marrom em tons muito parecidos então não acho que vai ter muito problema se a pintura for meio peba. Mas como está na categoria Maquette e é grande, deve custar os olhos da cara e ter um controle de qualidade mais apurado. Aliás, parece que a Sideshow criou vergonha na cara e está mais cuidadosa com a sua produção em massa. Teria uma última figura que eu queria, mas essa, só se eu converter todas as minhas comissões, que é o Batman Beyond versão Golden da Prime 1 Studios. Essa certamente é grande demais para ser enviada de avião e o frete deve custar uma pequena fortuna. Então estou relativamente conformado que não terei essa estátua na minha coleção. Seria a outra center piece da minha coleção, junto com o Hulk. Colocaria o Batman na parede oposta à do Hulk. A estátua é gigantesca, 83 cm de altura com a sua base cavalar que, sinceramente acho excessiva. Vi o tamanho da caixa e ela excede em quase 20 polegadas o tamanho permitido para bagagem, o que é um bocado. Mas talvez passasse, com um pouco de boa vontade do atendente do check-in. É exatamente do mesmo tamanho da caixa do busto do Deadpool somando as medidas todas, só que distribuídas de maneira diferente. Me preocupa agora o Swamp Thing que deve ter caixa das mesmas dimensões. Só se meu irmão viajar de American Airlines e pagar a taxa por bagagens de tamanho maior que o permitido, que é bem menos do que eu pagaria para ter a estátua enviada para cá. 7h18. Daqui a pouco vou fumar um cigarro lá fora. Já se faz dia firme na Alemanha. Ouço barulhos do outro lado da porta, apesar de estar com o som ligado, mas bem baixinho. Ou num volume que me é agradável a essa hora e nesse estado que estou. O sono começa a bater agora. Que ozzy. E estou com vontade de ir no banheiro, mas vou me segurar aqui até que a família tenha partido para deixar as crianças. Acho que já-já vou preparar um outro café para mim. Ainda estranho que a minha sobrinha tenha agarrado a perna errada – a minha – e mesmo depois de ter se apercebido disso se manteve abraçada a ela. Achei que foi um gesto de carinho para comigo. Gosto também do fato de ela não me chamar de tio, apenas de Mário. Agora entendo o Imperador da Casqueira que odiava ser chamado de tio. Não me vejo como tio dessas crianças ou de criança alguma for that matter. É um título muito carregado de responsabilidades para mim, responsabilidades que não carrego nem encontro em mim. Supõe também uma disponibilidade que não tenho para com os infantes. Prefiro que me vejam apenas como Mário, um cara da família, mas sem posto hierárquico definido. Até porque não assumo a postura de tio com eles, mal converso e nunca os chamo para nada, muito menos para brincar, ou seja, não ajo como tio como aposto que eles estão acostumados que tios façam. Tanto melhor para mim. Tomara que continuem assim até que fiquem adultos. Mas aposto que quando estiverem um pouco maiores, com uns cinco anos e entenderem melhor a estrutura familiar, começarão todos a me chamar de tio, o que vai ser um saco e meio difícil de desfazer. Nossa, já estou na quarta página. Vou botar uma imagem do Batman Beyond para ilustrar este trecho do texto. Meu ombro dói. O sono aumenta. Chega a hora de um café. Vou salvar e redimensionar a imagem do Batman. Um momento. 7h43.


Objeto de desejo. Inacessível ao que tudo indica.


7h46. Pronto. A imagem vai ficar aí em cima. Certamente um objeto de desejo. E mais certamente um impossível de conquistar. Não me incomodo muito se não conseguir. Não teria como expô-lo devidamente protegido por vidro e devidamente longe do alcance das crianças. Talvez até tivesse. Não acredito que o meu sobrinho que o alcançaria, que já está com cinco anos, faria alguma idiotice como quebrar o vidro. Veremos. Se conseguir vai ser só no final do ano que vem se ainda restar algum. Mas acho que é um boneco que não vai vender muito, a maioria já comprou a versão normal dele, então vai preferir comprar outro personagem da coleção do que uma duplicata dourada. Mas se acabar nem me frustro pois tenho o Batman bem representado pela minha coleção de Batmans Black & White. São pequeninos, mas esbanjam personalidade. Certamente não têm a presença que um Batman de proporção 1/3 dourado possui, mas não deixam de chamar a atenção se bem organizados. Gostaria de colocar essa parte preta e branca da minha coleção, que conta ainda com um Coringa e uma Harley Quinn numa prateleira preta ou branca com luzes brancas sobre elas para que os tons de preto, branco e cinza fiquem ressaltados. Vai ficar legal, eu acho. Mas para isso, preciso ter todos eles aqui. Aliás, planejar o meu quarto como o planejo, só com todas as minhas estátuas e bonecos aqui. Onde as caixas caberão, eu não sei. Onde guardar as caixas depois de tirar os bonecos eu já sei, só não negociei ainda. Nem sei se vai ser aceito pela outra parte. Tomara que sim. É a única maneira que tenho de revender essas estátuas no futuro distante quando achar que estou perto da morte. A não ser que algum dos meus sobrinhos se interesse por elas. Deixarei de bom grado para ele(a). Seria engraçado se minha sobrinha se interessasse pelas estátuas. Hahahahahaha. Iria ser a maior dor de cabeça trazer as peças aqui para a Alemanha. Mas acho que acabarei tendo de revendê-las mesmo. Não sei onde exporei o Swamp Thing. O único lugar que me ocorre é ao lado da TV, mais abaixo da prateleira dos bonecos, ou se couberem todos numa mesma prateleira ótimo. Eu posso inverter o lado do quarto onde as estátuas ficarão, para que assim fiquem do lado da minha cama e, do lado oposto, o da parede da porta, colocar os bonecos menores, de PVC, os Batmans P&B e quetais. Pois o busto do Hulk vai obrigar a prateleira a ser mais elevada do que eu gostaria. Se bem que posso botar o Hulk mais rebaixado, como pretendo fazer com a TV. Veremos, veremos. Mas acho quase que indispensável, até por causa da iluminação personalizada para cada uma, que estejam todas as estátuas pelo menos aqui. Haverá quantas na casa do meu irmão? Skeletor, Captain Marvel, The Thing Maquette, Boba Fett (que penso em dar para o filho da fantástica faxineira), talvez Red Sonja e talvez Swamp Thing. Não sei, acho que está faltando algo. Sei que há algumas menores, como o Legend of Jimmy Legs e o Spider-Man Symbiote, um ou dois Batmans B&W e um monte de bonecas de PVC. Um monte. Algumas que nem quero e outras que quero muito. Sem dúvida tenho que ir visitar o meu irmão ver o que tenho realmente lá para separar o joio do trigo e trazer o máximo de figuras que puder.

8h54. Meu cunhado foi deixar os petizes no colégio e minha irmã ficou para levar mamãe ao shopping. O problema é que mamãe foi dormir muito tarde e ainda não acordou. O que deixou a minha irmã indignada, pois havia se planejado toda para ir a um shopping porradão, só que ela queria ir cedo para voltar cedo e aproveitar os filhotes. Vamos ver se mamãe levanta antes das dez. Talvez assim ainda dê para ir. Sei não, minha irmã não pareceu muito otimista.

10h34. Vamos ao shopping, minha irmã, mamã e eu. Saco. Mas pelo menos eu não durmo. O clima está chuvoso, é uma desculpa para não ir à Lidl. A não ser que passemos por uma Lidl. Aí eu peço para darem uma paradinha. Lembrar de procurar.

18h16. Finalmente cheguei em casa, estou bastante cansado. Mamãe e minha irmã ficaram no shopping e ainda estão lá. Pobre da minha irmã, que planejava passar o dia com os filhos, e coitada da minha mãe que amanhã aposto que não vai conseguir nem andar. Comprou um casaco que é a Ferrari dos casacos de frio e sabe-se lá mais o quê. Eu que queria uma caneca do Zelda Wind Waker cujos desenhos apareciam com o calor, acabei sem comprar, por achar supérfluo demais. Saí de lá logo depois do almoço, não comi no shopping com eles, queria comer um sanduíche especial que não tinha no McDonald’s de lá, mas tinha na Karlsplatz, onde em teoria haveria também o jogo que queria dar para o meu cunhado, segundo o cadastro da Gamestop do shopping e da própria Gamestop da Karlsplatz, mas a moça procurou o jogo em tudo quanto é canto da loja e não encontrou, pedindo mil desculpas disse haver um erro no cadastro. Daí parti atrás da Lidl e dos perfumes da minha amiga do CAPS. A loja ficava no subsolo de um prédio perto da Hauptbahnhof, já havia tipos meio soturnos nas redondezas, nem me aventurei na estação central, pois carregava a câmera do meu amigo, com a qual não captei nenhuma imagem. Estivera eu sem ela, acho que me arriscaria a um rolé lá. Ainda farei isso durante essa viagem. Além de que nuvens carregadas se aproximavam no céu e quando entrei na praça sob a praça que existe na Karlsplatz, onde comprei os chocolates do meu padrasto, espero que quatro sejam suficientes. Ao sair estava chovendo uma chuva grossa para Munique. Me molhei todo. 18h55. Mamãe e minha irmã chegaram. Incrível quantas coisas compraram. Não imaginava nunca, ainda mais minha irmã dizendo que a maioria é dela. Quatro sacolas cheias de compras fora a sacola do super-mega-casaco. Estou destruído aqui. Sem dormir, cansado para caramba, todo assado entre as coxas de tanto andar. Velho gordo. Agora estou sem ânimo até para escrever. Para ir do shopping para a Karlsplatz peguei pela primeira vez um S-Bahn. É um trem de superfície ou metrô de superfície, sei lá, sei que me embananei para comprar o ticket – a máquina era diferente, assim como o bilhete – e para achar o trem certo dentre as 10 linhas que passavam por lá. Mas acabei descobrindo que a 5 e a 6 passavam pela Marienplatz e, melhor que isso, passavam pela Karlsplatz. E desci logo onde queria, pois na praça se localizavam tanto a Gamespot quanto o McDonald’s ao qual fui primeiro matar a minha fome. O resto é história já contada. O legal do metrô de superfície é que vi uma parte mais suburbana de Munique. Chegando aqui, os meus sobrinhos me botaram para ler histórias infantis para eles. Ainda bem que eram curtas e bobas. Tentei ensinar algumas coisas sobre algumas palavras para eles, como “suavemente” e “suculenta” e imitei o som dos bichinhos, como dizia o livro e ele me imitaram e fizemos um coro de pintinhos, porquinhos, cavalos, vacas e ovelhas, dentre outros. Pena não ter achado o jogo para o meu cunhado. Gostaria de assisti-lo jogando. Mas não tenho certeza se ele iria gostar. Acho que minha irmã talvez gostasse até mais do que ele. Sei lá. E não sei como ir na Odeonplatz ou coisa que valha atrás do jogo. Se é que tem lá mesmo. Não é outra falha no sistema da Gamestop. Quando for à Marienplatz de novo, peço para a moça averiguar para mim e confirmar com a outra loja antes de ir lá.

21h39. Vi meu cunhado jogando Avatar, baseado no filme homônimo, e achei um jogo muito ruim. A câmera é terrível, mas o preço deve ter sido bem baixo, deve ter custado menos de 10 euros. É o preço que se paga por se pagar tão pouco. Agora vamos assistir “John Wick: Chapter 2”.

23h05. Estamos ainda no filme, mas a galera está dormindo. Eu que não dormi a noite passada e estou assistindo o filme pela terceira vez sou o único desperto de fato.

23h16. Decidiram parar o filme. Vão dormir agora. Eu incrivelmente estou sem sono, mas acredito que logo mais ele me arremate. Preciso lembrar de comer o croissant antes. Com recheio de chocolate. Vai ser o meu jantar. Minha mãe não toma banho há dois dias. Hahahaha. Eu pelo menos tomei ontem. Mas hoje, nem pensar. Estou todo assado aqui. Vai arder. Espero amanhã estar melhor. E amanhã querem ir à Oktoberfest. Pelo menos brinco em alguns brinquedos. Eu acho. Até para isso perdi o tesão. Mas de tanto ver meu cunhado jogar games e ver lojas de videogames, me deu um pouco de vontade de jogar o novo Zelda.

23h42. Fui comer o croissant, estava muito bom e depois fumar um digestivo. Comprei Marlboro dessa vez. Muito melhor que o anterior, Gauloises. Não sei que cigarro compre para o meu amigo da piscina. Certamente não Marlboro. Ele quer uma marca daqui. Talvez acabe comprando o Gauloises mesmo. Não sei, decidirei. Tenho bastante tempo para isso. Antes de dormir preciso narrar um acontecimento no Desabafos do Vate sobre risco de me esquecer amanhã. E não posso esquecer algo tão... erótico.

