sexta-feira, 13 de maio de 2016

BLOGANDO PARA NÃO FUMAR II

Vi B11:18. Tenho cinco cigarros apenas, por isso me volto de novo para cá. Esse brinquedo me é tão prazeroso quanto fumar. Vamos ver se consigo ficar sem cigarro até as 12:30.

Entreguei o texto que produzi para a psicóloga mor a mesma. Ela ficou de me dar um retorno. Hoje. Afinal, é sexta-feira e viajo na segunda, logo, hoje é o único dia que resta para essa conversa. Estou com muito sono e uma vontade enorme de fumar. O SwiftKey me sugeriu na frase anterior complementar "vontade enorme de" com "viver" em vez de "fumar". Confesso que seria uma frase válida também. Não estou com vontade de morte, por mais que o pensamento tenha me cruzado a mente nestes últimos dias, como atesta o texto que entreguei à psicóloga mor. Mas foi desejo passageiro de quem está com a mente muito focada e fechada em um único assunto. Agora, com a viagem mordendo os calcanhares, minha atenção se volta a isso, o que é uma boa distração do assunto que me assombra. Provavelmente a viagem vai me manter física e mentalmente distante do objeto da minha preocupação. Ou preocupações. 11:36. Que droga, só se passaram 18  minutos! E eu já estou sem assunto para escrever aqui. Ah, minha mãe me pegou vaporizando dentro do meu quarto ontem à noite novamente. Me senti culpado. Estou extremamente suscetível à culpa ultimamente. Isso não é bom. Ainda bem que essa viagem vem. Antes a encarava meio enviesado, mas agora começo a vê-la como algo bom. Que bom. Aliás, que ótimo, pois estou num nível de astral mais compatível do que estão esperando de mim.

11:47. Não tem mais café. Agora só na hora do almoço. O sono me consome. Estou até com dificuldades de escrever aqui, quase cochichando. Joguei em que punha café no lixo, pois o vento insistia em derrubá-lo e me cansei de ficar apanhando. Geralmente pego dois copos, um para água, outro para o café e fico os usando o dia todo para não desperdiçar. Mas minha paciência não está lá muito larga hoje e ficar catando copo de cinco em cinco minutos do chão não estava fazendo muito a minha cabeça, então me desfiz da porra do copo. Desculpa mamãe Natureza por esse pecado de seu filho. Pelo menos não estou fumando, vamos fazer de conta que uma coisa compensa a outra. Ou não; pouco se me dá. Paciência não é uma das virtudes mais fortes no meu caráter hoje. Sono e intolerância são mais a cara do meu atual estado de espírito. Estou mesmo virando um velho rabugento! Hahahaha.

12:00. Mais meia hora para fumar. Vou pegar mais água, na recepção agora, que é mais gelada. Esqueci de dizer mas, se não ficou subentendido, estou no CAPS. Pegar água.

O café chegou! Tive que pegar outro copo, Mamãe Natureza. O café vem tão quente que entorta a colher de plástico usada para mexer. E eu forço a colher ainda mais contra o copo para distorcê-la ainda mais. 12:12. Dezoito minutos para fumar. Se fosse para ser preciso, só poderia fumar às 12:48, mas não estou nem um pouco disposto a tal rigor nesse meu controle do tabagismo. Bem. Veremos. Quem aguenta até 12:30, aguenta até as 12:48. Estão servindo o almoço, cozido. Mas estou na Somaliana Leve e ontem almocei bem e ainda ataquei a geladeira na calada da noite.

Um dos amigos que estava limpo há mais de ano recaiu e não aparenta nenhuma preocupação com isso. Chega a ser estranho. É estranho como o comportamento, os maneirismos mudam por causa do uso. Será que eu apresentava tais sinais quando em uso? É provável que sim, afinal sou viciado como ele, devo apresentar sintomatologia semelhante, e mesmo que minha droga não seja o álcool.

12:26. Hawkmoon 269 do U2 no iPod. É a segunda ou terceira música do set list. 12:30. Vou segurar até as 12:48. Acabei de tomar um copo de suco de graviola, que delícia! Fazia muito tempo que não tomava. É um prazer que devo buscar com mais frequência. Pelo menos toda vez que surgir aqui no CAPS, pois lá em casa tá difícil. A não ser que compre polpa. Não. Polpa em casa tornaria este prazer muito frequente e, portanto, banal. Melhor aproveitar quando aparecer no CAPS. Assim seu prazer permanece sempre excitante como agora. 12:37. Eleven minutes to go. Preciso consertar os itálicos que sem querer coloquei e colocar os que por ignorância não coloquei. 12:40. Bem, o cigarro se aproxima. Me espanta a capacidade que tenho de escrever sobre absolutamente nada por uma hora e meia. Como é possível? Essa resposta é o que menos importa; o que realmente importa é que consigo fazer isso e, com isso, não fumar. Provavelmente águas ainda vão rolar debaixo da minha ponte aqui no CAPS. Espero por isso, pelo menos. Sobre o texto que escrevi ou pelo menos sobre se me receberão de volta normalmente após a viagem ou terei que dar uma nova e demorada entrada e começar do zero de novo. Do zero, não, pois nunca é do zero, não voltarei sendo quem fui no passado. Voltarei outro que não este, moldado pelas experiências diferenciadas que experimentarei num ciclo social ao mesmo tempo velho e novo, num país completamente novo para mim. 12:50. Já posso ir fumar e a psicóloga mor passou aqui para me dizer que podemos conversar. Hora de rolar a fumaça e as águas por debaixo da minha ponte. Inté.

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13:12. À espera da psicóloga mor, que está atendendo outra paciente. Acabou que descontei e fumei dois cigarros. Não me sinto por isso frustrado ou achando que o meu controle de uma hora e meia sem fumo foi uma perda de tempo. E parece que nos aeroportos americanos não há fumódromos. E acho que nem nos brasileiros. Tenho que me preparar para 24 horas sem fumar. Isso, sim, vai ser um desafio. Ainda mais sem esta ferramenta para me entreter, pois não levarei celular. Eu acho. Mas não quero levar anyway.

A conversa com a outra pessoa persiste. Já-já vou fumar outro cigarro. Por já-já, entenda-se já.

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A conversa me deixou muito mais relaxado do que poderia imaginar. Isso foi ótimo. E percebo agora que a viagem veio em boa hora. Agora tento ligar para mamãe para ela resolver um negócio imprescindível do banco hoje e ela não atende. Já são 14h56. Daqui a pouco não dá mais tempo. Mamãe é ozzy, viu? Vou tentar mais uma vez.

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