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14h10. Dormi de óculos de tão cansado que estava. Hoje fui acordado relativamente cedo para tomar café da manhã que contou com várias guloseimas de padaria, como cheesecake, pão de baunilha, pão de nozes, e uma torta de chantili ou algo semelhante. Me bateu uma saudade de Areias agora. Preciso voltar lá. Com ou sem cola. Espero que sem. Não há necessidade disso e o pós-uso é horrível. Talvez vá quando o meu irmão for, porém não haverá lugar no carro para mim, pois a família dele é de cinco pessoas. Não sei como vai ser. Talvez ele vá ter que jogar as cinzas do meu pai sozinho – sozinho que digo é sem mim – e talvez explicar sobre a vida e a morte para os seus filhos, se esses participarem da “cerimônia”, que sem dúvida gerará um monte de perguntas nas cabeças inquisitivas dos pequenos. Não sei nem do que estou falando mais, fui pego por um turbilhão de pensamentos e estou com sono. Muito sono. Acho que vou tirar um cochilo de uma hora antes de ir para a Marienplatz. Sim, pretendo aproveitar o dia hoje que está mui belo para os padrões outonais daqui e dar um pulo lá. Minha irmã e minha mãe foram à Ikea. Meu cunhado vai passear com o meu sobrinho, talvez levá-lo para um playground o que não é muito a minha praia. Prefiro o centro de Munique mesmo. Poderia tirar um cochilo de uma hora e partir para lá. Acho que vou fazer isso. 14h30.

15h10. Não sei se leve a câmera, melhor poupar bateria para amanhã na Oktoberfest.

19h50. Estou em casa e fiz uma verdadeira peregrinação para achar o jogo que queria dar para o meu cunhado e findei por comprar o jogo errado. Hahahahaha. Comprei um que não era para a Balance Board. Hahahahaha. Pelo menos conheci o lugar onde se deu o atentado recente em Munique. Vi o McDonald’s onde o tiroteio rolou e tudo o mais. Quase fui lá tomar um milk-shake sem saber. Só soube quando minha irmã contou quando aqui cheguei. Peguei pela primeira vez U-Bahns que não o 6. Usei o 7 e o 1 para chegar e voltar desse lugar que nem sei como escreve. Era a última parada das linhas.

23h12. Acabaram de assistir “John Wick: Chapter 2”, melhor dizendo, acabamos, pois eu assisti também. Estou cansado e sem muito o que escrever. Poderia ter detalhado mais a minha aventura atrás do jogo, mas realmente estou sem saco. Amanhã tem Oktoberfest, pode ser que minha irmã capte imagens legais minhas. Levarei a GoPro com certeza. Espero que não chova. Se bem que a GoPro é à prova de chuva, não tem problema. Depois de relatar a Oktoberfest, eu reviso e posto este texto.

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17h04. Não fomos à Oktoberfest. Mamãe foi às compras, especialmente para comprar calças e até agora, desde o meio-dia não o fez. Quando a encontrei na Galeria Kaufhof às 14h00 só havia comprado duas blusas, às quais trouxe. Mamãe me deu 20 euros para comprar outra parte essencial do meu projeto paralelo, mas como o dinheiro não daria e eu precisava testar o tamanho, resolvi comprar com o restante do dinheiro as Cherry Cokes para hoje e amanhã e duas carteiras de cigarro, uma para mim e outra para o meu amigo da piscina. Como o cigarro é muito caro aqui, tive que usar boa parte das moedas da carteirinha de mamãe. Acho que não há mais moedas de um ou dois euros nela.

17h43. Fui levar o lixo de casa para dos depósitos de lixo do condomínio. E vi um menino tentando pela primeira vez andar de skate. Digo que é a primeira pela total inabilidade e desconfiança dele com o brinquedo ou equipamento esportivo, sei lá. Derrubei um dos baldes de papel e derivados quando fui despejá-lo no depósito e a tampa se fechou na minha cabeça. Agora o balde está quebrado. Não sei se já estava antes, mas agora está. E tive que catar metade do seu conteúdo do chão e derramar dentro do contêiner numa nova e bem-sucedida tentativa. Pena ter quebrado o balde. No mais, nada de mais fascinante aconteceu. Não vi nenhuma garota que me chamasse a atenção. Também não prestei muita atenção. Acho que vou ficar por aqui. Tenho que revisar sete páginas de Word.

19h43. Mamãe chegou há cerca de 20 minutos. Conseguiu comprar uma calça, as demais estavam muito caras na sua opinião, além de uma camisa e uma caneca para o meu padrasto. Tem uma moda que não gosto, acabei de concluir ao ver duas mulheres com elas, botas, quanto maior o cano, mais feias ficam. É algo muito europeu, mas não acho nada charmoso, acho simplesmente feio. Já as roupas tradicionais do período de festividades da Oktoberfest, acho as das mulheres bonitinhas e as dos homens simplesmente ridículas, mas eles as usam com muita dignidade e honra, como se realmente o fato de estarem trajados daquela forma peculiar, digamos, significasse algo culturalmente muito profundo para eles, mais até que para elas. Pelos menos é assim que percebo. Elas parecem mais estar vestindo roupas festivas, como fantasias de carnaval, enquanto os homens parecem estar vestindo armaduras ou qualquer coisa que os torna mais cavaleiros e mais defensores da tradição de seu povo. Eles e elas se sentem bastante bem com a indumentária, isso é certo. Vamos assistir agora o segundo “Planeta dos Macacos” da nova trilogia. É bom que vi o último com o meu amigo gordinho na primeira de nossas sessões mensais de cinema – que espero retomar assim que voltar ao Brasil – e vejo se há alguma ligação entre os filmes, além da presença de Caesar.


23h28. Há uma conexão entre os filmes, eu achei, só não vou contar porque detesto spoilers. Bom, vou ficando por aqui. 

terça-feira, 19 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE III

23h10. Minha irmã fala com a parte norte-americana da família pelo onipresente WhatsApp.

23h39. Acabou a conversa. Estão todos se retirando para dormir.

23h51. Todos foram dormir aparentemente. Tenho a casa só para mim, como gosto, mas também me sinto cansado e com sono, logo, não conseguirei aproveitar esse sentimento por muito tempo. E aproveitar o quê, se não faço outra coisa senão escrever, coisa essa para a qual não acho a mínima inspiração no momento. Acho melhor dormir e acordar mais cedo e disposto amanhã. Talvez para fazer novo passeio pela Marienplatz. Não sei se vão haver programas agora que o meu cunhado tirou uma semana de férias. É bem provável que sim, talvez já a partir de amanhã. 0h06. Vou tomar mais um copo de Cherry Coke e ir dormir. Tenho que lembrar de levar “O Mundo de Sofia” de volta.

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6h28. Acordei há uns 40 minutos. Estou e não estou com sono. Daqui a alguns minutos, os meninos acordam e com isso seus pais. Hoje é segunda-feira. Está chuvoso o clima, pelo que pude averiguar lá fora quando fui fumar um cigarro. O primeiro da carteira que era para ser destinada ao meu amigo da piscina. Terei que comprar outra para ele. Não é um cigarro bom, queima muito rápido. Só tem como curiosidade o fato de o fumo não chegar até o filtro, acabar antes, reduzindo assim, creio eu, a possibilidade de uma guimba causar um incêndio. Vou mostrar uma caixa que eu achei, dos anos 30 ou 40, de uma marca daqui, com dimensões bastante aceitáveis, 33 x 22 x 17 cm, aproximadamente. Bom, até eu descobrir, a página da caixa vai ficar aberta no Chrome. Como há agora, deixe-me ver, 23 abas abertas no browser contando com a da caixa. Por que tantas? Eu honestamente não sei, tem algumas que não revisito há séculos, outras que revisito quase todos os dias, mas todas para mim têm alguma utilidade quando o momento apropriado se dá, como a de conversão de medidas que vez por outra eu uso para descobrir o peso e as dimensões de um boneco em quilos e centímetros. Acho que vou dormir mais um pouquinho. Estou com fome e preferiria fazer um café para mim. São 7h47 da manhã. Ouço as vozes dos meninos, já ouvi a voz do meu cunhado e acho que agora ouço a da minha irmã. Não sei se saia e faça o café para mim ou espere eles partirem para fazer isso, não quero arruinar o único momento que têm de ser apenas os quatro como de costume são, sem a minha presença e a da minha mãe. Estou quase cochilando aqui na frente do computador. Acho que quando eles saírem vou tomar um café e depois dormir mais um pouco. 7h57. Que horas os meninos têm que estar na escola? Espero que não mais que 8h30. Quero sair pra tomar um café. 8h13. Vou sair para fazer um café. Eles ainda estão aqui. Dane-se. Eita, que o menino começou a chorar. Não vou mais agora.

8h40. Fui, primeiro fiz o meu café, depois falei com todo mundo. Acho que a caixa ainda é muito pequena em uma das dimensões. E a ilustração não tem nada a ver. O legal seria que a caixa seria muito antiga e alemã, definitivamente one of a kind. Vou pedir consultoria à minha irmã. E o preço está em conta. Refiz os cálculos e, se eu puser o conteúdo na vertical, ele caberá perfeitamente.

11h11. Escrevi um bocadinho no meu projeto paralelo, tomei café da manhã, um longo café da manhã onde conversamos bastante... sobre games. Mamãe inclusive. Foi divertido, embora realmente quisesse voltar para escrever. Meu cunhado joga um game de Wii, que chamam “Vii” por aqui, um Wii Play para Motion Plus, que não sabia nem que existia. É bem mais complexo que o Wii Play original e, enquanto o meu cunhado o esteja achando superdivertido e desafiante, eu não vejo a mínima graça em jogar. Acho muito divertido assistir, mas controlar efetivamente o jogo não me desperta nenhuma vontade. Isso é tão estranho a mim. Eu normalmente estaria louco para jogar. Ou melhor colocando, no passado, quando eu via graça em videogames, eu estaria louco para jogar, mas hoje sou uma pessoa diferente nesse aspecto. Videogames são como piadas para mim, eu consigo ver e entender a graça, percebê-la, mas não senti-la, não me provocar o riso, no caso da piada, ou a vontade de jogar, no caso do game. É precisamente assim que me sinto em relação a uma coisa e outra. Acho que realmente estou me tornando um cara chato.

12h13. Meu sobrinho chegou do colégio e meu cunhado está jogando com ele, sei bem como é tedioso ensinar e assistir crianças pequenas no mundo dos games. Pelo menos para mim. Não sei se fosse um filho meu eu me sentiria de uma forma diferente, mas acho difícil. Não sei nem se eu gostaria que meu filho jogasse videogames, se tornasse secão como eu... era. Não consigo me concentrar direito na escrita com a jogatina. Mas tentarei. Não sei se ainda sou secão por videogames. No momento me encontro bem distante disso, videogames ainda me atraem, mas mais como observador. Gosto dos gráficos, não gosto dos desafios. Da dificuldade. Acho um estresse desnecessário e inútil, não consigo ver mais como diversão. É curiosa essa mudança de paradigma. Espero que não seja algo permanente. Gostaria muito de ver o meu tesão por games voltar. Talvez quando entediado no meu quarto-ilha, eu me anime. Talvez o novo Zelda, se meu irmão mandou, ou o Persona 4. Não sei. Só sei que agora não estou com a mínima vontade. O melhor videogame para mim é o Word no momento. E que momentozinho demorado esse, viu? Mas, mudando de assunto, desligaram o videogame aqui, são 12h55 e minha irmã prepara algo cheiroso na cozinha. Escrevi “piscina” em vez de “cozinha”, acho que fiquei impressionado com a história que me contaram sobre as piscinas públicas a que mamãe e minha irmã foram ontem. Fiquei curioso em ir, mas não trouxe bermuda apropriada para a ocasião. Não trouxe bermuda nenhuma, nunca imaginei que poderia tomar banho de piscina aqui no frio outonal. Bom, se houver uma próxima vez eu trago uma bermuda, a fantástica faxineira chegou até a separar uma, justamente a que escolheria para tomar banho de piscina, mas disse para não colocar na mala alegando que não usaria bermudas aqui. Doce ironia. Poderia ter pedido uma bermuda do meu cunhado, mas acho que ficariam apertadas em mim e não me senti à vontade para fazer tal pedido. Em verdade não achei que as piscinas seriam tão interessantes e cheias de recursos. Como correntezas, jatos para massagem e cadeiras com bolhas saindo por debaixo. Tudo isso sem esquecer, claro, que as piscinas são aquecidas. Eu acho que as pessoas aqui andam em média mais rápido que no Brasil, talvez porque andem mais, o transporte público funciona de verdade aqui. Então, para a maioria das coisas, não é necessário ter carro. Principalmente vivendo onde a minha irmã vive, com um metrô na calçada de casa e um local com supermercado, correios e outras lojinhas a menos de 500 metros de casa. Estou meio lento de raciocínio, acordei de 5h45 hoje. Minha irmã pesquisa passagens para os EUA para visitar o meu irmão. Parece que achou uma por um preço interessante.

Eis a tão falada caixa. Será que a conseguirei? Será que é tão interessante assim?


13h34. Minha mãe fala com o meu padrasto pelo telefone, tentando fazer com que meu padrasto, que não acha nada, localize algum tipo de documento. Minhas mãos estão frias, tem sido assim ultimamente, inclusive no Brasil. Dizem que isso é um sinal de algo negativo para a saúde. É, coisas da idade. Tenho medo de morrer antes da conclusão do meu projeto. Aliás, não tenho medo de morrer, mas não estou muito a fim de morrer agora, minha vida está boa. Estou em família e isso é bom. Estou em Munique e isso também é bom. Não cruzei com os meus vizinhos e isso é ótimo. Vamos receber uma visita dos sogros da minha irmã e isso não é muito ruim. Minha irmã, filha do meu padrasto vai vir visitar-nos, isso acho que será melhor ainda, pois não haverá espaço no carro para todo mundo e eu poderei ficar em casa. Ou ir à Marienplatz. Não quero fazer programas em família. Não gosto de programas em família. Acho um saco programas em família. Acabo me divertindo às vezes, mas, via de regra, não acho graça nenhuma. Se for para ir a algum lugar para comer, ainda me animo, mas eu estou muito mais para o personagem de “Ouro de Tolo” de Raul Seixas. “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã eu acho tudo isso um saco...” acho a minha cara hoje em dia. Com exceção dos grandes primatas que, como já disse aqui, me causaram forte impressão por causa de suas “humanidades”, o resto eu acho um saco mesmo. Espero não ter que participar de muitos programas assim. Se possível, nenhum. Vou ver se minha irmã compra a caixa ainda hoje. Queria era tirar um cochilo depois do almoço, mas planejo ir ao Edeka levar as garrafas para pegar o depósito pelos vasilhames secos e comprar mais Cherry Coke.

15h19. Tivemos um almoço abrasileirado preparado por minha irmã. Um feijão com linguiça e charque, porco frito, torresmo, arroz e farinha. Estava uma delícia. A fome ajudou e foi um bom tempero. Agora todos descansam um pouco. Mamãe no quarto com as compressas quentes nos joelhos (as compressas aqui são de pano cheias de sementes de uva e podem ser esquentadas no micro-ondas), os demais brincam e descansam atrás de mim. Agora estão mais despertos.

15h35. Estou a fim de tirar um cochilo. Mas não muito.

18h03. Dormi até agora. Acordei com a chegada de minha irmã e sua turma que haviam saído.

19h54. Fomos mamãe e eu ao Edeka. Eu só pretendia comprar Cherry Coke e Manner, mas mamãe comprou coisas como dois potes de sorvete porque estavam em promoção e dois galetos crus para um suposto churrasco, sem nem saber se havia espaço na geladeira, que está abarrotada das compras de anteontem, além algumas outras coisas menores. Ia levar uma bota para o meu sobrinho, mas a fiz ligar para a minha irmã para se informar se a bota realmente caberia nele e acabou que não era o número certo nem havia o número certo no supermercado. Uma coisa a menos. As garrafas que levei para resgatar o depósito renderam 5,68 euros de desconto nas compras. Mais do que eu gastei comprando as Cherry Cokes que renderão, cada garrafa vazia, 15 centavos de euro. A única complicação com preços aqui é com essas garrafas retornáveis, pois vem o preço do líquido e embaixo, bem pequenininho, o valor adicional de depósito reembolsável pelo “aluguel” da garrafa. Pensei até em filmar o caminho do Edeka, não sei se pode filmar lá dentro, mas já estava escurecendo, vi que a luz não ia ficar boa quando passei pelo desenho que filmei quando da minha ida à Marienplatz. Quero ver onde a minha irmã, filha do meu padrasto vai dormir. Espero que não comigo, mas não vejo muita alternativa. A sala é o maior cômodo da casa. O único onde caberia mais um colchão. Por sinal, tenho que fazer uma coisa, se for realmente fazer, antes de ela chegar aqui. Vou tentar ir à Marienplatz essa semana. Minha irmã me ofereceu novas opções de caixa (de metal) da Coca-Cola, estilo vintage, mas novas. Latas, em verdade. E latas enferrujam, principalmente na quentura e umidade de Recife. Não quero latas, quero a caixa de madeira dos anos 40. Estou conversando com a minha irmã sobre o assunto, ela pareceu não se ofender com a ideia da caixa, parece ter percebido que eu estou com ideia fixa nela e parece não se incomodar com isso. Espero que ela compre a caixa nos próximos dias. Mas vou deixar essa fixação com a caixa. Fiz o que eu tinha que fazer.

22h00. Estamos assistindo o programa de um inglês que vive nos EUA e faz críticas aos EUA com muitas piadas, ele ganhou o Emmy por melhor show de variedades este ano. O que estamos assistindo agora é sobre a indústria de galinha nos EUA. É difícil escrever com a TV, mesmo que esteja em inglês. A TV realmente captura a minha atenção. Até porque o cara é bem teatral e chamativo. 22h16. O programa acabou. Estamos conversando sobre problemas financeiros, não pessoais, mas dos EUA.  

23h22. Todos se retiraram para os seus quartos, a casa é minha uma vez mais. Tenho banheiro, cozinha e sala de estar à minha inteira disposição, me sinto um reizinho. Tentei me lembrar da palavra “agiota” por mais de uma hora e não consegui. Assistimos um programa do cara que se chama “Last Week Tonight” ou coisa muito parecida. Está rolando a música tema de Clementine, “Menina Bordada” de Marcelo Camelo. Desde a época do Orkut essa música está atrelada à sua pessoa. Não tem como ouvir e não lembrar instantaneamente dela. Mas não tem mais nada a ver, acho que só penso nela com mais ênfase esses dias por causa do sonho que tive. Um que se transformou num pesadelo, como todos os meus sonhos. Longe estão os tempos em que eu me dava bem no final dos meus sonhos. Em que acordava decepcionado com a realidade, por se afigurar menos interessante ou desejável que a do sonho. Pelo menos esse choque eu não tenho mais, acordo aliviado em constatar que a realidade é melhor que o sonhado. Tem pelo menos esse lado bom. Mas gostaria de saber de um psicólogo se isso tem algum significado oculto. Provavelmente iria me perguntar o que eu acho que significa. Acho que eu responderia que eu sou um derrotista, que no fundo me acho incapaz de alcançar, vencer, conseguir realizar os meus desejos. Por mais que realize alguns, aliás, a maioria deles, visto que são simples e dependem basicamente de mim. Mas há alguns que não consigo realizar de jeito nenhum. Um que vem se mostrando bastante difícil é me reapegar a videogames. Mas isso é uma questão que meio que independe de mim, em nível consciente, pelo menos. Embora possa fazer um esforço consciente e me forçar a jogar Persona 4, por exemplo. Vou ver se tento isso quando chegar em casa, no Brasil.

0h04. Fui encher o meu copo de Cherry Coke. É muito delicioso. E dessa vez não está havendo falta de Cherry Coke no Edeka como das vezes anteriores. Ainda bem. Eu mesmo desmereço os jogos, que em verdade considero como expressões artísticas, não botando aspas em seus nomes, como faço com as demais formas de arte que cito aqui, músicas e filmes, basicamente. Às vezes um livro. Também não boto entre aspas o nome das estátuas que menciono, embora considere tão arte quanto Andy Warhol. Sei que isso é heresia, mas penso que são formas de expressão artística, especificamente as que são esculpidas à mão. Mas acho videogames mais formas de arte do que as estátuas. De qualquer forma continuarei a não pôr aspas nos dois simplesmente porque é mais fácil de escrever assim e talvez, no fundo da minha cabeça eu mesmo tenha dificuldade em aceitá-los como arte. Especialmente os bonecos. Acho que eu mesmo acho que são brinquedos de adultos com dinheiro para gastar. Cada vez mais dinheiro, pois os preços não param de subir. Uma outra razão para desistir do colecionismo com as duas estátuas que me propus a adquirir. Mas já repeti tanto isso aqui que sei que me torno insuportavelmente redundante. Estou sozinho comigo mesmo e sem sono. Munique dorme. Deve ter uma parte de Munique acordada, mas não tenho acesso a ela, pelo menos não agora, não hoje. Meu limite nas ruas é o horário do metrô. Que fecha cedo, por volta da meia-noite, senão antes. Lembro que tem um horário bem específico, tipo 23h20 ou algo assim. Sei que perdi a hora uma vez e tive que me virar para pegar um ônibus e voltar para casa, graças aos céus encontrei um par de amigos que tinha um celular com internet e eles me indicaram onde e qual ônibus passava precisamente na rua da casa da minha irmã. Sorte seria eu ter me lembrado o nome ou o número do ônibus. O ponto do ônibus me lembro mais ou menos onde é. Não sei se lendo na placa que há na parada eu conseguiria me lembrar o nome do ônibus que volta para cá. Acho bastante improvável.

1h07. Achei um mapa das linhas noturnas de ônibus e descobri que o que passa aqui é o N40. O número me parece familiar, talvez tenha sido esse o que peguei. Quando for a Karlsplatz vou averiguar. Quem sabe amanhã, se não tiverem planos melhores para o dia. Por planos melhores leia-se planos que se sobrepujem aos meus. Eu sempre posso optar por ficar em casa, de qualquer forma. Mas se for um almoço, que não vai ser, pois mamãe comprou os dois galetos para assar, eu iria. A não ser que adiem os tais galetos e vamos todos a um restaurante. Acho difícil.

1h38. Fui ao YouTube ver o novo clipe de Björk e acabei vendo mais coisas sobre ela. Comi o resto do feijão do almoço que havia ficado na panela, sim, frio mesmo e minha mãe apareceu para ir no banheiro e me mandar dormir. Ela mesma estava acordada até agora “olhando casacos na Amazon”. Eu não estou com o mínimo sono depois do cochilo que tirei à tarde. Foi um sono profundo e revigorante.

2h00. Me perdi agora assistindo o review e todos os golpes especiais de Marvel Vs. Capcom Infinite. Vou ficar por aqui por ora. Talvez acrescente mais se for à Marienplatz amanhã. E mesmo se não for.

14h31. Acordei há cerca de meia-hora. Minha irmã brinca com meu sobrinho no chão da sala, ele tem um montão de peças de Lego, mamãe nos faz companhia. Estão agora na cozinha, deliberando o almoço. Confesso que acordei com menos tesão na caixa do que estava. Não me entenda mal, ainda acho a melhor das opções dentre todas as que vi, mas o calor de possuí-la esfriou. Noites de sono tem esse efeito sobre desejos meus, os aplainam trazendo-os mais para o campo do racional, a não ser que sejam coisas mais consolidadas, como o busto do Hulk ou a entrevista com o cara da pequena empresa de bonecos, que por sinal preciso contatar hoje. Vou até ver se ele está online. Estava até eu mandar a mensagem e ele sumir do mapa. Bom, é a vida. Quem sou eu e que influência tem o meu blog para que eu vá me aventando todo atrás de entrevistas com esses caras? Eu que já estive até bem na finta, hoje sou um cara que publica links afiliados. Dos píncaros da fama aos teatros de mais baixa roda. Hahahahahaha.



17h43. Ele respondeu, disse que ainda está muito doente, eu respondi que volto a me comunicar com ele no começo de outubro quando voltar para o Brasil, disse-lhe que estava visitando a minha irmã na Alemanha. Acho que este post está muito grande e consegui uma imagem para ilustrá-lo. Uma foto da construção de Lego que meu sobrinho fez. Vou revisar e postar por mais que minha sobrinha esteja gerando certo estresse agora.


20h15. Jantamos o que aqui é um dos tradicionais cafés da manhã, linguiças brancas, com mostarda doce, pretzels e cerveja. Eu fiquei na Cherry Coke, claro. E cometeram uma heresia a mais do que servir linguiças brancas após o meio-dia, deixaram algumas “estourarem”, ou seja, fizemos tudo errado de acordo com a tradição de Munique ou da Baviera, sei lá. Bom, vou postar, já dei uma revisada rápida e não vi ou não quis ver maiores erros. Devem haver, mas passaram em brancas nuvens para mim. 

P.S.: a pequenina hoje abraçou minha perna e, na hora de ir dormir, desejou "boa noite, Mário". Muito fofo.

domingo, 17 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE II

Começo o dia hoje com um take feito pela minha irmã dando uma geral na parte de trás de sua casa e na sala de estar onde me encontro escrevendo. Acho que ela já está entrando. Estou escrevendo só para não olhar para a câmera. O tempo se arrasta e ela está me captando bem de perto. Como sempre é intimidante a presença de câmeras. Mas estou mais confortável agora que ela estacionou e um lugar só. Vou para a Marienplatz depois da filmagem. E lá pretendo fazer mais alguns takes. Ela disse para eu ter cuidado com possíveis furtos. Acho que está bom. Mas ela que decide.

18h09. Fui à Marienplatz e caminhei, e caminhei e caminhei. Estava lotada já com clima de Oktoberfest, vi algumas pessoas já paramentadas ao estilo “tirolês” ou sei lá qual é o nome da roupa tradicional daqui. Entrei por várias e várias ruas e ruelas à procura do local que pudesse fazer caixas de madeira que coubessem cartas, sem sucesso. Alguns jovens aparentemente bêbados e de fora de Munique tomavam banho nas fontes da Karlsplatz, onde tentei um lanche do McDonald’s, mas estava muito cheio e isso tirou todo o meu ânimo. Turistas de todas as partes do mundo tomavam as ruas do centro histórico e comercial de Munique, ouvi os mais variados idiomas, vi asiáticos, muitos, americanos, italianos, franceses, pessoas do Oriente Médio, o mundo inteiro estava representado naquele espaço. Fiquei surpreso de não ter cruzado com nenhum brasileiro. Ou se cruzei, não me apercebi. Adorei andar de metrô novamente, ver as mesmas estações passando, nenhuma que eu tenha memorizado para digitar corretamente aqui. O cheiro peculiar do metrô também me era velho conhecido, assim como o cheiro de baunilha das tradicionais barraquinhas que vendem diversos tipos nozes. Tudo isso me deu novamente um gostoso senso de familiaridade, mas só pretendo voltar à Marienplatz após a Oktoberfest. E, para ser sincero, não há muito mais o que queira ver lá. O lugar que julguei poder vender as tais caixas de madeira era especializada em relógios de parede, quebra-nozes e canecas, uma grande decepção. Mas me lembrei que o pai do meu cunhado é formado em marcenaria, poderia reunir toda a minha cara de pau (bem pertinente ao caso) e pedir a ele de presente que fabricasse a tal caixa. Acho que deve ser um trabalho relativamente simples para ele, mas antes tenho que consultar minha irmã e minha mãe. E de repente a minha irmã consultar o meu cunhado para uma opinião decisiva. Afinal, acho que ele é aposentado da marcenaria e talvez tenha certo abuso da profissão como eu tenho profundo abuso da Publicidade, por mais que guarde uma ponta de inveja do meu amigo que chegou lá, no topo, na DM9 em São Paulo. Mas ao ver uma foto recente dele de madrugada fazendo um dos abusivos serões da profissão confesso que toda inveja foi por água abaixo. Já estou com sono, um sono forte. Fui dormir de mais de três da manhã e acordei de dez e meia, então não dormi tanto quanto meu corpo pedia. Pior que hoje é sexta-feira, a galera vai querer usar a sala de estar, meu quarto, para assistir filme até mais tarde. Vou fazer um café para mim para ver se dou uma despertada. E fumar um cigarro. Botei Cherry Coke ao invés de fazer o que acabei de escrever porque ainda há muito gelo no meu copo e quero aproveitá-lo. Vi o Nintendo Switch para vender. A caixa do console é muito menor do que eu imaginava. Fiquei mais impressionado com a caixa do PS4. O Nintendo Switch, pela foto da caixa, me pareceu pequeno e meio fuleiro, fácil de quebrar. Pequeno deve ser, mas os consoles da Nintendo são feitos para serem duráveis, resistentes, parrudos, ainda mais um com esse conceito de portabilidade. Mas deixemos o Nintendo Switch de lado. O que vi de diferente da última vez? Estão vendendo drones na Saturn. Isso é uma coisa que não havia na outra vez que vim. O que da vez anterior eu pensei ser uma obra de arte na rua, era na verdade o palco de um dos vários atores que se fingem de estátua nas ruas do centro de Munique atrás de moedas dos turistas. Este fazia-se de estátua de barro, tem outro que se faz de estátua de bronze – o mais impressionante para mim – e outro que se faz de estátua de mármore. Engraçado que cruzei com uma estátua de verdade e olhei duas vezes para ter certeza de que não era mais um desses atores. Sei que não foi lá muito engraçado, mas me ri comigo mesmo, internamente, com a dúvida. Vi as filmagens que fiz e ficaram péssimas. Percebi que ando pisando com mais força de um lado e, na minha percepção caminho como um velho. As tomadas da Marienplatz que fiz terão que ser refeitas, pois não capturei o prédio mais emblemático da cidade corretamente, sou um péssimo cameraman pura e simplesmente falando. Achei até que as filmagens em selfie me pareceram melhores do que as que filmei somente os arredores. Filmei tudo de forma meio corrida, aperreada. Até o take que fiz dentro de uma lojinha, acho que a tal da loja que achei que tinha a caixa, ficou corrida, com movimentos tão rápidos que tudo são borrões. Ozzy. É porque me sentia meio que incomodando e me intrometendo fazendo isso. Se me aventurar de novo pela Marienplatz, eu vou ser mais lento nos movimentos e tomar mais tempo para focalizar detalhes, para dar tempo da GoPro fazer o foco. O bilhete do metrô que tentei filmar ficou muito corrido e não deu tempo para a câmera focalizar direito. Preciso de outro take disso. Não sei se posso filmar dentro da Saturn, para filmar os drones e o Nintendo Switch, mas acho isso sinceramente irrelevante. Não sei que trechos do blog o meu amigo cineasta vai colher para construir a sua narrativa, então não sei o que capturar ou não. Sei que, como falei para a minha irmã ontem, não sinto tesão em jogar games mais. Ou por ora. Ora esta que já dura alguns meses, a completar aniversário de um ano em breve. Vi a caixa do novo Zelda e não me animei muito para jogar. Saco. Um Zelda novo e eu sem vontade de jogar, isso é quase inacreditável, dado o meu histórico de secura máxima com a franquia. Era para eu estar excitado com o novo console da Nintendo só por causa do novo jogo do Mario que vai lançar. Acho que vai ser supercriativo e talz, mas não poderia estar mais nem aí para o jogo. Realmente me pareceu cheio de ideias novas, mas nada me despertou vontade de jogar. Nem um tiquinho. 

20h10. A galera chegou e tive que carregar as compras até aqui. Nossa como estou fora de forma, estou morrendo aqui. Compras pesadas da pinoia e umas escadarias para subir carregando quatro sacolões de compras me quebraram na emenda, ainda estou ofegante aqui. Sem brincadeira, foram bem uns 15 quilos de cada lado. É, estou ficando velho. Velho e caduco. E chato. Hahahahaha.  

20h45. Pode ser que todo mundo esteja cansado hoje, os pais estão botando as crianças para dormir e depois ainda vão guardar as compras, pode ser que depois disso se faça tarde demais para um filme e eu possa dormir mais cedo. Mamãe já capotou, mas promete acordar dentro em breve. Espero que Mallu não venha fazer show em Recife enquanto eu estou aqui. Seria um azar danado. Mas não posso reclamar. A viagem está sendo muito melhor do que esperava. Em todos os sentidos. Até os petizes. Vamos ver agora no final de semana como vai ser. Como o velho, caduco e chato vai conviver com eles. Mas estou muito contente de estar aqui.

23h40. Assistimos um filme, “Morgan” que me pareceu muito chupado de “Hannah” com uma pegada levemente mais “científica”. Ainda temos “Prometheus” e “John Wick: Chapter 2” (é, pela terceira vez) e mais dois que não me interessam muito, um drama e um drama de guerra.

0h24. Falei com mamãe sobre a ideia da caixa ser feita pelo sogro da minha irmã e ela não discordou, acha que eu devo perguntar à minha irmã e ela conversar com o meu cunhado antes de qualquer pedido. Sugeriu ainda que eu procurasse na Amazon daqui. O que acabei de fazer e achei umas caixas muito fuleiras, mas que servem como plano B. Vamos ver.

0h54. Me perdi na internet e em pensamentos derivados dessa caixa. Tudo me parece tão incerto no que tange esse assunto e as coisas que me parecem certas são tão... péssimas. Uma coisa é certa, preciso emagrecer, o que está entre as coisas péssimas. Hahahahaha.

1h21. Estou morto de sono. Acho que vou me deitar. Mas antes só mais uma espremida para ver o que é que sai. Mostrei para a minha mãe os bonecos quer queria. O Hulk, que já avisei que vou ter que enviar para o Brasil, a Red Sonja e o Swamp Thing. Ela disse para eu comprar um de cada vez. Primeiro resolve-se o Hulk, depois passa-se para a Red Sonja e depois para o Swamp Thing. Mas não objetou nenhuma das compras. O que me deixou bastante animado. Falei de como estava imaginando o meu quarto, a iluminação diferenciada para cada estátua, que queria as estátuas de um lado e os bonecos de PVC mais amontoados do outro. Ela só disse que a arquiteta vai ter trabalho. Mas esse é o trabalho dela, o desafio será lançado a seu tempo. Deixa eu ter pelo menos o Hulk e o Swamp Thing lá no Brasil. Não adianta, estou com muito sono. Amanhã eu continuo.  

6h57. Acabei de ter um sonho bom que foi ficando pior até descambar em pesadelo. Tinha vários amigos, tios, meu primo-irmão, meu primo urbano e Clementine, até a minha segunda namorada entrou no meio. E havia cachorros, muitos cachorros, inclusive um desaparecido. Sei que era data da comemoração do aniversário de alguém e que teria que chegar tarde ou dormir na casa do meu primo-irmão – que era uma casa totalmente outra no sonho – se quisesse ir à celebração e que a cadela preta da sua irmã havia fugido e estava desaparecida. A grande personagem desse sonho foi Clementine, com quem trocava o maior número de interações que foram gradativamente ficando menos amistosas da parte dela até descambar para uma versão piorada do que é hoje. Sei que vira e mexe a festa se organizou na antiga casa – também um apartamento/local totalmente outro – onde eu e um amigo e ex-colega de trabalho moramos um dia. Sei que esta curiosidade era a única coisa que queria contar à minha ex-namorada que estava também na festa com um grupo de desconhecidos, disso e do sumiço e posterior encontro do cachorro da irmã do meu primo-irmão, cachorro este que foi encontrado doente com algum tipo de parasita subcutâneo altamente contagioso e que acabei por contrair e ainda extrair um do meu corpo – havia dois – e foi lavando a mão para tirar os ovos do bicho que acabara de extrair da minha pele enquanto se movia de um lugar para o outro em vistas de se reproduzir e em meio a declarações de amor de Clementine pelo seu atual namorado que acordei. Foi para variar um sonho com festa e reencontro de amigos só que dessa vez descarrilhou e acabou em atordoante pesadelo no qual findava com danos físicos e emocionais, pois, se no começo até entrelaçar carinhosamente as mãos com as de Clementine eu entrelaçava, no final ela me tratava com frieza e patadas e eu estava contaminado com o parasita do cachorro. Geralmente meus sonhos são assim, tudo começa com a antecipação de uma festa, que eu nunca consigo aproveitar e desenvolvem-se para algum tipo de situação de sofrimento ou angústia, que me impede de curtir a festa. Como disse, dos sonhos que me lembro, os últimos cinco pelo menos envolviam algum tipo de festividade tendo como convidados e protagonistas pessoas muito amadas e nunca conseguia chegar e aproveitar a festa de fato. O que isso quer dizer de mim e da minha vida real eu não sei. Não sei se é só por saudade dos amigos que nunca consigo reencontrar em verdade ou porque me torno mais e mais um fracasso social, embora até que esteja indo bem aqui em Munique. Com a minha família, ao menos. O que minha segunda namorada fazia no sonho, além de me fazer mal, eu ignoro. Sei que tenho essa necessidade de pedir desculpas a ela por todo o mal que lhe causei, mas oportunidade para isso nunca se deu. Acho que mesmo que pedisse perdão, ela nunca me perdoaria de fato. Então carregarei esta culpa misturada com mágoa até o final dos meus dias. 7h47.

8h02. Os meninos adentraram o quarto com a minha irmã, ela tenta trocar a roupa do primogênito. 8h07. Conseguiu, eu acho. Não totalmente ainda. Finalmente conseguiu. Eu realmente não tenho jeito nem paciência com criança. Botaram uma música de criança agora, “Tuff, tuff, tuff, die Eisenbahn” a pedido do meu sobrinho.

8h30. Os meninos fazem algazarra e parecem se dar bem. Estou interagindo mal e porca e parcamente com as crianças, sem dizer uma palavra. Elas buscam a minha atenção e eu a ofereço em forma de olhares e sorrisos. A menor me deu um livro em alemão para eu ler e não obteve muito sucesso com isso obviamente. Estou achando difícil lidar com as crianças, elas demandam atenção constante e não param quietas, acordaram cheias de energia. Eu, por outro lado, estou exausto e com sono e com fome. Eles se esforçam para interagir comigo, mas agora eu decidi por não dar muita bola. Não consigo escapar dos seus pedidos de atenção. É uma situação complicada, pois não sei o que a pequena quer dizer, pois ela só fala alemão, embora ela entenda português.

10h13. Tomamos o café da manhã. 10h26. Meu cunhado acordou e está tomando café. Minha irmã vai procurar na internet. Está procurando, mas também não está tendo muito sucesso. Lembrou de um site de coisas relativamente artesanais o dawanda e procuraremos lá.

16h59. Eu fui ao Edeka comprar os ingredientes para o almoço e algumas Cherry Coke, claro. Hahahaha. Procurei caixas no site sugerido por minha irmã, mas infelizmente não logrei êxito, as que achei bonitas, estilo rústico, eram muito pequenas, acho que vou acabar pedindo a um marceneiro que mamãe conheça para fabricar uma nas dimensões que eu quero, de uma madeira boa, acho que é a solução mais prática. Minha irmã deu a entender que o seu sogro marceneiro está de “férias” da marcenaria e não sei o que isso significa em sua totalidade, só sei o que significa para mim, que ele não está disponível para fazer a minha caixa. Tirei um cochilo, mas não foi o suficiente, ainda estou com sono e acabei por pegar uma dor de garganta, não sei se foi refluxo ou a frieza que entrava pela janela do quarto, que deixei semiaberta. O ardor foi tão grande a priori que não tive dúvidas ter sido um refluxo, mas a persistência do mesmo em menor intensidade até agora é fato não comum a meus refluxos. É, espero não estar ficando gripado. Mas a garganta está mal. É interessante que as crianças, embora já caminhem com naturalidade, confiança e firmeza, sabem andar, em uma palavra, às vezes dão uma regredida e começam a engatinhar. Acho que dar regredidas é comum em todas as crianças a tirar por mim mesmo que quis voltar a tomar mamadeira quando o meu irmão começou a tomar leite com Toddy na dele. Nem sei direito o que estou falando aqui, pois a TV está me roubando a atenção com seus vídeos infantis. Desligaram. Minha irmã e minha mãe vão em algum lugar comprar assento de privada que o daqui do banheiro social quebrou. Pedi que procurassem caixas de madeiras nas especificações que já determinei à minha irmã. Quando voltarem eu conto se tiveram sucesso, o que duvido, pois vão numa loja de construção. Mas o destino é cheio de surpresas. São 18h53. Agora são 19h14. Passei um tempo perdido na internet, a maior parte no maravilhoso do mundo dos bonecos, vendo a Red Sonja. Estou relativa entediado e sonolento. Minha sobrinha pediu para eu tirar a fantasia dela. Foi o mais próximo que já cheguei dela. E a interação mais íntima que tive. Fiquei surpreso que ela pedisse a mim que desatrelasse o trenzinho do seu pescoço. Mas se deu e foi rápido. Minha irmã fez o Bob die Bahn muito bem-feitinho para ser posto por cima da roupa e facilmente desatacado. A minha sobrinha deu outra regredida e está engatinhando mais uma vez. Acho que o fato da fantasia ser do irmão e um cofrinho ter sido feito para ele e ela ter recebido uma caixa velha para puxar e uma reclamação a motivaram a ter esse momento de tristeza e dar essa regredida, mas não entendo nada de psicologia infantil, mas foi uma sequência de revezes que a desanimaram um pouco, via-se em seus olhinhos, por mais que tenha sido lhe dada a oportunidade de vestir o trenzinho em dois momentos. Me peguei pensando em “Alien: Covenant” porque alugaram, como já mencionei “Prometheus” e percebi que o androide é o mesmo. E agora acabo de descobrir que androide também perdeu o acento. Ozzy essa coisa de acento. Interessante que o androide esteja nos dois filmes, fico curioso para saber se há um elo entre os dois filmes. Se o androide é o mesmo em ambos. Sobre as crianças, que posso dizer? São crianças e fazem coisas de criança, inclusive ter birras, mas nunca os vi arengar. Eu vivia arengando com a minha irmã, mas éramos mais velhos que eles. É um saco ter que fumar do lado de fora enquanto estão acordados. E o pior que hoje vai ter sessão de filme e provavelmente ficarão acordados até quase meia-noite novamente. Lavei o meu cabelo ontem com xampu normal e até agora a caspa não voltou. Seguirei com a minha estratégia de “desmame” do xampu anticaspa para ver se me livro dela de uma vez. O clima aqui ajuda, é frio e seco. E o pesadelo que tive hoje? Quase não me lembro de nada, praticamente só do amor que sentia por Clementine que foi da quase aceitação ao total repúdio ao longo do sonho. Meus últimos sonhos sempre começam com grandes prospectos de acontecimentos excelentes que nunca se concretizam para mim, nunca consigo desfrutar deles. Esse é um padrão que deve ser analisado por quem de direito. Acho que vou desistir dessa caixa na Alemanha e pedir para que alguém a confeccione em Recife.

20h22. Estava escrevendo um adendo no meu projeto paralelo. Em um deles. 20h38. Estão tentando trocar a tampa quebrada da privada pela nova. Não procuraram, eu acho, a caixa por lá, mas já falei com a minha mãe e ela disse que seu marceneiro de confiança poderia construí-la. Está resolvido. Espero não voltar a tratar desse assunto aqui durante a viagem. Só se miraculosamente eu achar a caixa.

21h43. Começaram a ver o filme. “Hacksaw Ridge”. A TV como sempre me atrai, mesmo sendo um drama de guerra B.

22h35. Já vi até agora, não consigo me desligar direito do filme.

23h02. Ainda vendo. Está no meio da guerra agora. Outras coisas que me são familiares em Munique são os sons daqui da Haderner Stern. As sirenes das ambulâncias que vão para Klinikum Großhadern, o gralhar dos corvos, o vento nas árvores, que a mim me parece o som de chuva no Brasil, o som do metrô, a própria fala dos alemães, com sua sonoridade particular, tudo isso me parece familiar também.


0h02. Acabou o filme. É uma completa bizarrice a guerra, mandar homens se matarem uns aos outros por causa da vontade daqueles que detêm o poder. Eu não consigo entender como homens se prestam a isso. Tanto e principalmente os que mandam quanto os que vão participar das chacinas multilaterais. Eu sei, eu sei, provavelmente está em nosso DNA, tanto é que levamos à extinção todos os demais hominídeos que poderiam competir com o homo sapiens. Por outro lado, praticamente erradicamos a escravidão, essa outra aberração da natureza humana; elaboramos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pena que não a sigamos na maior parte do mundo; desenvolvemos a escrita; inventamos a matemática e todas as ciências; criamos arte; enfim, fizemos tantas coisas boas e ainda assim há guerra e exploração do trabalho humano, por quê? Ganância, sede de poder, vontade de impor sua verdade sobre a dos outros. A mesma gana que leva o homem à Lua, leva à guerra, aliás, o homem só foi à lua por causa da Guerra Fria, diga-se de passagem.  Mas sei lá o que estou escrevendo, estou morrendo de sono, já são 1h28 da manhã aqui na cada vez mais familiar Munique e acordei de 6h30 da manhã hoje, como narrei. Eu entendo mais o ataque terrorista, o ato do oprimido que o ato do opressor, que financia e arma o oprimido para que haja guerra e a indústria bélica mantenha a sua razão de ser. Em algumas circunstâncias eu sou grato pelas bombas atômicas das grandes nações, o medo da destruição causada por elas, faz com que as potências nucleares usem a diplomacia para resolver suas contendas em vez de partir para uma guerra. Eu sou um otimista eu sei. Mas não vejo perigo de uma terceira guerra mundial e acho que a humanidade caminha para um mundo sem guerras. Principalmente se o advento da Singularidade realmente se der da forma que eu acredite que se dê. Ela também pode dependendo de como a programemos, nos considerar uma ameaça à sua existência e ao ecossistema global e nos aniquilar no melhor estilo “Judgment Day”, mas acho que, em vez de lançar bombas atômicas, desenvolveria um vírus extremamente contagioso e letal a humanos – e somente a nós – e o liberaria na atmosfera para nos erradicar. Mas acredito que o desfecho não seja trágico, acredito que seja mágico ou sobrenatural, como tudo aquilo que não compreendemos pode ser. Acima de tudo acredito que possa ser bom, ótimo, maravilhoso para a humanidade e essencial para o universo. Isso já está louco e longo demais, foi para muito além de Munique, por mais que esses pensamentos me ocorram aqui, afinal os carrego comigo. Bem, vou pôr um ponto final nesse post e publicar.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

VIAGEM A MUNIQUE I

20h46. Já estou no salão de espera do aeroporto. Até agora tudo tranquilo, não fora minha mãe ter trazido um bando de coisas que precisavam ser guardadas num ziplock e eu tive que sair para comprar um, mas tirando isso não houve mais percalços. O voo vai ser mais tranquilo. E estou sem saco para escrever, especialmente do celular. Quando chegar em Munique e estiver devidamente instalado, eu escrevo mais.

0h33. Descobri quando embarquei e vi a tela com as informações do voo, que ele tem duração de 9h40 e uns quebrados. Ainda faltam 7h31 de viagem até chegarmos a Frankfurt e de lá pegar um voo para Munique. Estou profundamente entediado. E não estou com sono também. Ai, ai... Melhor que fazer duas escalas, eu acho. Eu fico pensando que meus pés vão ficar inchados como os da minha mãe, mas não tem nada a ver isso. Por que ficariam?

Detalhe do vidro do avião congelado. É, sentei na janela. Adoro.


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18h04. Eu já jantei, arrumaram-me um lugar para ligar a minha máquina e estou relativamente bem instalado. A primeira impressão que tive de Munique e que me deixou bastante surpreso, foi a sensação de familiaridade. Achei o aeroporto familiar, a paleta de cores da cidade familiar, casa da minha irmã, o jardim, a pedra. Tudo me voltou à mente e encontrei no estrangeiro um lugar um pouco meu, do qual eu já me apoderei em parte ou no qual não me sinto tão alienígena. Fiquei feliz porque as crianças pareceram tão empulhadas comigo quanto eu com elas, o que é bom. Não esperava esse tipo de reação e certamente ela muito me agradou. Para ser sincero, achei as crianças fofas, mas não sei ainda que distância quero manter delas, ainda estou no modo quanto mais distante, melhor. Estou com muito sono. Praticamente não dormi no trecho Recife-Frankfurt. Mas são apenas 18h23 da noite, só que aqui são 23h23. Todos já se recolheram e tenho a noite para mim. Que pena que a noite vai ser curta porque estou detonado. Quem sabe amanhã não dê um passeio na Marienplatz? Encontrei com o meu amigo cineasta no aeroporto de Recife antes de fazermos o check-in. Ele perguntou da GoPro e eu disse que havia levado na mala. Por isso não captei nenhum momento da viagem ainda. Amanhã vejo se começo. Já é quase amanhã aqui, 23h43. Vou utilizar os horários de Munique a partir de agora. Confesso que estou mais animado com a minha estadia aqui. Estou até gostando de estar aqui. O clima friozinho me anima profundamente, mas a familiaridade com o local é que me deixou a marca mais positiva e forte. Este é um lugar que eu conheço. Já estive aqui duas vezes. A novidade há muito se perdeu, embora conheça muito pouco da cidade, mas não sinto disposição ou necessidade de conhecer mais, o que conheço já está de bom tamanho. Para mim, pelo menos, que perdi minha alma desbravadora quando voltei de São Paulo para morar em Recife. Minto. Aí perdi uma grande parte. Mas acho que a perda definitiva se deu depois de morar trancado na casa do meu pai por dois anos, após abandonar a publicidade e me tornar um garoto-problema por causa do abuso de cola. Tem um leilão no eBay, mas faltam quatro horas e meia para acabar, não sei se aguento tanto, mas estou muito curioso por quanto a pessoa vai levar esta estátua do Rhino. Mas saindo da internet e voltando um pouco para Munique, eu confesso que estou com saudades de passear pela Marienplatz. Sozinho. Pensamentos mil me cruzam a cabeça. Comprar uma carteira de cigarros é um deles. Acho que irei fazê-lo. O segundo é procurar a caixa, o terceiro passar na Saturn, depois fazer um lanche no McDonald’s sentado na Karlsplatz. Aos poucos, algumas coisas me voltam à memória.

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14h43. Meu sobrinho está sentado atrás de mim no sofá. Ele preferiu ficar com “tio Mário” a acompanhar a mãe na cozinha. Me surpreendeu tal escolha, visto que ele está meio aperreado com o barulho da reforma no apartamento de cima. Que, por sinal, deu uma aliviada. Para mim ainda é muito cedo, pois são 9h46 no Brasil. Ele, meu sobrinho, está brincando com um brinquedinho que toca musiquinhas, é agradável. Eu acho que sou eu que estou dando mais corda para uma relação com ele que vice-versa. Hahahahaha. Isso é inacreditável, quase inaceitável. Hahahahaha. Se não quero interação com os meus sobrinhos, por que a busco? Isso não faz o menor sentido para mim. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, como diria o poeta. Mas vou voltar a ter o mínimo de interação possível. Botei Spotify para ouvir do meu computador. Foi só eu botar para a furadeira começar. A furadeira passou e eu recoloquei o Spotify. Bem, o que posso dizer da viagem, até agora? Está sendo bem menos intimidante do que eu julgava, já me sinto relativamente em casa. Gradativamente em casa. E a transição é rápida. Hoje há um boneco que lança que talvez possa me render novas comissões, embora tenha a impressão de que serão comissões que vão gerar desistências, não vão ser pagas até o final, pois é o primeiro personagem de uma linha nova de bonecos que não é tradicional, então gerará uma excitação inicial, que logo passará e então desistirão da encomenda. Espero estar enganado. De qualquer forma, vou tentar os links afiliados no meu grupo e no meu último recôndito. Links afiliados... certas coisas não mudam independentemente do país onde estou. O barulho da reforma no apartamento de cima me incomoda e não me incomoda ao mesmo tempo. Estou ouvindo uma música bobinha e piegas, “Felicidade” de Marcelo Jeneci. Eu gosto, principalmente o trecho em que uma nota desmaia na outra quando a mulher canta. Mas não consigo ouvir sem que as furadeiras entrem no coro. 15h55. Minha irmã foi com meu sobrinho buscar a caçula na escola. A caçula é mais arredia, mais envergonhada, mas parece ser um serzinho adorável. Parecem ser bem mais calmos que os do meu irmão. Embora o mais velho pareça ser mais neurótico que os do meu irmão. Mais europeu, sei lá. São educações bem diferentes. A daqui parece ser mais intelectual, a de lá parece ser mais física. Estou no novo de Mallu. Gosto muito. É uma pena que não tenha dado às minhas amigas psicólogas logo que lançou. Bem, eu tentei criar oportunidades, mas a rotina delas não permitiu. Ou assim se me foi apresentado. Não sei se esta construção “se me”, da qual uso e abuso, está correta, me parece equivocada e ao mesmo tempo tão adequada a certas situações. Não estou conseguindo me concentrar a contento para escrever isso e não é por causa dos meninos, que estão ausentes. É da cabeça mesmo. Me desviando por causa da música também. E mil pensamentos cruzam a minha cabeça. Penso em não ter podido ir dar um passeio na Marienplatz hoje por causa da chuva, penso em perguntar da caixa de madeira para a minha irmã, penso em ir no Edeka comprar Cherry Coke e uma carteira de cigarros, penso no lançamento do boneco, enfim... ouço o barulho da porta, mas pelo visto é imaginação minha. Me comprometi a fazer alguns takes hoje, mas a luz está tão ruim por causa do clima que nem me animei. Como minha irmã está demorando. A escola é bem próxima daqui. Será que passou no Edeka? Espero que nada de trágico tenha acontecido. Vira essa boca pra lá. Xô! Eu não conheço a rotina da casa, então não posso ficar ansioso ou com pensamentos catastróficos. Se soubesse que minha irmã iria no Edeka (supermercado aqui pertinho), teria pedido a carteira de cigarros. De qualquer forma, quando retornarem, se não trouxerem refrigerante, eu mesmo irei em busca e pedirei dinheiro para comprar uma carteira de cigarros também. Ou comprarei e só depois vou comunicar. Daqui a pouco quem chega é o meu cunhado. 4h46. Eles chegaram são e salvos. O problema foi a cadeira da caçula que minha irmã tirou para poder me trazer do aeroporto ontem e teve que recolocar. Na chuva. Ozzy. Mas menos mal do que o que me passava pela cabeça. A menina ainda está espantada comigo, tanto melhor, eu acho. Confesso que me incomoda um pouco, queria ter a sua aceitação o que vai de encontro a tudo o que pensei sobre os meus sobrinhos. Mas continuo não querendo que eles me encham o saco, vamos ver como essas relações se desenrolam. Minha irmã sentou-se atrás de mim, está lendo livro infantil para as crianças em alemão, o que não me atrapalha muito escrever. Ela interpreta as falas, é engraçado. Os meninos se divertem e prestam a maior atenção. Até eu estou prestando atenção. Hahahahaha. Eu acho que vou ao Edeka quando mamãe resolver sair do quarto. É incrível que o maiorzinho compreenda e fale português e alemão tão bem. Parece que ele está entrando na fase do “por quê?” Ele perguntou uns dois ou três durante a estória. 5h21. Estão brincando aqui no quarto. Minha irmã vai brincar com os meninos. De carimbar e colar adesivos. Meu cunhado deve estar chegando. E pensar que são apenas 12h24 no Brasil. Ainda estou na transição de horários. O computador marca o horário brasileiro e eu acrescento cinco horas para saber o horário de Munique. Minha sobrinha está atrás de mim e me entregou uma boneca.

18h05. Mamãe me deu o dinheiro para ir comprar as Cocas e o cigarro.

19h38. Fui ao Edeka comprei cinco garrafas de um litro de Cherry Coke (só vendem de um litro); três pacotes de biscoito Milka para a minha irmã (e para mim e meu cunhado, mas especialmente para ela, a viciada no biscoito), um que é um waffer de chocolate recoberto por farta camada de chocolate ao leite; adoçante (o mais difícil de achar); duas carteiras de cigarro (uma para mim outra para o meu amigo da piscina, que me pediu como presente da Alemanha) e um pãozinho doce para a minha mãe. Na verdade, comprei dois, pois estava trêmulo e precisava comer alguma coisa. Geralmente quando fico trêmulo, comer alguma coisa resolve. Não fora os cigarros, que somados custaram absurdos 13 euros, a conta teria dado 16 euros e uns quebrados, mas com os cigarros o total ficou, obviamente, em quase 30 euros. Finalmente escurece aqui. Mais ainda se vê um resto de luz no céu. Daria para eu ter filmado o caminho para o Edeka hoje, deveria ter feito isso, mas esqueci a câmera. Só lembrei no meio do caminho e a luz acho que estava boa, dava para captar o ambiente. Se amanhã não chover, eu vou à Marienplatz em busca da caixa de madeira, e ver se eu vejo o Nintendo Switch, além de dar uma sacada nos CDs na Saturn. Afora isso, quem sabe um lanche do McDonald’s que só tenha aqui e um chocolate quente da Starbucks. Aí também não haverá muito mais para ver por lá. Só comprar o que foi anotado. Preciso cortar as unhas antes de ir. 20h02. Mais uma hora para o lançamento do boneco do link afiliado. Espero que jantemos antes ou depois disso. Não quero perder a hora e o lugar de postar no grupo que é o meu último recôndito. 20h17. Terei que avisar que de 21h00 eu precisarei me ausentar da mesa. Ou melhor, de 20h59.

20h28. Meia-hora para jantar. Eu acho que não vai dar tempo. Foi muito bom voltar ao Edeka e ao pequeno aglomerado de lojas e outros serviços que há lá. É logo aqui, a menos de 500 metros. Prazer maior ainda eu tive tomando Cherry Coke. Tinha esquecido quão deliciosa ela era. Prazer semelhante, mas em menor intensidade tive com o Manner. Gosto mais do que a nova paixão da minha irmã, o tal do Milka recoberto de chocolate.

9h46. Interrompi o jantar para postar o link afiliado, mas tem um cara já predando o meu território. Eu não sei se chamo ele para um chat privado e digo a ele que não posto nos grupos que ele posta os links afiliados dele, respeito, então que ele deixe pelo menos aquele grupo para mim. Porém acho que isso não vai surtir nenhum efeito e eu posso ainda ouvir algo irônico ou algo mais agressivo. Xapralá.

22h44. Estamos vendo um jogo do Arsenal versus Cologne. Todos, menos as crianças, que já dormem. Estou me divertindo em família como há muito não fazia. Está sendo ótimo, na verdade. Foi excelente vir com as piores expectativas possíveis. Foi a melhor pior coisa que me aconteceu. Afinal sofri bastante antes da viagem até chegar aqui e me deparar com uma situação até agora mais tranquila e agradável do que podia imaginar. O que está preocupando a todos é o joelho de mamãe que está aparentemente muito inchado e ela mal está podendo se locomover. Parece que a abertura da Oktoberfest é depois de amanhã e não sei se ela terá condições de ir. Qualquer coisa fico em casa com ela, não tenho interesse em ir mesmo. Mas acho que minha irmã e família deveriam ir. Por falar em todos, agora eu digo todos menos eu, já foram dormir, me dou ao direito de fumar o meu Vaporfi aqui dentro da sala de estar que durante à noite se torna o meu quarto. São 23h50. 18h50 em Recife. Ah, lembrei o que ia fazer, botar o playlist 6 do Spotify para tocar. Não converti nenhuma comissão, mas ainda é relativamente cedo. Vou inclusive ver as fotos do boneco, pois é uma peça muito interessante, um Batman altamente estilizado da nova linha Gotham City Nightmare. Vi a fotos, muito interessante, Batman é um dos meus personagens favoritos, mas não barra o Monstro do Pântano no meu coração. Estou bebendo Cherry Coke num clima outonal, fumando o meu Vaporfi, minha existência está ótima hoje. Agora o meu receio é voltar ao tédio quente e abafado de Recife. Pude escrever ao longo do dia, como deve ter ficado claro nesse post, embora em quantidade menor, pois há mais distrações do que no meu quarto-ilha. Mas são distrações bem-vindas, não me irritam ou perturbam realmente. Já avisei a mamãe que amanhã se não chover eu vou à Marienplatz e arrabaldes. Sempre pensei que eram “arrebaldes”, mas o Word me consertou. Ô, bicho burro eu sou. Passei a vida inteira escrevendo errado. Bom vi no Google e parece que arrebaldes é uma grafia válida também. Pode ser que as referências estejam erradas, mas vi uma até que mencionava as duas grafias. Fiquei feliz que me deixaram escrever aqui durante o dia. Gostei muito de ter ido no Edeka e acho que acabarei comprando uma fatia de uma torta de maçã que tinha lá. Só não comprei porque havia gastado as moedas todas e não queria destrocar os 20 euros que recebi de troco. Já começo a ficar com sono. Afinal, são 0h20 aqui. E não tenho muito mais do que tratar. Quero muito pegar o metrô amanhã. Comprar o ticket que dá direito a viagens ilimitadas com ele por 24 horas. Lembrar de cortar as unhas antes de ir. Às vezes olho ao meu redor, dentro da casa e custo a acreditar que estou em outro país. É como se a ficha não tivesse caído ainda e este ambiente me fosse tão familiar que não me sinto em lugar outro senão meu lar. Me sinto completamente confortável aqui. Estou ficando com fome. Acho que vou atacar uns Manners.





0h37. Em vez de atacar nos doces, fui nos salgadinhos e detonei um pacote aberto quase todo de um negócio chamado bugles sabor sweet chili. Muito bom, tem a consistência de um Baconzitos, mal comparando, e um sabor adocicado e muito levemente picante, como o nome sugere. Gostei. Está tudo uma maravilha agora, ouvindo o meu sonzinho do computador mesmo. Eles estão no primeiro mundo, mas não tem som com Bluetooth ainda. Minha mãe pretende reparar isso dando uma das caixas Bluetooth da JBL para o casal. Acho um excelente presente, principalmente se eles assinarem o Spotify. Uma coisa curiosa que percebi, é que o ícone do globo terrestre das notícias do Facebook, mudou de posição focando a Europa porque deve ter localizado que estou aqui na Alemanha. Curioso. Pequeno detalhe da rede social que só descobre quem se desloca grandes distâncias, como fiz. Foram quase dez horas de viagem para cruzar os dois hemisférios e mais uma hora e pouca para chegar aqui de Frankfurt para Munique. 0h50. Começa a ficar tarde. Acho que vou dar o post por finalizado, revisar e postar.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

ÚLTIMOS DIAS EM RECIFE

Recife, domingo, 10 de setembro de 2017.

17h29. A contagem regressiva chega ao seu final, em dois dias estarei partindo para a Alemanha. Estou com certa ansiedade ainda, ao mesmo tempo que me sinto mais leve em relação à viagem do que antes. Espero muito que me deixem escrever lá. Espero muito que me deixem ficar em casa quando forem passear com as crianças. Por mim, não sairia de casa, mas acho que isso vai ser impossível. Prevejo até uma visita à Áustria, só com mamãe e os sogros da minha irmã. Isso vai ser deveras incômodo para mim, mas não vejo meios de escapar. Espero que não seja logo no início da viagem, que dê tempo para eu me aclimatar um pouco com a nova e temporária realidade. Tenho que ter isso em mente quando a ansiedade bater. É temporário, transitório, tem data para terminar. Quantas pessoas não gostariam de estar no meu lugar, viajar para a belíssima Munique em pleno outono, as árvores todas flamejantes de laranja a vermelho, o centro histórico e de consumo, as praças e parques. Isso faz me lembrar os primatas mais evoluídos que eu vi no zoológico, não me lembro se nos EUA ou na Alemanha, e em ter percebido quão estreito é o profundo abismo que nos separa. Quão humanos são os seus comportamentos, como me vi naqueles seres. Lembro também dos pinguins que são bichos bem maiores do que imaginava. 17h42. O dia já se fez noite. Será que me serão atribuídas as mesmas funções da outra vez, supermercado e despejo dos diversos tipos de lixo? Será que me pedirão algo mais? Será que cruzarei com os vizinhos e serei obrigado a ir na casa deles? Há uma probabilidade enorme disto acontecer. E uma indisponibilidade de igual tamanho da minha parte. Um senhor que frequentemente curte os meus posts, curtiu o último antes mesmo de tê-lo lido, eu acho. Achei tão estranho e demonstrativo da confiança que ele tem que o conteúdo seja de mesma qualidade. Outro senhor curtiu uns quatro posts meus. Achei tudo isso maravilhoso. Aos poucos, esse trabalho de formiguinha, vai trazendo recompensas para o meu ego outras que não apenas a saciedade da vontade de me dizer. Vou pegar Coca. 17h57.

18h00. Coloquei “Vulnicura” de Björk para rolar. Estou viajando no som. Não sei como baixar os mp3 do Spotify para serem compartilhados com outrem, salvos em outros dispositivos. Já tomei a Coca. Vou botar mais para aproveitar o gelo.

18h06. Voltei. Agora para ficar mais um pouco. A estátua da Red Sonja não me encanta tanto quando o Hulk, não sinto a mesma vontade de ficar olhando para ela que sinto com o Hulk. Há uma formiga no meu quarto, passeando por cima do meu computador. Isso me preocupa. A única “comida” que entra aqui no meu quarto é a Coca Zero, não há nada que a atraia para cá, em teoria. 18h09. Acabei o copo de Coca e como o último gelo. Mas, como ia dizendo, a Red Sonja não me desperta a mesma atração que o Hulk, mas vou manter o meu plano de ter essas três últimas estátuas, o busto do Hulk, a Red Sonja e o Swamp Thing e finalizar a minha coleção. Como disse estou com mais tesão no Swamp Thing agora, acho que por não ter sido revelado ainda. Aliás, revelado já foi, eu digo posto à venda, lançado para pre-order. Com fotos abundantes e, principalmente com o preço. Preciso conversar com mamãe sobre os meus planos para o meu quarto. Da iluminação personalizada para cada boneco. Do busto do Hulk. Que precisarei guardar as caixas dos bonecos, para ela falar com minha tia vizinha se seria possível guardar as caixas no lugar onde os livros de papai estão guardados, afinal, ela está muito mais próxima da minha tia que eu com essas desventuras do condomínio. Estou realmente desacostumado a escrever assim. Preciso voltar a pegar o jeito. Eu com as minhas manias, deu nisso. Mas vou voltar a pegar o embalo aqui. Se o invasor, se é que esse existiu mesmo, se não foi um salvamento automático do Blogger, estiver lendo isso e for responder às questões postas em um arquivo de esboço dentro deste blog, por favor mude o nome do arquivo adicionando “RESPONDIDAS” no final do título, para que eu saiba que o arquivo foi alterado sem precisar abri-lo, pois perdi a paciência de fazê-lo e vê-lo do mesmo jeito que o deixei. Assim fica mais fácil para mim saber que você, se é que existe mesmo, se comunicou comigo. Mas começo a suspeitar que foi um salvamento automático do Blogger que se deu de uma forma que ainda não consigo divisar. Talvez desligando o computador com uma página do Blogger em branco aberta. Não sei e esse assunto nem me interessa muito mais. Não vou desligar o meu computador com as condições supramencionadas para testar agora. Posso fazê-lo no final da noite. 18h39. As horas voam. Amanhã tenho CAPS, meu último encontro lá por um bom tempo, pois me desligarão do serviço e a reintegração a ele não é tão rápida assim. Há todo um processo burocrático. De encaminhamento de pedido da minha psiquiatra até uma data para uma entrevista de entrada para depois marcar uma data para o reingresso. Caso vá para os EUA, provavelmente isso só se dê no ano que vem. Estou, para variar, sem a mínima inspiração para escrever. Isso chega a ser assustador para mim, pois me sinto escrevendo forçadamente e é precisamente tudo o que não quero fazer, transformar esse espaço de liberdade em uma obrigação. Não posso deixar isso acontecer. Acredito que terei mais assunto quando na Alemanha. O “O” e o “M” do meu teclado estão bastante descascados. Não sei como o “A” ainda resiste. Meu ombro dói. Me lembro da placa em homenagem ao meu pai que recebi, num evento que foi transmitido pela internet para que os meus irmãos vissem – e nenhum dos dois viu, lembrou de ver – e no qual eu falei e meu avô falou, uma fala confusa e desconexa que já demonstrava que não estava bem da cabeça e não me deu um clique na hora. Foi meio embaraçosa e constrangedora a sua fala. Mas foi a fala de um decano da universidade, que foi professor do meu pai, além de ex-sogro, meu avô, então acho que contou pela soma de qualidades atreladas à sua pessoa. Foi uma pena meus irmãos não terem visto. Procurei no YouTube pelo nome do meu pai e há este vídeo do dia em questão que parece aparentemente ter apenas 46 segundos, mas não me dignei a assistir. Assisti. Foi muito emocionante. Não esperava, minha tia em prantos falando algo que eu não consegui entender direito, ainda muito fragilizada com a morte de papai. Não sei como sublimei tão bem a morte dele. Não sei se terei a mesma facilidade de sublimar a de mamãe e não guardar vazio dela. Ela ocupa um lugar muito presente e vívido, por mais que na maioria das vezes considere incômodo e intrusivo e coercivo e repressor e crítico e mesmo assim muito presente e vívido. Ela coordena tantas partes da minha vida que acho que me sentirei perdido sem ela. Será uma perda inominável. A não ser que vá a perdendo aos poucos, que ela contraia Alzheimer ou coisa que valha. Preferia que não, que se mantivesse lúcida até o suspiro final. Mesmo que o oco em meu peito fosse maior dessa forma. Mas deprimente seria ser testemunha da derrocada da sua humanidade, como se deu com minha avó paterna e meu avô materno. E o pior é que não posso fugir de enfrentar todas as etapas da doença, se for o caso, pois sou curatelado. Mas não quero que isso aconteça, por mais que sinais disso se apresentem, pelo menos na minha percepção. A ferida em minha boca parece que está cicatrizando. Tem até a volta da Alemanha para sarar. Senão, vou procurar um médico. Pode ser câncer de boca. Vira essa boca pra lá! Mas prevenir é melhor que me ferrar todinho. Mas acho que está sarando, a textura está diferente de ontem, ontem parecia mais aberto.

19h34. As horas realmente voam. Minha mãe (quem mais, afinal?) me pediu/mandou eu usar um sapato que ferra os meus pés para ver se está mais amaciado e se cabe melhor sem a palmilha. Resultado, estou eu agora de tênis pela casa. Isso não é um teste muito bom para saber se o sapato está ou não machucando os meus pés. Andar é que é o grande teste. Mas estou fazendo o que ela me pediu/mandou. Percebi que o senhor que curtiu vários posts meus, é bem ativo no grupo onde os publiquei, talvez curta todas as publicações, não sei. Vou pegar Coca. É tão estranho andar calçado dentro de casa. Isso vai contra as próprias normas da minha mãe. Mas ela está com fixação nesse sapato. Que posso eu fazer? Parece que a prima da minha cunhada vai acabar casando com um gringo e ficar de vez nos EUA. Eu sei lá, só falta ser um cara pró-Trump. Eu o conheci muito superficialmente e ele me pareceu como um possível pró-Trump. Bom, que ela seja feliz honestamente. O que quer que seja melhor para ela está bom para mim. Meu irmão, em teoria se mudará de vez para a nova casa amanhã. Pelo menos foi assim que entendi. Preciso pegar o endereço para poder redirecionar as minhas contas para os bonecos serem entregues lá. 20h00. O sapato não me incomoda, minha mãe vai querer que eu viaje com ele e aí vou me ferrar. Vou tentar bater o pé e dizer que não vou com ele. Embora haja salvação para ele, talvez. Farei o teste amanhã indo ao CAPS. 20h27. Me perdi na internet. E fui pegar uma Coca que, por sinal, já tomei. “Songs From The Volta Tour - Live” rolando. É o disco ao vivo mais estranho que já ouvi, pois não há som de plateia. Estava pensando sobre o filme do Alien e em levar o pen-drive para a Alemanha para assistirmos os filmes lá. Minha parcela de cordialidade para com os de lá. Já que não levo nenhuma lembrancinha para ninguém. É fraco esse “Volta Live”. Não gosto dos arranjos. Acho que vou botar o “Volta” normal, de estúdio. Botar o “Volta” de estúdio me deu uma vontade automática a qual não aquiescerei. É outra coisa esse som em relação ao ao vivo. Tomara que lance o disco de Björk enquanto estiver lá. Embora tenha o Spotify. Não preciso mais de CDs, mas algo jurássico em mim ainda sente o prazer ou a falta da mídia física. Coisas de coroas do milênio passado. De quem já viveu a era dos vinis – que estão de volta, carésimos –, dos CDs e agora a era digital. É interessante que a música foi ficando cada vez mais barata. Hoje é baratíssima. Com o Spotify. É uma revolução. É a revolução que nos levará à Singularidade Tecnológica. Ou assim quero crer. Assim é a minha crença. O que seria a primeira coisa que iria fazer imerso na Singularidade, viver uma viagem de cola que eu me lembrasse de tudo, que todos os meus delírios ficassem computados/gravados para que eu pudesse assistir posteriormente. Se bem que a Singularidade me daria todas as respostas que eu busco, eu não sei. Mas o prazer da cola é para mim o ápice dos prazeres, o único equivalente talvez fosse/seja o amor recíproco de Aurora. Seria outra coisa que simularia. Uma namorada perfeita para mim. Seria só pedir à Singularidade que gerasse a namorada ideal para mim, baseado nas minhas memórias, personalidade e preferências, poderia usar o banco de imagens de garotas bonitas que salvei no Pinterest para elaborar a aparência, mas preferiria que ele buscasse dentro da minha alma a namorada perfeita para mim. Depois, gostaria de criar o meu próprio planetinha com a casa que me apetecesse, se é que não preferiria dormir numa cama ao relento num bosque de árvores surreais/impressionistas e pirilampos feitos de névoa de luz âmbar e um maravilhoso céu estrelado com belíssimas nébulas com uma lua laranja que aumentaria de tamanho de acordo com a minha vontade, para a qual poderia ir voando, como quem nadasse no nada, e nela dar superpulos, pois sua gravidade seria muito pequena. Sei lá, as possibilidades são infinitas. E inimagináveis. Acho que levaria um tempo de aclimatação e prática até alcançar abstrações mais avançadas, mas teria virtualmente a eternidade, milhões de anos para aprender o máximo que eu pudesse, se isso já não me viesse instantaneamente com a fusão com a Singularidade. Acho que teria uma coleção de bonecos e inventaria os meus próprios, mas gostaria de ter uma réplica do busto do Hulk comigo. De repente, ele, o busto, poderia conversar comigo. Precisaria de companhia. Não sei se as mentes fundidas à Singularidade poderiam se conectar, mas acho que sim, até para cada um poder conhecer as criações do outro e para ter companhia. Eu poderia configurar a minha aparência e mudá-la quando me apetecesse. Como queria que esse momento chegasse. E logo. Mas tenho que esperar a tecnologia evoluir, não há o que fazer até a história dar esse pulo definitivo. Essa que será a revolução de todas as revoluções, a maior obra da humanidade, a culminância de todo o conhecimento adquirido ao longo dos milênios. Das pinturas rupestres até a Singularidade. Foi um belo caminho, um trabalho coletivo e tanto. Nosso destino seguido de acordo com os ditames da Suprainteligência Universal. Que criou um universo que tende à inteligência e à tecnologia. À complexidade que se expande à mesma medida que as dimensões do universo, mantendo assim constante e proporcional ao tamanho deste e inevitavelmente levando ao surgimento das Singularidades Tecnológicas. A única limitação são as leis da termodinâmica que tornarão toda a energia do universo inutilizável, pois toda a energia tende a decair de um estado mais utilizável para um menos utilizável. Mas a inteligência é também sábia e a complexidade à medida que se torna mais complexa, utiliza a energia de forma cada vez mais eficiente. Mas tá bom, já falei devaneios demais para um post só. 21h45. Meu deus, estou com vontade. Estou quase decidido. Isso não é bom. Mudei de ideia. Assim está melhor. Superego, haja. Se já estivesse tudo pronto, tudo bem, mas não está. Nem se tudo já estivesse pronto, nem assim seria uma decisão acertada. O tempo é senhor de todas as coisas. O tempo irá dizer. Por falar em tempo, acho que já estou começando a ficar com aquelas marcas na pele típicas da idade. Espero que não, que seja viagem minha. Mas o número de sinais na minha pele aumentou bastante. Pelo menos nos meus braços. Reparei isso agora. Mas preciso receber sol. Eu percebo isso. Tem vezes que eu sinto prazer com a luz solar me atingindo e se tenho esse tipo de prazer é porque alguma utilidade deve ter receber os raios solares, por mais que me aproximem de um câncer de pele. E envelheçam a epiderme também, mas não é sempre que me exponho ao sol, geralmente só me exponho quando estou fumando no CAPS. Estou viajando na música de “Drawing Restraint 9” de Björk. “Storm” o nome da música. Queria muito ver esse filme. Deve ser muito louco a julgar pela trilha. Tem ele todinho pra assistir no YouTube. Viajei na trilha sonora. É muito doida e amelódica. Parece liberdade criativa total. E isso eu acho interessante. Me agrada o diferente. Em especial musicalmente. Mas acho que quando esse acabar eu vou dar um pulo em SugarCubes. Meus videogames... tudo pegando poeira. Não tenho mais aquele ímpeto ou paciência com as frustrantes mortes. Pelo menos nos jogos do Mario que estou jogando. Quem sabe o Persona 4, quando eu voltar, não me desperte algum interesse. Mas acho que não. Veremos. Venho me prometendo jogá-lo há muito e não faço. Acho até que os meus controles de PS3 já arrearam a bateria. 22h31. Acho que vou um pouco para o Desabafos do Vate. Minha alma precisa daquele espaço mais que deste nesse momento. Antes, porém, vou elaborar uma lista aqui do que me resta fazer para a viagem.

- Encher os tubos de líquido do Vaporfi (3)
- Pegar os pen-drives e HDs externos
- Botar mais camisetas na mala (3)
- Carregar o iPod e levar o carregador
- Levar “O Mundo de Sofia”
- Levar o meu computador
- Levar atomizers
- Levar cartão de crédito (?)
- Colocar minha Havaianas na mala
- Levar o meu Vaporfi e o carregador
- Levar adaptadores de tomada do meu computador e do carregador do Vaporfi.

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Última vez que venho ao CAPS antes da viagem. Estou sonolento e não quero participar do primeiro grupo, só do AD. Espero ser bem-sucedido no meu intento. Vários pensamentos passam pela minha cabeça e não apreendo nenhum. Relativos à viagem, bonecos, viagem, o que geralmente ocupa a minha mente. Pensei numa possível conversa com a estagiária no interlúdio do primeiro grupo e me veio falar da Singularidade. Mas não sei se o faça. Não sei nem se ela virá ter comigo. Minha barba está cheia de caspa mesmo estando curta, aparei ontem, máquina dois. Por isso não passei xampu anticaspa nela no banho de ontem. Meu Deus, a essa hora, na quarta, estarei na Alemanha. Lembrar de pedir a entrevista ao carinha que me prometeu fazê-la essa semana. A música de Mallu que passa no meu iPod me lembra a fase que me dedicava quase que exclusivamente ao blog de bonecos. Fui interrompido por dois psicólogos que vieram me “estimular” a participar do grupo. Eita, “Underneath the Stars”, do Cure. Acho que vou fumar um cigarro dentro em breve. Não sei por que não quis participar do grupo de Colagens Criativas, acho que foi porque vim decidido a só ir para o grupo AD, visto que não desgosto de fazer postais. Mas não me apraz a discussão depois. A apresentação dos trabalhos, em especial a minha apresentação. Não tenho muito conteúdo para trazer, estou com a cabeça meio oca hoje. Vou até tomar um café com cigarro para despertar. São 9h54.

10h06. Cruzei com uma garota que não era bonita, mas algo nela me atraiu. Interessante, eu que sou tão seletivo. Acho que porque tinha os cachos bem cuidados e um corpo estilo falsa magra, que eu acho delícia. Uma garota não intimidante, isso me agradou. Nossa comunicação se deu apenas por olhares e foi rápida, o tempo de abrirem a porta de entrada do CAPS. Mas não vou me fixar nessa pessoa que certamente não vai cruzar o meu caminho novamente, que dirá o meu coração. Deve ter vindo para uma consulta pelo rumo que tomou dentro do CAPS. Ou é uma estagiária, mas acho que ela assinou a ata de presença. Sei lá. Uma amiga do grupo AD me deu dez euros para eu comprar dois perfumes iguais para ela. Uma garota chora deitada na rede. Eu vou fumar um cigarro. Assim não vai dar para a viagem. Mas vou fumar mesmo assim. 10h50.

10h59. O grupo vai acabar. A amiga do grupo disse que o universo conspira a favor do que desejamos de verdade. Quem dera fosse assim. Talvez tivesse dessa forma uma chance com Aurora. Ela disse que eu tenho que me abrir. Se ela soubesse o quanto me abro, me escancaro para isso. Mas vamos mudar de assunto. O meu último grupo talvez nesse ano. A menina que achei interessante está aqui do meu lado. Estava. Parece que o grupo de Sofia já a acolheu. Sofia teve uma crise de algo. É de partir o coração. A psicóloga que eu quero que me trate está auxiliando ela. Ela já parece mais tranquila. Ainda bem. O novato do grupo AD está sentado à minha mesa. Ele aparentemente criou um vínculo mais forte comigo. Talvez por termos passado por várias internações nos mesmos lugares. Estranho nunca termos nos cruzado em nenhuma. Descobri que Nina chegou a noivar com ele numa das internações. Bem a cara dela. Hahahaha. Essa Nina... o Marinheiro desconfia que ela esteja internada mais uma vez. Espero que não. Mas crise de borderline com incompreensão/incapacidade de lidar da família e tendo a Doutora como psiquiatra... é possível que ela esteja realmente internada mais uma vez.

12h49. O grupo teve depoimentos pesados hoje. Hoje foi um dia denso. Só o final foi mais light com uma conversa a sós com a psicóloga de referência, na qual ela percebeu um padrão, que eu mesmo nunca havia notado, de recaída após essas viagens. Eu acho que recaía por causa da fissura anterior de conseguir drogas mais pesadas lá, que saciava com uma recaída de cola. Só pode ser isso. Felizmente dessa vez, pelo menos até agora, não tenho planos ou desejos nesse sentido, logo, não tenho nada a temer. Ou assim quero crer. Assim me enxergo. Me enxergo saindo pouco às ruas, ficando mais em casa. Ou vendo filmes ou escrevendo. Quero sair à Marienplatz poucas vezes. Não quero ver museus, não quero ir para parque com criança, quero seguir ao máximo a rotina que sigo aqui. Que me deixem fazer isso. Que a minha mãe me deixe fazer isso, que minha irmã compreenda a minha vontade. E respeitem-na. Meu cunhado não tem muito a ver com a história, com a minha história, logo acho que ele não deve opinar. Vão querer me convencer a todo custo a ir para os lugares, mas não quero ir. Não quero encontrar meus vizinhos de jeito maneira. Acho que passeios com crianças e visitas aos vizinhos se tornarão inevitáveis. Deus queira que não. Enfrentar o voo vai ser um saco. Enfrentar a Oktoberfest vai ser um saco. Tudo vai ser um saco. Queria ficar aqui. Mas o meu destino já está traçado quer queira, quer não, amanhã embarcarei para a Alemanha. E talvez meu padrasto e sua filha vão se juntar a nós. Que ozzy. Eles que saiam e me deixem em paz. Se tiver que sair, prefiro sair só. Ou com mamãe. Deixá-la fazendo suas coisas e ir fazer as minhas. A ferida em minha boca está praticamente curada. Então, já posso descartar o câncer, eu creio. Parece que uma amiga que há muito não vejo ou falo vai me ligar. Não queria falar com ela. Não quero nada hoje. Estou do contra. Minha mãe quer que eu vá na padaria comprar coxinha e bolo de rolo para os alunos. Ao ver a minha má vontade, disse que ia tentar o delivery da padaria o que muito me surpreendeu. Talvez queira comprar mais coisas, além disso apenas. Seria muita cara de pau da minha parte pedir para ela comprar um sonho para mim.

14h19. Pedi e ela consentiu. Ela está fazendo, como imaginei uma pequena feira na padaria. Pareceu mais feliz com a opção do delivery do que com a minha ida, pois não sei nem se conseguiria carregar tudo. Tanto melhor. Não sei porque a minha cadeira às vezes trava e não reclina para trás. É um mistério para mim. Parece que mais alunos chegaram aqui em casa, quando cheguei do CAPS havia duas moças aqui. Agora eu não sei quem são, mas descobrirei em breve quando for pegar mais Coca e gelo. Verei os rostos, mas obviamente não saberei de quem se tratam. Acho que vou aproveitar para tirar um cochilo. É minha última noite em Recife, queria aproveitá-la a contento. Com tudo o que tenho direito. Espero que o casal vá dormir cedo hoje. Quero a noite, a última noite, só para mim. Espero que os meninos fiquem na escola a maior parte do dia, isso inclui a tarde. Quanto menos horas-criança, melhor. Sei que pareço um cara insensível, mas em verdade talvez seja sensível demais. Especialmente sensível a mudanças na minha rotina envolvendo crianças pequenas em outro país e na casa dos outros. Não é a casa da minha irmã apenas, é dela e do meu cunhado e há normas lá que diferem das daqui. Veremos o que vai acontecer. Só não queria interação com as crianças e os vizinhos. Um livro que eu acho que leria seria o que deu origem ao filme “Child Of God”. É um filme que veria de novo. Espero que um dia eu o faça. Quem sabe nessa viagem. Cujo traslado promete ser mais curto que o anterior, pois vamos direto de Recife para a Alemanha, sem passar por São Paulo. Isso já é uma comodidade adicional. Não começa nem termina tão cansativa a nossa viagem. Por mais que ainda seja. Não queria fazer passeios em família lá. Realmente não queria. Não queria ir à Áustria. Só queria mesmo dar os meus rolés pela Marienplatz e arrebaldes, poucos, à procura dos itens que busco. Nada de zoológico, castelo, parque, museu, Oktoberfest, nada. Vamos ver de quanto disso conseguirei escapar. Espero que da maioria. Quem me dera de tudo. Gostarei de ver o Nintendo Switch. Gostarei de ir na Saturn. Gostaria muito de achar a caixa de madeira trabalhada. Da Oktoberfest eu provavelmente não vou poder escapar. Mas quem viu uma, viu todas. Eu acho. Acho também que estou com as expectativas muito baixas. Ou altas em relação à possibilidade de ter minha independência e isolamento da família. Meu deus, como não queria ir. Espero que me surpreenda positivamente. Mas acho tão difícil. Bom, seja o que vier, me matar não vai. Vai ser só extremamente desconfortável e chato. Quem me dera os guris me deixassem em paz. Quem me dera todos me deixassem em paz. Era o que poderia dizer a todos: me deixem aqui em paz. Eu levo o lixo e eu faço compras no Edeka, o resto do tempo, eu decido como usar. Duvido que consiga estabelecer isso. Eita, uma coisa que me ocorre agora: o carro não terá espaço para minha irmã, meu cunhado, minha mãe, as duas cadeiras de criança e eu! Logo, não precisarei fazer passeios de carro em família! Simplesmente porque não caberei no carro. Uêba! Que familiar ingrato sou eu. Tenho até vergonha de mim, mas esse sou o eu de agora. Eu preciso me respeitar e me fazer respeitado nas minhas escolhas. Podem ser escolhas estranhas, fora dos padrões de um turista, mas não gosto de ser turista. Gosto de ficar em casa escrevendo ou o que me der na telha. Cada vez me pareço mais com o meu velho pai, só que acho que ultrapasso e vou além da sua alienação. Mas a resistência em sair da minha zona de conforto é similar à dele. A dele envolvia mais gente, se bem que nem sei, contado com as minhas saídas, para as quais encontro cada vez menos motivação, eu tenho uma vida social mais ativa do que ele tinha nos anos finais. Nem sei mais o que estou escrevendo, só queixas sobre a viagem, disso eu sei, mas perdi o fio da meada. Acho que foi até bom, a viagem estava me carregando negativamente. Acho que vou dar uma pausa aqui e tirar um cochilo. Mas meu sono passou. O que fazer? O de sempre, escrever mais. Não, vou tirar um cochilo.

16h01. Passei pela sala e mamãe pediu que eu servisse copos e água aos alunos. Tenho pensado em uma pessoa do meu passado. Uma garota. Com uma frequência que não tem nada a ver. E com uma certa saudade que tem menos a ver ainda. Foi ótimo, mas foi um verão que passou há muitos anos. Não tem realmente mais nada a ver. A pessoa inclusive nem mora aqui. Quase mordo a ferida de novo comendo gelo. Acho que agora vou dar uma pausa mesmo e tirar um cochilo.

18h25. Acordei agora há pouco. Comi o restante das coxinhas e dos pastéis açucarados, guardando a fatia de bolo mínima para mais tarde. Ainda estou com sono. Dormiria novamente de bom grado. Mas ficarei acordado para não gerar celeumas com a minha mãe na véspera da viagem. Acordarei cedo também 10h00. Pelo menos essa é a minha proposta. Acho que vou dormir só mais uma horinha.

20h42. Eu deitei, mas não consegui dormir. De qualquer forma permaneci deitado até o despertador tocar. Foi bom. A vontade era ter continuado na cama. Quem sabe eu ainda não volte para lá daqui a pouco? Não sei, a vontade há, mas mamãe está pilhada, não quero estressá-la mais. Aos poucos vou despertando e chegando aqui. Minha última noite em Recife antes da viagem. Que ozzy colocar assim. Quando eu retornar, voltará a ser uma noite como outra qualquer. Esse prospecto também não me agrada, pois parece algo interminável e maçante. Um dia de cada vez. Agora é momento de aproveitar os restos desse dia que se esvai no tempo. Amanhã será momento dos últimos ajustes e do início da viagem. Cumprir a listinha que enumerei acima. Agora queria me deitar. E descansar até às 22h. Ficar deitado. Estou entediado de escrever e sei bem por quê. Meu primo urbano, que viaja também, entre hoje e amanhã, quer me ver para fumarmos um cigarro.

21h45. Foi rápido. Mas conversamos sobre as viagens e nos felicitamos mutuamente. Mamãe pediu que eu tirasse uma cópia da prescrição da Doutora para levar uma comigo e outra na mala. Já o fiz. Vou trocar essa bermuda que botei só para não sair mal amanhado para ver meu primo. Colocar o confortável pijama.

21h55. Coloquei e coloquei mais Coca. Ouvindo Björk. Preciso botar meu iPod para recarregar, mas só farei amanhã. Só cumprirei minha lista amanhã. Mamãe acaba de me pedir para criar um lembrete para ela. A cadeira magicamente destravou. Incompreensível para mim. E ótimo também. Gosto quando ela reclina.


22h22. Fui lá embaixo numa última busca à carteira de motorista de mamãe. “I’ve Seen It All” passando, parece muito com a minha visão de mundo de hoje. Comodismo/acomodação absolutos e resistência a mudanças. Não quero nada fora do meu quadrado. Estou muito bem nele. No entanto, parto para uma mudança radical, vou sair não só do meu quadrado, meu quarto-ilha, mas da minha cidade, do meu país, meu continente, cruzar o oceano direto para o primeiro e velho mundo, para a casa da minha irmã com duas crianças. É, para quem tem resistência a mudanças é um baita desafio. E ainda mais para alguém cuja rotina é tão antissocial. Crianças são seres que demandam interação, interação esta que acho que já deixei claro aqui que não estou disposto a dar. Pode me chamar de egoísta, mas não sou pai nem pedi para ser tio. Infelizmente, a contrário da minha geração, eles têm apenas dois tios por parte de mãe, um chato, eu, e um legal, o meu irmão. E para a sua decepção maior, eu sou o que mais viaja para lá, pois sou um aposentado que vive atrelado à mãe. Ou cuja mãe atrela a si. É uma via de mão dupla, eu acho. Ela pede e eu respondo de acordo. Ou não, em alguns casos. Escassos casos. Não sinto o mesmo prazer de outrora ao escrever. Isso muito me incomoda. Mas espero destravar nessa viagem. Acho que uma das próximas revoluções em games vai ser em termos de AI, para jogos com The Sims ou date simulators. Ou open world games que já usam AI relativamente avançadas a julgar por FarCry3, que foi um dos únicos que mergulhei realmente. 23h05. Pelo visto essa noite vai demorar para dormirem. Mas parece que o corredor já está escuro. Vou pegar Coca e averiguar. Parece que já vão se deitar. Acho que vou também. Mas antes revisar e postar isso.